Windfloat. O projeto vem do tempo do Governo de José Sócrates e Manuel Pinho e da grande aposta nas energias renováveis. Em causa está a produção de energia eólica offshore, ou seja, no mar, mas a uma profundidade — 100 metros — que não permite o uso do método tradicional de estacas. Depois dos primeiros testes ainda na Póvoa do Varzim, o projeto foi marcando passo.

Uma das principais questões por resolver era o financiamento para a construção do cabo submarino que liga a plataforma flutuante onde vão estar as turbinas, ao largo de Viana do Castelo, e a rede elétrica em terra. E esta sexta-feira foi dado um passo decisivo para ultrapassar o problema com a assinatura de um empréstimo de 60 milhões de euros do Banco Europeu de Investimentos (BEI), atribuído no quadro da iniciativa InnovFin para projetos de inovação energética do Programa Horizonte 2020. O projeto asseguriu ainda 29,9 milhões de euros do programa NER300 da União Europeia e até seis milhões de euros do Governo português financiados pelo Fundo de Carbono.

A assinatura do financiamento do BEI foi o pretexto para uma cerimónia que juntou os novos homens fortes da energia no Governo, o ministro do Ambiente João Matos Fernandes e o secretário de Estado, João Galamba, com o homem forte da energia elétrica há vários anos em Portugal, António Mexia, o presidente executivo da EDP. E a estreia não podia ser mais simbólica sobre uma viragem na política da energia. Desanuviamento na relação com a empresa mais poderosa do setor, que até está disponível para retomar o pagamento da contribuição extraordinária, sob condições. E um entusiasmo renovado pela causa renovável.

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Numa cerimónia onde também esteve a ministra do Mar, os protagonistas eram outros, como aliás reconheceu Ana Paula Vitorino quando saudou os primeiros atos públicos do ministro e secretário de Estado da transição energética. Mas o mediático João Galamba não falou, deixou o palco todo para João Pedro Matos Fernandes. E a intervenção do ministro do Ambiente, e agora também da Transição Energética, não desiludiu uma plateia de apoiantes das renováveis.

“Muita gente achava que o destino dele era estar no fundo do mar e não a flutuar”. A primeira frase de António Mexia ilustra as dificuldades e incertezas que rodearam este projeto descrito como inovador a nível mundial e que pode ajudar a revolucionar a produção eólica em grande escala, sobretudo em países onde não existe espaço para os parques e turbinas em terra ou mesmo na costa

O financiamento fechado esta sexta-feira marca o arranque da segunda fase que vai representar um investimento de 125 milhões de euros, que para além dos apoios públicos já referidos, vai ser suportado pelos acionistas, a EDP Renováveis, a petrolífera espanhola Repsol e a Principle Power, empresa americana onde a EDP e a Repsol são acionistas. Depois de provar que consegue resistir a ondas até 15 metros de altura, o nova fase do projeto vai ter uma capacidade instalada de 25 megatawatts, o suficiente para abastecer 60 mil casas num ano, e mobilizar 450 pessoas.

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E porque estamos ainda no meio das discussão das rendas excessivas, o presidente executivo da EDP não deixou de referir as tarifas que vão ser pagas por esta energia, são 123 euros por MW de tarifa base, um valor muito acima do mercado atual, mesmo com os preços elevados do Mibel (mercado ibérico de eletricidade), mas que António Mexia fez questão de relativizar. Lembra que outros projetos inovadores, nomeadamente de energia eólica, arrancaram a preços muito mais altos que agora conseguem produzir a um custo competitivo. Esta é uma tecnologia de ponta, afirmou, que tem condições de ser competitiva daqui a dez anos, quando pode ser o futuro da eólica em países como o Japão ou na Europa onde a produção renovável tem de crescer muito para cumprir as metas do acordo do clima.

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Mas para esse futuro se concretizar, é preciso baixar os custos, porque, como destacou o presidente da EDP Renováveis, “todos somos muito verdes, mas ninguém está disposto a pagar o sobrecusto”. Por isso não basta que a tecnologia funcione, tem de ser competitiva e para isso temos de baixar os custos, sublinhou João Manso Neto. E para isso é preciso ganhar escala e fazer mais projetos.

Na energia, os temas dominantes têm sido os CMEC, CAE (contratos de rendas de energia) e CESE (contribuição sobre a energia), mas Matos Fernandes quis mudar o discurso da política energética para um tema que descreveu como vital: descarbonização da economia portuguesa prometida para 2050. “Chega de discutir a fruta da época quando o desafio é desta dimensão”. O ministro do Ambiente admitiu ainda que faltava a dimensão da energia para poder levar mais longe estes objetivos, o que ficou resolvido com esta remodelação.

A energia e os transportes têm de reduzir as emissões em 85% e vamos ter de ter uma frota de carros elétricos e a hidrogénio e, eventualmente, biocombustíveis. Mais renováveis, mas também maior eficiência energética. Porque afinal, a “energia mais barata é a que não se gasta”.