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O "Pizzi on fire" que chegou a terras de Sua Majestade mas podia ser notícia por outros motivos (a crónica do Benfica-V. Guimarães)

Este artigo tem mais de 5 anos

Entre um penálti falhado e uma bola no poste, Pizzi fez um hat-trick em 38 minutos e fechou o jogo que o V. Guimarães reabriu no final com André André mais adiantado: Benfica abre Liga a vencer (3-2).

Pizzi voltou a ser o comandante do Benfica, que teve também o miúdo Gedson Fernandes em destaque
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Pizzi voltou a ser o comandante do Benfica, que teve também o miúdo Gedson Fernandes em destaque

AFP/Getty Images

Pizzi voltou a ser o comandante do Benfica, que teve também o miúdo Gedson Fernandes em destaque

AFP/Getty Images

Quando João Pinheiro apitou pela última vez, Pizzi lá deu um suspiro e foi atrás da bola. Agarrou-a, colocou-a debaixo do braço, deu uns passos para o meio-campo, cumprimentou os companheiros, agradeceu ao público e seguiu para o balneário.

Ele, como todos os que estavam no estádio da Luz ou a seguir o encontro pela BTV, perceberam que este é um dia que ficará na história do internacional português. Mas foi também um dia de sonho que podia ter terminado em pesadelo e que serve de aviso para um Campeonato que arrancou agora: às vezes bastam cinco minutos maus para colocar em risco tudo o resto e aquela que podia ter sido uma goleada categórica transformou-se num triunfo pela margem mínima, mesmo ressalvando que, depois do 3-2, o V. Guimarães não conseguiu voltar a ter uma oportunidade para espreitar o empate.

Não deixou de ser curioso reparar que, nos vários quadros de prognósticos apresentados nos jornais desportivos desta sexta-feira de arranque do Campeonato, quase ninguém passava ao lado do conjunto esta noite visitante na Luz. Fosse colocando os minhotos nos primeiros cinco lugares da classificação, atrás dos crónicos candidatos ao título e do Sp. Braga em crescendo, fosse como maior revelação da prova. E no plano teórico, faz sentido: os vimaranenses tiveram um defeso de maior aposta e investimento, conseguiram construir um plantel bem mais equilibrado e homogéneo, asseguraram referências que faltavam à equipa e apostaram num treinador que, a bem ou ao mal, não abdica da veia mais romântica do futebol. Ainda assim, aquela ideia inicial de Luís Castro de tentar jogar no meio-campo do Benfica nunca aconteceu. E foi um pecado.

Um pecado do V. Guimarães, um mérito do Benfica. É certo que, como o técnico dos minhotos salientou no final, existem duas defesas fundamentais de Vlachodimos (e mais uma bola no poste) no decorrer da primeira parte que acabaram por marcar o rumo dos acontecimentos, mas o conjunto de Rui Vitória teve uma exibição muito melhor do que tinha feito com o Fenerbahçe: agressiva, com velocidade, dinâmica, com dois estilos diferentes de chegar à baliza com uma ala direita de vertigem e um flanco esquerdo de futebol curto, rendilhado e eficaz. Isso e dois jogadores de luxo no corredor central – Gedson Fernandes a construir (algumas vezes com uma calma e uma classe como se andasse nisto há dez anos), Pizzi a finalizar, para gáudio do benfiquista em Manchester Bernardo Silva, o tal que é “ele e mais dez” no City na ótica de Guardiola. Se alguém falhou, e outra vez, foi Ferreyra. Até esteve em destaque pelo movimento no terceiro golo, que atraiu os defesas consigo, mas, mais do que falhar uma grande penalidade, falhou sempre o espaço certo para o último toque que com Jonas era de olhos fechados.

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Ficha de jogo

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Benfica-V. Guimarães, 3-2

1.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias, Jardel, Grimaldo; Fejsa (Alfa Semedo, 71′), Gedson Fernandes, Pizzi; Salvio (Zivkovic, 78′), Cervi (Rafa, 65′) e Ferreyra

Suplentes não utilizados: Svilar, Conti, Samaris e Seferovic

Treinador: Rui Vitória

V. Guimarães: Douglas; Dodô, João Afonso, Osório, Rafa Soares; Wakaso, André André; Tyler Boyd, João Carlos Teixeira (Celis, 62′), Ola John (Davidson, 46′) e Tallo (Alexandre Guedes, 65′)

Suplentes não utilizados: Miguel Silva, Joseph, Florent e Tozé

Treinador: Luís Castro

Golos: Pizzi (10′, 30′ e 38′), André André (75′) e Celis (80′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Tyler Boyd (58′), Rafa Soares (67′), Celis (86′) e Wakaso (90+3′)

Logo aos dois minutos, um toque de magia de Gedson, a tirar do lance João Carlos Teixeira de forma quase desconcertante, acabou por dar o mote para uma grande exibição que podia até ter sido coroada com um golo, caso o cabeceamento após um lance de estratégia com cruzamento de Cervi na direita não fosse ao lado. O lance, percebeu-se depois, tinha sido anulado por fora de jogo do médio (duvidoso até), mas ficou o atrevimento o miúdo a ir sem medo ao espaço dos grandes tentar materializar aquilo que quase sempre estava a começar a ser construído por si. Havia muito Benfica, havia pouco ou nada V. Guimarães. Mas também não era preciso muito, pelo menos na posse, para levar o perigo à baliza contrária.

