“No Coração da Escuridão”

Paul Schrader dá mais uma vez expressão cinematográfica à sua longa, difícil e rebarbativa relação com a religião em “No Coração da Escuridão”, onde Ethan Hawke interpreta um padre frustrado no seu múnus, que descobre que tem um tumor no estômago e está tomado por um tal desespero espiritual, que decide abraçar aquilo que considera ser a violência justiceira e purificadora. O filme parece um cruzamento de um “pastiche” de “Diário dum Pároco de Aldeia”, de Robert Bresson (um dos cineastas favoritos de Schrader) com um sucedâneo menor de “Taxi Driver” (que foi escrito pelo realizador), com Hawke num Travis Bickle de sotaina. Por muito que se goste de Paul Schrader, “No Coração da Escuridão” é indefensável. Não passa de pechisbeque do transcendente, espiritualidade de fancaria, exertado com uma ideologia da moda (o catastrofismo ambientalista) e com Hawke no papel de uma caricatura ambulante da apostasia torturada. A sequência da “trip” psicadélico-metafísica  do padre e da personagem de Amanda Seyfried entra para o rol das mais involuntariamente ridículas do ano.

“Arranha-Céus”

E eis o “blockbuster” desmesurado e absurdo com Dwayne Johnson da semana. Aqui, o antigo “wrestler” interpreta Will Sawyer, um ex-Marine e antigo agente do FBI encarregue de testar os sistemas de segurança do mais alto arranha-céus do mundo, construído por um magnata chinês em Hong Kong (o mercado asiático é absolutamente fundamental para os lucros de Hollywood e é já a pensar quase só nele que se fazem certos filmes, como é o caso). O prédio é então alvo de um grupo de criminosos, que lhe pegam fogo, com a família de Sawyer presa num dos andares mais altos, fazendo com que este se transforme num super-herói ao qual só falta mesmo o uniforme, dado que comete as mesmas proezas impossíveis, anula as leis da física e é invulnerável, tal e qual como aqueles – e tudo isto com uma perna artificial! Descaradamente disparatado e insondavelmente inverosímil, “Arranha-Céus” é “A Torre do Inferno” da era dos efeitos digitais e o “Assalto ao Arranha-Céus” dos azeiteiros.

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“Amar Pablo, Odiar Escobar”

Aos vários filmes e séries já existentes sobre a figura do narcotraficante colombiano Pablo Escobar, junta-se agora “Amar Pablo, Odiar Escobar”, realizado pelo espanhol Fernando Léon de Aranoa (“Às Segundas ao Sol”), uma produção hispano-búlgara e também um projecto de Javier Bardem, que produz e interpreta Pablo Escobar. Rodada na Bulgária e na Colômbia, a fita de Aranoa tem a novidade de apresentar um ponto de vista feminino sobre Escobar, já que se baseia no livro homónimo de Virginia Vallejo (vivida por Penélope Cruz, que é casada com Bardem), uma famosa jornalista da televisão colombiana que se deixou seduzir pelo narcotraficante nos anos 80 e se tornou amante dele, quase pagou esse envolvimento com a vida e ficou com a carreira arruinada. “Amar Pablo, Odiar Escobar” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.