Na temporada passada, depois de liderar o campeonato italiano da 4.ª à 26.ª jornada — com um interregno de duas semanas em que o Inter Milão esteve em primeiro —, o Nápoles visitava a Juventus na jornada 34 (de 38). Estava tudo em aberto: a quatro semanas do final da época, a vecchia signora era líder com 85 pontos e os napolitanos seguiam destacados na segunda posição com 81. Em Turim, no Allianz Stadium, o Nápoles venceu a Juventus por 0-1 com um golo do central Koulibaly aos 90 minutos de jogo. A equipa de Maurizio Sarri ficava a um ponto da de Massimiliano Allegri a quatro jornadas do final do campeonato e a Juve ainda tinha de visitar o Inter e a Roma. A cidade de Nápoles explodiu e o azul celeste invadiu as ruas italianas. Mas o impensável aconteceu.

Na jornada seguinte, numa altura em que até Diego Armando Maradona já festejava um possível título italiano que escapa desde 1989/90, o Nápoles sucumbiu em Florença e perdeu com um retumbante 3-0 imposto pela Fiorentina. A Juventus venceu o Bolonha em casa e repôs uma vantagem mais confortável que conseguiu gerir até ao final do campeonato – até se sagrar heptacampeã italiana. Maurizio Sarri saiu para ir substituir outro italiano, Antonio Conte, no Chelsea, e o Nápoles contratou Carlo Ancelotti. O treinador de 59 anos, com um currículo invejável, tem a ingrata missão de repetir e melhorar a temporada passada e superar uma Juventus que se reforçou com Cristiano Ronaldo.

Mas o Nápoles também se reforçou. Ao veterano Marek Hamšík, figura maior dos napolitanos, ao português Mário Rui e ao belga Dries Mertens juntaram-se Roberto Insigne, vindo do Parma, Kévin Malcuit, que jogava no Lille, e o guarda-redes David Ospina, que chegou por empréstimo do Arsenal. Mas também Fabián Ruiz – no meio de todos estes nomes, o espanhol de apenas 22 anos passou algo despercebido no lote de reforços do Nápoles e viu a sua tarefa dificultada quando se lesionou pouco depois de chegar a Itália.

Ruiz, médio-centro que também atua mais encostado à direita do terreno, é internacional pela seleção sub-21 de Espanha e realizou toda a formação no Bétis de Sevilha. Fez parte da equipa sevilhana que em 2014/15 conquistou a segunda divisão e conseguiu uma muito festejada promoção ao principal escalão do futebol espanhol. Estreou-se na liga espanhola em agosto de 2015, quando entrou já na segunda parte de um empate caseiro com o Villarreal para substituir Alfred N’Diaye – em dezembro desse ano renovou contrato com o Bétis até 2019 e foi imediatamente emprestado ao Elche, da segunda divisão. Cumpriu 18 jogos ao serviço do clube da região de Alicante mas não conseguiu evitar a despromoção ao escalão inferior. Regressou ao Bétis para a temporada 2017/18 e tornou-se uma figura importante da equipa: fez 35 jogos e marcou três golos, incluindo o golo decisivo que valeu a vitória frente ao Málaga (2-1) que carimbou o apuramento do clube para a Liga Europa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Fabián Ruiz, ainda ao serviço do Bétis, a disputar uma bola com o português André Gomes

No passado mês de julho, o Bétis confirmou que Fabián Ruiz era reforço do Nápoles: o espanhol custou 27 milhões de euros e entrou diretamente para o terceiro lugar do ranking das maiores transferências do clube italiano (apenas atrás de Gonzalo Higuaín, que em 2013 custou 35 milhões, e Milik, que saiu do Ajax em 2016 a troco de mais de 28 milhões de euros). Depois de um início atribulado, graças a uma lesão, Ruiz intrometeu-se nos onzes habituais de Ancelotti e tornou-se um amuleto do treinador – esteve presente em dez jogos, seis do campeonato e quatro da Champions, e já marcou dois golos.

O que poucos sabem – e o que Fabián Ruiz decidiu contar à La Gazzetta dello Sport – é que o espanhol de 22 anos só entrou no radar do Nápoles graças ao filho de Carlo Ancelotti. “O Davide Ancelotti está noivo de uma rapariga de Sevilha que conheceu em Madrid. Quando a visitou, foi ao estádio ver jogos do Bétis e do Sevilha. Foi nessas ocasiões que me viu jogar! Quando conheci a rapariga agradeci-lhe”, contou Ruiz ao jornal desportivo italiano, para depois explicar que foi Davide, filho mais novo de Carlo que chegou a jogar na formação do AC Milan quando o pai treinou o clube, a sugeri-lo ao atual técnico do Nápoles.

Na entrevista, Fabián Ruiz também falou sobre a adaptação a um novo clube, a uma nova cidade, a um novo país e a uma nova vida, já que em Espanha vivia com os pais. “No princípio tive algumas dificuldades em integrar-me na equipa por causa de uma lesão que me afastou durante três semanas. Mas agora o pior já passou e as coisas estão a correr muito bem. Ancelotti é um grande treinador, muito calmo e sempre muito próximo dos jogadores. Exceto quando se chateia, aí é perigoso”, contou o médio espanhol em jeito de brincadeira, para depois acrescentar que em Itália “os jogadores são fortes e a qualidade é muito semelhante à da liga espanhola e no fim acaba por não existir uma grande diferença”.

“Estou a aprender a língua e isso vai tornar as coisas ainda mais fáceis. E também estou a aprender a conduzir no trânsito louco de Nápoles. Ah, e a cozinhar, porque vivo sozinho”, explicou Ruiz. Sobre a possibilidade de o clube chegar finalmente ao título que escapa há quase 30 anos – o Nápoles está atualmente no segundo lugar do campeonato, a seis pontos da Juventus – o espanhol não arrisca previsões, mas replica a típica ousadia napolitana: “Não há pressão, é um privilégio lutar pelo primeiro lugar. É por isso que queremos tentar ganhar o Scudetto. Vamos tentar estar na corrida até ao fim”.