Depois de ter deixado excelentes indicações na pré-temporada, no seguimento de uma época de afirmação no Tondela, Tyler Boyd voltou a fazer uma exibição na Luz sem complexos e foi através dos movimentos vertiginosos pela direita que os minhotos iam colocando à prova Vlachodimos. Como aconteceu, aos 7′, quando um cruzamento na direita apanhou a entrada de Tallo de cabeça ao primeiro poste mas o alemão estava bem naquela zona da baliza onde a bola costuma cair para fazer a primeira grande defesa. Do meio-campo para a frente, assim consiga ter qualidade no transporte de bola, o V. Guimarães é uma equipa bem trabalhada em termos coletivos para potenciar a qualidade individualidade, mas lá atrás as coisas são diferentes e, num misto de mérito do Benfica e baixas por lesão (Pedrão e Venâncio), houve demasiado espaço para “alugar”. Pizzi agradeceu: aos 10′, numa recuperação de André Almeida que Gedson levou dezenas de metros pela direita, João Afonso cortou para a entrada da área o cruzamento e o médio internacional ganhou a segunda bola com um remate seco e colocado para o 1-0.

[Clique nas imagens para ver os principais lances do Benfica-V. Guimarães]

Festa de Pizzi. Festa do Benfica. Festa na Luz. Festa sem que ninguém pensasse na ausência do principal jogador da última temporada, festa com todos concentrados naquele que promete ser uma das figuras da nova época. Pelo menos, durante cinco minutos: em mais uma combinação demolidora do flanco direito, Salvio foi carregado na área por Rafa Soares (que nem esboçou sequer um protesto) mas Ferreyra, no coroar de um início titubeante e divorciado com a sorte dos goleadores, acabou por permitir a defesa de Douglas no penálti… que foi o seu primeiro toque na bola. Defendeu o castigo máximo (15′), travou a recarga seguinte e encheu de ar o peito dos vimaranenses irem de novo lá abaixo ficarem à beira do empate – perda de bola “invulgar” de Fejsa na primeira fase da zona de construção, primeiro remate de João Carlos Teixeira para defesa de Vlachodimos e recarga de Boyd que, na passada, isolado e com ângulo aberto, fez o mais complicado e acertou no poste (18′).

O jogo nunca chegou a ser de parada e resposta, porque o V. Guimarães criava perigo apenas no meio do domínio do Benfica, mas foi sempre sem parada e sem resposta quando chegou aos pés de André Almeida e Salvio para combinarem como se estivessem no máximo da forma física e não fosse apenas o segundo encontro oficial da época: grande movimento do argentino, passe a apanhar a entrada do português nas costas, cruzamento atrasado e novo desvio certeiro na área de Pizzi, que bisava numa jogada a régua e esquadro que as águias fizeram mais do que uma vez por em agosto e outros nem em janeiro conseguem (30′).

A 15 minutos do intervalo, voltava a ouvir-se na Luz o “Benfica, dá-me o 37”, quase como se a ideia da “reconquista” passada pelo clube e pela sua comunicação ao longo da pré-temporada tivesse aceitação imediata junto dos adeptos. E mais audível ficou quando Pizzi completou mesmo o hat-trick aos 38′, desta vez recebendo um passe de Grimaldo na esquerda que o deixou em posição de escolher o lado na área para mais um penálti de bola corrida com remate rasteiro. O 3-0 chegou numa fase em que o V. Guimarães claudicou mesmo na sua organização, de tal forma que, não fosse Salvio estar adiantado na altura de mais um remate de fora para defesa incompleta de Douglas, podia ter ganho outras proporções ainda antes do descanso.

Na segunda parte, continuavam a faltar metros, linhas de passe e ligação defesa-ataque ao V. Guimarães, ao mesmo tempo que o Benfica, que controlava o jogo como queria, tentava impor um ritmo mais baixo por não ter o pulmão para a intensidade que fez toda a diferença nos primeiros 45 minutos. Ainda houve uma arrancada em transição com perigo, finalizada por Salvio com um remate à figura (55′), mas a própria qualidade do jogo ia caindo a não ser em mais dois ou três apontamentos de Gedson para parar, ver e rever, como quando se desenvencilhou de dois adversários com um toque de calcanhar (66′).

Luís Castro, invertendo o triângulo do meio-campo, dando outro músculo com a entrada de Celis e ganhando mais fluência de decisão e jogo entre linhas com o avançar de André André em campo, mostrava uma outra fluidez até chegar ao último terço, mas o máximo que o V. Guimarães conseguiu foi um remate de Boyd de fora da área, para defesa de Vlachodimos sem agarrar antes do alívio para a bancada mais próxima da defesa encarnada. Ah, e entretanto também já saíra Fejsa, aquele pêndulo que traz o equilíbrio de setores numa equipa com ninguém. Por tudo isto, ainda havia mais história para contar.

Quando André André, aproveitando um “buraco” na área do Benfica para entrar na terra de ninguém que perdeu dono com a saída do médio sérvio, conseguiu reduzir para 3-1 aos 75′ com um remate em arco sem hipóteses, e quando o mesmo médio, aproveitando o espaço entre linhas que se criara na zona perdida defesa-meio-campo, assistiu Celis para uma incursão na área que só terminou com o 3-2 aos 80′, o jogo ficou em aberto. Os encarnados acabaram por conseguir segurar depois o jogo, ao passo que os vimaranenses não tiveram a clarividência para sonhar com algo mais. No entanto, ficou o aviso para o que se segue e que curiosamente tinha sido referido por Rui Vitória na conferência de imprensa antes do encontro: quando uma equipa começa a pensar em dois jogos ao mesmo tempo, as coisas podem correr mal. Neste caso, acabou por ser um mal menor, que serviu apenas para beliscar uma vitória convincente do vice-campeão nacional. Mas podia ter saído mais caro.

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