O presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting, Jaime Marta Soares, revelou este sábado quem são os 11 membros da Comissão de Gestão que governará provisoriamente o Sporting, face à suspensão imposta à Direção do clube. Artur Torres Pereira lidera a equipa de gestão, que inclui ainda o antigo presidente dos leões Sousa Cintra.

Além de Torres Pereira (o presidente) e Sousa Cintra, integram ainda esta comissão de gestão Luís Marques (jornalista e antigo administrador da RTP), Silvino Manuel Gomes Sequeira, ex-autarca, António Augusto Guterres, professor universitário, Jorge Gorita, militar de carreira, Alexandre Cavalleri e António Rebelo, empresários, Rui António Moço, economista, José Diogo Leitão, gestor e Pedro Roque Pinho Reis, advogado

Um dos primeiros dados a reter é que, excluindo Sousa Cintra e, com natural menor notoriedade, Artur Torres Pereira, a Comissão de Gestão que governará o Sporting não inclui figuras especialmente conhecidas do universo sportinguista. Na conferência de imprensa, estiveram apenas nove dos 11 elementos desta comissão. Dois não puderam estar presentes por motivos pessoais, afirmou Marta Soares em conferência de imprensa.

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Na conferência de imprensa, Marta Soares começou por “repetir” uma ideia que vem sendo contestada por Bruno de Carvalho: a que não está em funções e não tem legitimidade. “Mantenho essa legitimidade”, disse Marta Soares, acrescentando que ela foi “reforçada ultimamente pelo poder judicial”, importante para quem “tinha dúvidas e vinha a propalar aos sete ventos de que o presidente e a MAG estavam ilegais. A realidade era outra.”

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Defendendo que “é preciso respeitar a lei do Sporting”, isto é, os estatutos do clube, e dizendo que marca eleições logo no dia 23 se os sócios destituírem o atual presidente (caso contrário, garantiu, não bloqueará a vontade dos sócios), Marta Soares falou em “ilegalidades tremendas” e em “atentados ao direito e à lei” cometidos por Bruno de Carvalho. Que, diz, tem liberdade e legitimidade para se recandidatar. Sobre a comissão de gestão, disse que é da sua responsabilidade a escolha do presidente e dos membros. “Depois o funcionamento e a organização da comissão será da única e exclusiva responsabilidade dos seus membros”. Haverá uma “orgânica natural”, definida pelos membros da comissão.

Marta Soares deu ainda uma notícia: Bruno de Carvalho não foi “expulso de sócio”, como o presidente dos leões chegou a dizer, pelo que, também contrariamente ao que afirmou, “terá todo o direito de usar da palavra na Assembleia Geral, porque a suspensão de funções não lhe retira o direito de sócio. Pode, com liberdade plena, total e absoluta dizer tudo o que entenda dizer perante os sócios”.

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Torres Pereira quer interverter “ciclo que envergonha” os sportinguistas

Dizendo que aceitou o convite por um “indeclinável dever de sportinguista”, Torres Pereira disse que a comissão de gestão pretende apenas “servir o clube do nosso coração”. “Estão em causa princípios e valores fundacionais do Sporting Clube de Portugal e não somos daqueles que trocam princípios por interesses e valores por conveniência”.

Vamos dar o nosso desinteressado contributo para inverter o ciclo de acontecimentos deploráveis” que o Sporting viveu recentemente, afirmou Torres Pereira

O novo homem forte da gestão do clube governará, anunciou Marta Soares, até haver eleições ou os sócios manterem Bruno de Carvalho no cargo e o período de suspensão terminar. Artur Torres Pereira afirmou que luterá pela “preservação e valorização” dos ativos da SAD.

“Podem enganar-se algumas pessoas durante algum tempo, e podem-se enganar muitas pessoas durante muito tempo. Mas não se podem enganar todas as pessoas todo o tempo”, afirmou, acrescentando que Bruno de Carvalho tenta disfarçar a situação atual “com novas promessas e falsas ilusões”.

