“Já não consegue aguentar mais a insanidade? Então este filme é para si.” É assim que começa o trailer do próximo documentário do realizador norte-americano Michael Moore.

Controverso, Moore tem usado o cinema como meio para criticar o que não suporta no seu país, da adoração assolapada pelas armas (“Bowling for Columbine”) ao capitalismo (“Capitalismo — Uma História de Amor”), passando pelas características do sistema de saúde (“Sicko”) e pela fixação em invadir países (“E Agora Invadimos o Quê?”). Agora, Moore aponta a mira da sua câmara de filmar a Donald Trump.

Passaram 14 anos de “Fahrenheit 9/11”, documentário vencedor da Palma de Ouro no festival de cinema de Cannes que tinha George W. Bush e a guerra do Iraque como alvos, Michael Moore decidiu fazer uma sequela. Intitulado “Fahrenheit 11/9”, o documentário arrasa os primeiros anos da presidência de “The Donald”. É o regresso de Moore aos filmes sobre presidentes americanos, depois de uma paragem durante o período da administração Barack Obama, que o realizador ainda assim não deixou de criticar, considerando-o “uma grande desilusão” que, depois de oito anos no cargo, só vai ser recordado pela história por ter sido “o primeiro negro a chegar a presidente dos Estados Unidos da América. Oito anos — e não será lembrado por mais nada”. Esta quinta-feira, 9 de agosto, foi revelado o primeiro trailer do documentário:

“Como raio é que isto [a eleição] aconteceu?”, “o sonho americano morreu” e “senhoras e senhores, o último presidente dos Estados Unidos da América” são algumas das frases fortes que se ouvem no trailer de “Fahrenheit 11/9”, que chega às primeiras salas de cinema norte-americanas no próximo mês de setembro. Ainda não foi anunciada a data da chegada do documentário às salas de cinema portuguesas. Antes de chegar às salas de cinema, o filme vai ser exibido no Festival Internacional de Cinema de Toronto.

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Em pouco mais de um minuto de trailer, Moore consegue ligar Donald Trump a algumas das grandes tensões atuais da sociedade americana, como as manifestações de supremacistas brancos, o racismo crescente que as manifestações evidenciam e um aumento da violência. A ativista do partido democrata Alexandria Ocasio-Cortez surge no trailer, assim como um excerto do emblemático discurso “Bodies upon the gear” do ativista dos anos 1960, Mario Savio. Moore surge também em grande plano, entrevistando sobreviventes do tiroteio de 14 de fevereiro no liceu Stoneman Douglas em Parkland, Califórnia, que resultou na morte de 17 estudantes e funcionários, e atirando água para o interior da casa de um governador republicano, em Flint, Michigan.

Michael Moore, 64 anos, continua sem papas na língua. (Noam Galai/Getty Images for DKC/O&M)

Em 2017, Michael Moore já tinha apresentado um espetáculo (essencialmente um monólogo) na Broadway em que criticava duramente Donald Trump. A peça do realizador e vencedor de um Óscar arrancava precisamente com palavras que se ouvem novamente no trailer do documentário que fez: “Como raio é que isto aconteceu?”.