Depois de utilizar o historial de pesquisa dos utilizadores na internet para propor anúncios publicitários à medida, eis que o algoritmo cibernético volta a atacar. Que uma empresa norte-americana queira aceder às preferências das pessoas online para lhes propor algo não é novidade. Uma marca propor escolhas a potenciais clientes a partir do que ouvem no Spotify e do estilo de vida que levam, já é mais inusitado.

A marca de roupa em questão é a Eison Triple Thread. Com clientes como o basquetebolista Stephen Curry, e com preços de luxo como se percebe pelo catálogo do seu site oficial, a Eison Triple Thread quer aceder ao perfil e histórico de clientes na plataforma de streaming Spotify. Esse é o ponto de partida para as sugestões da marca, como explicou o fundador Julian Eison ao órgão digital nova-iorquino Racked:

Começamos por usar a informação do Spotify para compreender as emoções que se escondem atrás da escolha do vestuário. Eventualmente, conseguiremos encontrar o look que melhor se adequa a cada pessoa.”

É possível “inferir muita coisa a partir das escolhas musicais das pessoas”, acrescentou o fundador da Eison Triple Thread. “Um tipo que nasceu entre 1984 e 1988, gosta de hip hop e trabalha numa empresa tecnológica em São Francisco provavelmente vai gostar da roupa que esteja mais na moda. Portanto, sugeriremos roupa baseada nesses elementos demográficos e veremos como é que ele responde. Se se tratar de alguém que goste de música animada, que nasceu nos anos 1980 e que ouve música desse tempo, podemos assumir que o seu estilo provavelmente é parecido com o do Joey [personagem da série Friends]”, disse ainda.

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A ideia parece simplista: afinal, há quem goste de ouvir hip hop e não goste de usar roupa desportiva e ténis Nike, como há quem goste de música clássica e não ande sempre aprumado. N0 entanto, o funcionamento da app é mais elaborado do que parece.

Como é que funciona, afinal?

Para aceder às sugestões da marca, os clientes devem descarregar a aplicação FITS e validar o acesso à sua conta de Spotify. Depois, os utilizadores devem responder a um inquérito sobre as suas vidas, onde lhes é questionado, por exemplo, em que área trabalham e qual a sua cor de pele. O motivo? “Não podemos recomendar um fato a alguém que trabalhe numa área criativa. E sabemos que cores diferentes resultam melhor em diferentes cores de pele”, apontou Julian Eison.

O último passo da empresa para presumir que roupas querem os seus utilizadores vestir consiste em apresentar aos potenciais clientes, através da app, um conjunto de peças de roupa, a que as pessoas devem responder com emojis, que indiquem a reação às propostas. Compilada toda essa informação, é apresentado aos utilizadores um conjunto de peças que encaixam no seu estilo de vida, gosto musical e gosto de vestuário. Como as peças da marca são feitas à medida, os clientes poderão ainda personalizar as peças, escolhendo por exemplo cores e materiais a seu gosto.

Uma coisa é extrapolar o óbvio”, isto é, que o gosto musical das pessoas influencia o estilo de roupa que querem usar em contextos específicos, como se vê em festivais como o norte-americano Coachella. “Mas nós estamos a usar um método de análise mais complexo”, garantiu o fundador da marca, acrescentando que o humor e as emoções dos utilizadores, calculados a partir do inquérito, são fatores não negligenciáveis, quase tão importantes quanto o estilo de vida e a ocupação.

“Isto é uma forma mais avançada de recomendar coisas aos clientes do que dizer simplesmente: olha, uma pessoa comprou isto há cinco minutos, também devias comprar”, resumiu Julian Eison, em declarações à Racked.