“O primeiro objetivo é encontrarmos a forma ideal de trabalhar. Estou rodeado de pessoas livres, sérias, competentes e com idoneidade profissional. Dentro deste enquadramento, o ponto de partida é organizarmo-nos, tendo como objetivo estratégico a maneira de sermos mais eficientes para levar a cabo a missão transitória que temos”, apontou ainda.

Está na hora dos sócios despertarem de vez, tomarem os destinos do clube nas duas mãos, para devolver a esperança ao clube e pôr fim a este ciclo que nos envergonha, começando por um presença massiva na AG de dia 23 [de junho] e noutra que ocorrerá o mais cedo possível e na qual um novo ciclo se abrirá”, disse Torres Pereira. Este referia-se a uma Assembleia Geral de eleição da nova Mesa da Assembleia Geral e do novo Conselho Fiscal e Disciplinar, já que os atuais anunciaram a demissão em bloco.

“Esta comissão de gestão tem muito com que se preocupar no presente para estar a pensar no passado ou no futuro. A nossa prioridade é gerir o clube até que os sócios do Sporting ponham um fim e invertam este ciclo, para que possamos respirar”, concluiu.

As “negas” recebidas por Marta Soares

Logo na quarta-feira, dia em que foi anunciada a suspensão preventiva ao Conselho Diretivo de Bruno de Carvalho, o presidente da Mesa da Assembleia Geral (MAG) do Sporting disse que a composição da comissão de gestão que substiuirá a direção seria conhecida “nas próximas horas”. O anúncio, contudo, acontece apenas três dias depois.

As recusas ouvidas por Marta Soares aos convites que fez ajudam a explicar o adiamento do anúncio. O antigo presidente da MAG do clube Eduardo Barroso e o antigo presidente dos leões Pedro Santana Lopes, por exemplo, foram alguns dos sportinguistas que rejeitaram o convite.

Santana pensou uma noite se ia liderar o Sporting, mas recusou

No caso de Santana Lopes, o Observador apurou que este foi mesmo convidado para presidir à comissão de gestão hoje revelada. O antigo presidente do clube foi convidado na passada quarta-feira, dia 13 de junho, por Jaime Marta Soares. Santana não disse logo que não, pensou, ponderou e aconselhou-se com várias pessoas mas acabou por decidir recusar.

Eduardo Barroso confirma convite para Comissão de Gestão. “É uma provocação miserável”

Já Eduardo Barroso indignou-se com o convite, como contou ao Observador: “Recebi um telefonema, não posso dizer de quem, mas era mandatado para esse efeito, para me convidar para a Comissão de Gestão. Estava no carro, com a chamada em voz alta, e a minha mulher, ao lado, até se indignou pela forma como respondi.”

É uma provocação miserável. Não faz sentido estarem a convidar-me para uma Comissão de Gestão com a qual estou em profundo desacordo. É um golpe inaceitável. Sou um defensor de eleições, tirei o meu apoio a Bruno de Carvalho, mas para dar voz aos sócios. Isto não é dar voz aos sócios, é aquilo que quiseram que eu fizesse no tempo de Godinho Lopes”, defendeu o cirurgião.

Esta sexta-feira, o presidente dos leões, Bruno de Carvalho, escreveu no Facebook que outro antigo presidente do Sporting, Sousa Cintra, andava “a tentar ligar para pessoas a dizer que é presidente da putativa Comissão de Gestão”. O presidente do Sporting partilhou ainda fotografias de Marta Soares a jantar com José Rebelo, Diogo Orvalho e Artur Torres Pereira — o último dos quais um antigo vice-presidente de Bruno de Carvalho.

A existência desta comissão que governará o Sporting resulta da suspensão preventiva ao Conselho Diretivo de Bruno de Carvalho, imposta pela comissão de fiscalização nomeada por Jaime Marta Soares, presidente da Mesa da Assembleia Geral ainda em funções. Logo na quarta-feira, dia em que foi anunciada a suspensão preventiva ao Conselho Diretivo do Sporting, Marta Soares anunciou que a equipa que substituirá temporariamente o Conselho Diretivo seria anunciada “nas próximas horas”. O anúncio, no entanto, só aconteceu três dias depois.

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