790kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Fizz. Magistrado condenado a pena de cadeia por ter sido subornado por Manuel Vicente

Este artigo tem mais de 5 anos

Orlando Figueira enfrenta pena efetiva de seis anos e oito meses de cadeia. O tribunal condenou também, mas com pena suspensa, o advogado Paulo Blanco, e absolveu Armindo Pires.

Orlando Figueira trabalhava no DCIAP e tinhas em mãos várias investigações que envolviam figuras importantes em Angola
i

Orlando Figueira trabalhava no DCIAP e tinhas em mãos várias investigações que envolviam figuras importantes em Angola

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Orlando Figueira trabalhava no DCIAP e tinhas em mãos várias investigações que envolviam figuras importantes em Angola

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Menos eloquente, mas com a mesma postura que manteve ao longo do julgamento e que não convenceu os juízes. Foi assim que o magistrado Orlando Figueira abandonou a sala de audiências do Campus de Justiça, em Lisboa, depois de quatro horas de um acórdão avassalador. Condenado a uma pena de cadeia efetiva, proibido de exercer magistratura durante cinco anos e com os mais de 500 mil euros, que tinha nas contas, entregues ao Estado, Figueira continua a manter a versão de que foi vítima de um contrato de trabalho que não resultou. Que não recebeu dinheiro do ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente. E ameaça, mesmo, avançar com uma queixa-crime por denegação da justiça contra os juízes que não acreditaram nele.

Figueira já o tinha dito num dos dois intervalos da leitura, esta sexta-feira, e voltou a reiterá-lo já no fim, em declarações aos jornalistas. Ainda assim, disse que se o tribunal da Relação, para onde vai recorrer, mantivesse a decisão, que cumpriria a pena. Como um homem “honrado”, como sempre se descreveu longo do julgamento que feriu as relações diplomáticas entre Portugal e Angola.

O magistrado Orlando Figueira foi condenado a uma pena única efetiva de seis anos e oito meses de cadeia pelos crimes de corrupção passiva, branqueamento, falsificação de documento e violação do segredo de justiça e proibição de voltar à magistratura durante cinco anos. O advogado Paulo Blanco foi considerado corresponsável (embora por corrupção ativa) e condenado a uma pena suspensa única de quatro anos e quatro meses de prisão, sem necessidade de deixar o exercício da profissão.

“Os esclarecimentos não conformaram uma versão alternativa e verosímil”. “O tribunal não teve dúvidas na coautoria dos factos dos arguidos Orlando Figueira e Paulo Blanco”, concluiu o juiz presidente.

Já o representante de Manuel Vicente, em Portugal, foi absolvido de todos os crimes. O tribunal considerou que Armindo Pires “era alheio a todo este enquadramento”.

O coletivo de juízes, que está a julgar o caso que feriu as relações diplomáticas entre Portugal e Angola, considera que  o magistrado Orlando Figueira arquivou os processos que tinha em mãos para favorecer Manuel Vicente, o ex-vice-presidente angolano. “Para o tribunal a sua tramitação escondia o verdadeiro objetivo que era favorecer o engenheiro Manuel Vicente”, disse o juiz presidente. Recorde-se que Vicente ainda foi arguido no processo, mas os factos em relação a ele foram entregues às autoridades angolanas para investigação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O juiz presidente, Alfredo Costa, que leu uma súmula do acórdão ao longo de quase quatro horas, foi muito crítico em relação à defesa de Orlando Figueira, argumentando que não ficou convencido com a tese de que, por trás da sua saída da magistratura, estaria um contrato com uma empresa do banqueiro luso-angolano Carlos Silva. Durante o segundo intervalo da leitura, o arguido Orlando Figueira acabou por dizer aos jornalistas que admite avançar com uma queixa-crime por “denegação da justiça” contra os juízes caso seja condenado.

