O CDS-PP voltou a exigir explicações ao primeiro-ministro sobre o caso Tancos. Os centristas querem saber por que motivo o Governo chegou a garantir que todo o material militar furtado de Tancos tinha sido recuperado quando, na verdade, a listagem do Ministério Público sobre o armamento encontrado indica o oposto. “É importante que o senhor primeiro-ministro esclareça o caso de Tancos”, afirmou esta manhã no Parlamento o deputado António Carlos Monteiro.

A listagem foi ontem entregue ao Parlamento e confirma o que já tinha sido noticiado: não só falta recuperar material como foi devolvida uma caixa com 136 velas PE4A (explosivos) a mais. “Isto prova que a Comissão Parlamentar de Inquérito exigida pelo CDS tem toda a razão de ser”, considerou o deputado.

De acordo com o documento, a que o Observador teve acesso, o Ministério Público confirma que existem discrepâncias entre o material roubado e o que foi recuperado. “Segundo informação também prestada pela PJM do total de material furtado falta recuperar: 1450 munições de 9 mm, 1 disparador de descompressão, 2 granadas de gás lacrimogéneo; 1 granada ofensiva, 2 granadas ofensivas de corte para instrução, 20 Cargas Linear de Corte CCD20 e 15 Cargas Linear de Corte CCD30”, pode ler-se no esclarecimento enviado pelo magistrado do Ministério Público responsável pelo processo, João de Melo, ao diretor do DCIAP, Amadeu Guerra. Este documento foi reencaminhado para o Parlamento pela Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, tendo chegado ontem às mãos dos deputados.

Este esclarecimento confirma a discrepância entre as duas listas e reforça os sucessivos pedidos do CDS-PP para ouvir as explicações de António Costa sobre o caso. “Com a informação vinda da PGR estamos em condições de confirmar que há material perigoso que ainda não foi recuperado. Aquilo que sabemos hoje é que as garantias dadas pelo primeiro-ministro de que todo o material furtado tinha sido recuperado não são verdade”, explicou ainda o deputado centrista. Assim, acrescentou, o objetivo passa por averiguar “se o primeiro-ministro mentiu” ou “se não tinha a informação toda” quando garantiu que todo o material tinha sido recuperado.

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No entanto, António Carlos Monteiro não esclareceu se o CDS quer ouvir as justificações de António Costa no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso de Tancos. “São explicações que já deviam ter sido dadas ao país”, respondeu. Esta comissão será criada nas próximas semanas e os centristas admitem vir a chamar o primeiro-ministro.

PSD quer que Ministra da Justiça explique o que sabia

Já o PSD enviou esta quarta-feira uma pergunta ao Ministério da Justiça para averiguar o grau de conhecimento que Francisca van Dunem ao longo de todo o processo. Como justificação, os sociais-democratas recordam um episódio ocorrido em setembro no Parlamento durante um debate quinzenal e colocam parte do ónus no primeiro-ministro.

No dia 27 de setembro, quando questionado sobre se pretendia manter em funções o então Ministro da Defesa, Azeredo Lopes, António Costa respondeu que não só mantinha aquele governante como também pretendia manter “a Ministra da Justiça e os restantes membros do Governo”. Esta declaração deixou os sociais-democratas com a pulga atrás da orelha. Sugerindo que a suspeita ficou no ar devido às palavras do primeiro-ministro, os deputados do PSD decidiu questionar Francisca van Dunem sobre o seu grau de conhecimento dos acontecimentos do caso Tancos.

No total, a bancada social-democrata coloca três questões: o que sabia a ministra; por que razão falou o primeiro-ministro no seu nome; e se a afirmação de António Costa não levanta suspeitas sobre o seu grau de conhecimento. O documento com estas perguntas seguiu esta quarta-feira para o Ministério da Justiça.