Paulo Rosado tem 53 anos e nasceu em Évora. Mesmo estando à frente de uma grande tecnológica, nos tempos livres gosta de “desenhar e pintar, criar caricaturas”, contam os colegas próximos. Formou-se em engenharia informática pela Universidade Nova e fez um mestrado em ciências informáticas na Universidade de Stanford, na Califórnia, mas antes disso, ainda passou pela Força Aérea. Em 2001, fundou a OutSystems em Portugal, depois de ter trabalhado na Oracle, uma das maiores tecnológicas do mundo.

17 anos passaram e aí está ele à frente do segundo unicórnio com ADN português, ao conseguir uma valorização de mais de mil milhões de dólares depois de a KKR e a Goldman Sachs terem investido na sua empresa. Ao Observador, Rui Pereira, co-fundador da OutSystems, explica a chave de sucesso do empreendedor: “O Paulo tem uma característica única, a de antecipar o futuro.”

Há um novo unicórnio de origem portuguesa, a Outsystems

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Paulo Rosado lidera uma empresa que tem milhares de clientes e mais de 800 trabalhadores em todo o mundo. Até ao final do ano, quer aumentar este número para mil funcionários. Mas nem sempre foi assim, como contou à Portugal Ventures. A empresa esteve duas vezes à beira da falência e, antes disso, ouviu investidores dizerem-lhe: “Nunca vais conseguir!”.

O Paulo tem sido o motor da visão da OutSystem. A empresa nasceu com a visão para continuar a resolver um problema da indústria: as empresas conseguirem-se transformar do ponto de vista digital. Teve capacidade de se rodear de uma equipa muito forte. Dá uma motivação muito forte, dá propósito e autonomia para todos os os que trabalham connosco”, conta Carlos Alves, um dos executivos da OutSystems que faz parte da empresa desde o início.

Como conta a Forbes Portugal na última edição de março (em que já previa que a OutSystems fosse o próximo unicórnio), o empreendedor estava numa sala de estudos na Califórnia quando pensou: “Não quero fazer isto para o resto da vida”. Ainda esteve nos Estados Unidos a trabalhar com a Oracle, em Silicon Valley, nos anos 90. Depois de dois anos a trabalhar na Oracle, decidiu voltar a Portugal para criar a sua primeira empresa.

Essa primeira aposta no mercado tecnológico chamava-se Intervento e “nunca entregava a tempo ou dentro do orçamento” os serviços informáticos que vendia, conta a revista. Foi então que começou a surgir a ideia para a OutSystems: serviços informáticos que não tornavam as empresas tão dependentes de programação informática para adaptarem os sistemas e, assim, o processo de criação passar a ser mais eficiente. Mesmo com uma ideia atualmente vencedora assumiu: “Chegámos 12 anos antes ao mercado”.

De uma garagem em Linda-a-Velha para um unicórnio mundial com dois riscos de falência pelo meio

Paulo Rosado passa “mais de 50% do tempo fora de Portugal”, explica Rui Pereira. Deste tempo, “cerca de 20/30% são nos EUA”, conta. O engenheiro informático pode ser o presidente executivo de uma empresa que tem forte presença internacional (em 2017, apenas 20% do negócio passava por Portugal), mas tudo começou onde ainda está um dos principais escritórios da empresa: Oeiras.

Mesmo com adversidades, não desistiu. Atualmente boa parte do tempo é vivido em Atlanta, nos Estados Unidos, mas a empresa foi fundada em Linda-a-Velha, onde ainda estão a maioria dos trabalhadores. “Começámos verdadeiramente numa garagem, e depois mudámos para uma moradia”, conta Rui Pereira sobre o início modesto da empresa que arrancou como uma típica startup. “No início fazíamos tudo os cinco”, conta ainda o executivo. A OutSystems, além de Paulo Rosado e Rui Pereira, teve mais três sócios (atualmente mantém-se três).

Nos 17 anos de existência, a OutSystems esteve não uma, mas duas vezes à beira da falência. Em 2001 a empresa que criou precisava um investimento de um milhão de euros até ao final do ano. À Portugal Ventures conta que só em outubro é que conseguiu o montante, mesmo antes de o mercado das “dotcom” (empresas ligas à Internet) cair.

A segunda vez em que esteve perto da falência foi no fim de 2002. A OutSystems tinha como maiores clientes as operadoras de telecomunicações (um dos maiores clientes era a Optimus). Contudo, no final desse ano, esse setor entrou em recessão. “No final de 2002, as empresas de telecomunicações deixaram de investir”, disse à Portugal Ventures. Foi nesse momento que a OutSystem criou o atual modelo de negócio porque percebeu que, com os produtos que vendia, os clientes conseguiam rapidamente criar programas informáticos. No final desse período teve um investimento de três milhões de euros que permitiu ultrapassar esta época mais conturbada.

Mesmo assim, a ascensão não foi meteórica após este investimento. Como explicou o presidente executivo ao mesmo meio, o negócio estava 12 anos à frente do tempo. No entanto, para o empreendedor existe um principio, como contou a na mesma entrevista: “Dar algo com valor ao consumidor que tenha dinheiro para pagar isso”.

Foi só em 2006 que começou a ascensão exponencial. De 2006 para 2008, duplicou as receitas da OutSystems, no entanto, até 2011 as receitas mantiveram-se estáveis. É só a partir desse ano que as receitas voltam ter um grande crescimento nas receitas.

Na altura, a solução passou por passar a disponibilizar serviços de subscrição dos serviços de informática que vende e, mesmo com o lucro a baixar bastante, com o tempo a decisão mostrou-se a correta. A OutSystems passou de uma faturação de 13 milhões de euros em 2011 para mais de 100 milhões de euros em 2017. Agora, depois de a Goldman Sachs e a KKR investirem cerca de 308 milhões de euros, tem uma valorização de mais de mil milhões de dólares.

Os objetivos para o futuro parecem promissores, mas tanto Rui Pereira como Carlos Alves assume que para o sucesso continuar uma coisa não pode falhar: “Tem de haver uma execução perfeita permitindo ajudar o que vamos observando no mercado”. No entanto, afirmam também: “o crescimento vai continuar”.