O tribunal declarou ainda perdido a favor do Estado mais de meio milhão de euros que estavam nas contas de Figueira. O magistrado deverá também perder todos os valores que tenha na sua posse e que perfaçam os 760 mil euros — o valor que o tribunal considerou provado ter recebido para arquivar os inquéritos em que Manuel Vicente era investigado em Portugal.

Versão dos arguidos não convenceu juízes

O juiz repetiu várias vezes, enquanto lia uma súmula de 535 páginas de decisão, que a “versão” dos arguidos não convenceu o tribunal, sublinhando o facto de Orlando Figueira ter mudado a tese que defendeu em inquérito e durante o julgamento. “Não deixa de ser sintomático que o Orlando Figueira sempre tentou encaixar os factos de forma a ser favorecido na interpretação a dar aos mesmos”, disse.

Ao longo do julgamento, Figueira alegou que abandonou a magistratura para ir trabalhar para Angola, depois de fazer um contrato com a empresa Primagest — que pertenceria ao banqueiro luso-angolano Carlos Silva. Negando sempre que tivesse sido Manuel Vicente a contratá-lo. “Não se vislumbra como atender à tese”, disse o juiz presidente.

Alfredo Costa referiu, também, várias vezes os 760 mil euros que Figueira recebeu nas contas — e que justificou serem resultado de um adiantamento de um ano de contrato de trabalho e de um crédito do BPAE que iria liquidar. Mas o coletivo continua sem entender porque é que o arguido conseguiu um crédito com condições excecionais e, não o tendo liquidado, nunca foi executado. Mais. Porque é que nunca falou na conta que tinha em Andorra e só o fez quando foi confrontado com essa informação.

Tanto Orlando Figueira, como o advogado Paulo Blanco, passaram o julgamento a virar as agulhas para o banqueiro Carlos Silva e para o advogado Proença de Carvalho, como responsáveis pelo alegado contrato assinado pelo magistrado que à data estava no Departamento Central de Investigação e Ação Penal. Ambos prestaram depoimento em tribunal e o coletivo considerou que os dois diziam a verdade: nada tinham a ver com o caso, nem sequer tinham motivações. No entanto, o juiz foi claro quanto a um pormenor que em julgamento foi recusado pelo próprio Carlos Silva: há uma ligação “inequívoca” entre Carlos Silva e Manuel Vicente. Já quanto ao advogado Proença de Carvalho, o juiz disse que “levantou algumas considerações, mas de facto apresentou um discurso com alguma lógica pela apreciação da prova”, o que mais uma vez contrariou a tese do magistrado arguido.

Manuel Vicente foi arguido, mas caso foi entregue a Angola

O caso começou a ser julgado no início do ano com quatro arguidos em tribunal. Os crimes relativos a Manuel Vicente, acusado de corrupção ativa, foram separados num outro processo que foi entretanto entregue às autoridades angolanas. Segundo o Ministério Público, Orlando Figueira tinha sido corrompido por Manuel Vicente para arquivar dois processos que tinha em mãos contra ele. Para o alegado crime teriam contribuído o advogado Paulo Blanco, que normalmente representava o Estado angolano, mas que acabou constituído advogado do governante, e Armindo Pires, um empresário português amigo de Manuel Vicente há mais de 30 anos e com poderes para representá-lo nos seus negócios em Portugal.

Um juiz que chorou, um arguido ameaçado de morte e testemunhas que desapareceram. As curiosidades do julgamento Fizz

No final de seis meses de sessões de julgamento, o MP acabou a pedir envergonhadas penas de cadeia suspensas até cinco anos para o procurador e para o advogado e uma absolvição para o empresário.

A leitura do acórdão chegou a estar marcada para 8 de outubro, mas naquela sessão o coletivo de juízes anunciou que iria fazer algumas mudanças não substanciais à acusação, motivando a reação das defesas — que acabaram a arrolar mais testemunhas empurrando a decisão para esta sexta-feira.

Fizz. Como o caso explosivo que feriu as relações Portugal-Angola se esvaziou

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora