Jorge Jesus disse esta terça-feira que os ataques à Academia de Alcochete ainda estão muito presentes na sua memória. Em entrevista à Bola TV a partir da Áustria, o novo treinador do Al-Hilal disse que aquilo que se passou no dia 15 de junho “parecia um filme de terror”: “Foram momentos difíceis. Ninguém tem a noção do que se passou. Parecia um filme de terror. Tochas nos balneários, ameaças alto e bom som que nos iam matar, agressões. Não é por acaso que nunca mais consegui entrar na academia, até pedi ao Márcio e ao Paulinho para trazerem as minhas coisas. Nunca mais lá entrei”, confessou.

O ex-treinador do Sporting afirmou ainda que não deveria ter aceitado jogar a final da Taça de Portugal, que os leões acabaram por perder 2-1 contra o Desportivo das Aves. Para Jorge Jesus, os jogadores não estavam em condições anímicas para disputar o jogo:

Foram dias muito complicados para os jogadores do Sporting. Reconheço que não deveria ter aceitado jogar aquela final. Deveria ter feito tudo para impedir a sua realização. A verdade é que não olhei muito para os interesses do Sporting, olhei mais para os interesses do futebol. Tínhamos que mostrar que há quem manda, que as instituições não se intimidam. Quero agradecer publicamente ao presidente da Federação, Fernando Gomes, que teve o cuidado de me ligar várias vezes para saber se eu achava bem que a final se realizasse. Foi, de facto, um dia traumatizante para mim. Perdi finais da Liga Europa mas nenhuma me traumatizou tanto como a final da Taça de Portugal.

O treinador aproveitou ainda para deixar um recado à claques, dizendo que as invasões aos centros de treino em nada beneficiam as equipas: “Essa situação deve servir de exemplo a todas as claques em Portugal. Não é o facto das claques irem aos centros estágios que os jogadores jogam mais, antes pelo contrário. Os jogadores ficam mais frágeis, ficam a gostar menos das claques e sentem que não são acarinhados. Aqui fica o meu aviso para os líderes das claques: deixem-se desses atos para sempre, isso não favorece ninguém”.

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Jorge Jesus revelou ainda que Sousa Cintra, o presidente da Comissão de Gestão, fez tudo para que ele regressasse ao Sporting: “Sousa Cintra fez tudo para eu regressar. Mas não houve hipótese. Hoje sei que o Sporting está numa onda positiva. Sousa Cintra está a recuperar o Sporting. Está a fazer um grande trabalho”.

Sobre o regresso a Portugal, o treinador disse que vai acontecer no futuro próximo e frisou que não fecha a porta a nenhum clube, mesmo que sejam o Sporting e o Benfica: “A minha certeza é que quando sair da Arábia regresso a Portugal. Como é óbvio não fecho as portas a ninguém. [No Sporting] Criámos ao longo de três anos uma estrutura de futebol espetacular. Deixei um legado no Sporting que não tinha antes de eu lá chegar”.

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Questionado sobre o apoio à candidatura de Frederico Varandas (integra a Comissão de Honra), disse que o ex-diretor clínico do Sporting é “um grande amigo e um grande profissional, com muita qualidade”. Acerca de Bruno de Carvalho lembrou que a cláusula de confidencialidade que assinou quando saiu do Sporting não lhe permite falar mas atirou: “Em primeira mão posso dizer que pedi ao presidente Sousa Cintra para olhar para que este problema seja anulado”.

Mais tarde, Jorge Jesus voltou a ser entrevistado pelo CMTV e falou sobre o comunicado conjunto que os jogadores publicaram nas redes sociais depois das críticas de Bruno de Carvalho à exibição contra o Atlético de Madrid, para os quartos-de-final da Liga Europa: “Sei que quando os jogadores tomaram a posição naquele comunicado, fiz-lhes sentir que estava com eles até ao último dia, momento e segundo, mas que aquilo ia sobrar para mim”.

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