Há três semanas, era menor de idade. As borbulhas no rosto ainda são visíveis, marcas típicas da adolescência, de quem começa a ganhar barba mas ainda mal a vê crescer. Os músculos, esses, são desenvolvidos e trabalhados, se comparados com os de outro jovem da sua idade; já quando posto ao lado dos grandes nomes da natação, como por exemplo, Adam Peaty, ainda é pouco escultural. Falta físico, apesar do 1,94 metros de envergadura. Com a idade, Kliment Kolesnikov ainda tem tempo para desenvolver essa vertente. O que não lhe falta, aos 18, é talento. Talento e medalhas: só no Europeu de natação, em Glasgow, já foram quatro. Três de ouro e uma de prata, juntam-se a um recorde do mundo para o russo que se revela como um dos principais nadadores da nova geração russa.

Ponto prévio: Kolesnikov ainda tem idade para competir com juniores, embora nade na piscina dos grandes com os restantes tubarões. Aí, junto aos melhores — onde se inclui o compatriota Evgeny Rylov — conquistou a primeira medalha de ouro nos Europeus na categoria 4×100 metros livres com a restante formação russa, que se tem destacado nestes campeonatos.

Um dia mais tarde, viria novo ouro e uma consagração individual. Nos 50 metros costas, o russo bateu o romeno Robert-Andrei Glinta, antigo campeão do mundo de juniores, por 0.55 segundos, terminando a prova em 24 segundos exatos. O tempo permitiu a Kolesnikov registar o recorde do mundo da categoria, baixando a marca do britânico Liam Tancock em o.o4 segundos.

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“Pensava que conseguia o recorde, mas não estava 100% preparado para isso. Quando toquei na parede, olhei para o contador e vi o recorde do mundo. Estava baralhado, durante 15 segundos não entendi o que se estava a passar“, confessa o jovem que tem como imagem de marca a sua touca cor de rosa.

Mas o jovem nadador russo já demonstrou não se contentar com pouco e apontou baterias à prova dos 100 metros costas. Aí, contaria com o companheiro Evgeny Rylov como principal opositor e obstáculo entre si e o ouro. O compatriota, quatro anos mais velho do que Kolesnikov, deu luta, ameaçou roubar-lhe a vitória, mas não foi capaz. Kolesnikov dominou quase todo o percurso, com um início forte a aumentar gradualmente a vantagem, depois de aproveitar ao máximo os 15 metros feitos debaixo de água. Só a 20 metros do final, Rylov conseguiu ganhar vantagem ao jovem nadador, aproveitando o cansaço e o desgaste do começo prometedor, mas não foi além dos 0.21 segundos de diferença: 52.23 para o ouro Kolesnikov, 52.44 para o prata Rylov. O grego Apostolos Christou foi bronze, com 53.72 segundos.

Reconhecido à distância pela touca rosa, Kolesnikov tem o hábito de aproveitar ao máximo os 15 metros possíveis de nadar debaixo de água (Créditos: Getty Images)

Pouco mais de uma hora depois, Kolesnikov estava de volta à piscina para ajudar a formação russa a conquistar a prata nos 4×100 estilos. Novamente, um júnior a brilhar no meio dos seniores. E foi na formação júnior da Rússia que se estreou em convocatórias internacionais, no Europeu da categoria, em 2016. Com 16 anos, venceu os 50 e 100 metros costas, batendo recordes juniores mundiais. Já em 2017, com 17, ficou em quarto lugar nos 200 metros costas, contra pesos pesados da natação.

Com três medalhas de ouro e uma de prata conquistadas nos Europeus de Glasgow, o jovem russo de 18 anos não pensa no agora, apontando a um futuro ainda mais risonho: “O grande objetivo é Tóquio 2020. O que faço aqui não é nada de especial, especial é nos Jogos Olímpicos“, atirou. Daqui a dois anos, Kolesnikov talvez já não tenha borbulhas; mas dificilmente terá perdido a touca rosa e a ambição típica de quem tem o futuro à sua frente.