O Departamento da Justiça norte-americano terá preparada uma acusação contra o ativista e fundador da organização WikiLeaks, Julian Assange. A informação foi tornada pública devido a um “erro” num tribunal, com um documento a propósito de um caso não relacionado a mencionar a acusação ao ativista, que é descrita como informação “confidencial”. Não é certo quais são os crimes ao certo de que Assange estará acusado, mas os Estados Unidos pretenderiam tornar o caso público apenas quando o ativista fosse detido.

A informação surgiu esta sexta-feira, quando foi detetada por um especialista norte-americano em terrorismo, Seamus Hughes, da Universidade George Washington. Hughes, que costuma analisar documentação de processos judiciais, encontrou um documento num caso não-relacionado com Assange onde se podia ler que “devido à sofisticação do acusado e à publicidade relacionada com o caso, não é provável que outro procedimento mantenha confidencial o facto de que Assange foi acusado”. No mesmo documento, o procurador Kellen S. Dwyer escreve ainda que as acusações contra o fundador da WikiLeaks devem “permanecer sob sigilo até que Assange seja detido”.

https://twitter.com/SeamusHughes/status/1063232297674162176

Contactado por vários media norte-americanos, um porta-voz da Procuradoria-Geral dos Estados Unidos confirmou que “a informação divulgada no documento do tribunal foi um erro”. “Esse não era o nome suposto para este documento”, acrescentou Joshua Steve.

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Ao Washington Post, várias fontes relacionadas com o caso confirmaram que a informação sobre a acusação a Assange é verdadeira, mas que a divulgação do facto foi acidental. O jornal recorda ainda que o procurador Dwyer está também responsável pela investigação à WikiLeaks.

Julian Assange está retido na embaixada do Equador em Londres desde 2012, altura em que pediu asilo. À época, Assange estava a ser acusado de crimes sexuais na Suécia e temia que o país escandinavo o extraditasse para os Estados Unidos, onde poderia ser acusado pela divulgação de informação confidencial. Em causa estava a publicação de correspondência diplomática e outra documentação sigilosa do Governo norte-americano que foi divulgada pela WikiLeaks.

Em reação à possibilidade de Assange ser acusado, um dos seus advogados, Barry Pollack, declarou ao jornal Guardian que esse seria “um caminho perigoso para a democracia”.

A notícia de que aparentemente foi apresentada uma acusação contra Assange é ainda mais perturbadora do que o método desorganizado que tornou pública essa informação”, afirmou Pollack.

A organização WikiLeaks também reagiu no Twitter, chamando-lhe um “aparente erro de corta-e-cola”.

Não é segredo que o Departamento de Estado norte-americano tem vindo a investigar há vários anos Julian Assange e a WikiLeaks. Os crimes de que pode ser acusado são conspiração, roubo de propriedade estatal ou espionagem. Esta quinta-feira, um dia antes de ser conhecida esta informação, o Wall Street Journal noticiava que o Departamento da Justiça preparava-se para acusar formalmente Assange e que estaria “otimista” sobre a possibilidade de conseguir que ele fosse julgado nos Estados Unidos.

A investigação a Assange ganhou especial relevo nos últimos meses, depois de ser tornado público que Robert Mueller, procurador-especial a investigar as suspeitas de conluio da campanha presidencial de Donald Trump com o Kremlin, estaria a investigar a publicação de emails do Comité Nacional Democrata. Estes emails, que foram divulgados durante a campanha eleitoral e que continham informação prejudicial à candidata Hillary Clinton, foram divulgados pela WikiLeaks. Os investigadores acreditam que terão sido obtidos por hackers russos.