Catalina Pestana, a antiga provedora da Casa Pia que assumiu destaque como uma das defensoras das crianças vítimas de abusos sexuais na instituição, morreu este sábado, aos 72 anos.

A notícia foi avançada pela SIC Notícias, que explica que a antiga provedora estava doente há alguns anos e que terá morrido na sequência de uma infeção hospitalar.

Nasceu em 1946, cresceu no Barreiro e estudou em Setúbal antes de entrar na Universidade de Lisboa para o curso de Filosofia. Professora de profissão, chegou a ser alvo de vigia da PIDE, como recorda o Diário de Notícias, quando organizou férias para os filhos de presos políticos quando dava aulas num colégio feminino. Já depois do 25 de Abril, assumiu a direção do Colégio de Santa Catarina da Casa Pia, única escola mista da instituição, tendo estado à frente do colégio durante 12 anos.

Em 2002, depois de ser conhecido o escândalo de abusos sexuais na Casa Pia, foi convidada pelo ministro Bagão Félix a ocupar o cargo de provedora da instituição. Nessa altura, assumiu uma postura de defesa intransigente dos menores que afirmavam ter sido abusados.

A provedora para quem os abusos na Casa Pia não eram “questão de fé”, mas sim “de prova”

Durante o processo judicial, Catalina Pestana foi várias vezes ouvida pelos investigadores e juízes e manteve a sua convicção de que as vítimas estavam a dizer a verdade. Em 2003, na sequência da prisão preventiva de Carlos Silvino (conhecido por “Bibi”), a provedora garantia em entrevista à agência Lusa que isso estaria a contribuir para que mais vítimas relatassem os abusos de que foram vítimas. O processo em causa, dizia, “não é uma questão de fé, é uma questão de prova”.

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Em Tribunal, afirmou claramente que o historial de abusos sexuais na instituição é longo: “Esta história é longa, não posso dizer se tem décadas ou mais, nem se houve algum período em que não acontecesse, nem lhe posso garantir que agora não aconteça. É tão duro quanto isto”, declarou. Questionada sobre como classificaria a intensidade do abalo provocada pelo caso, Catalina respondeu que seria um “terramoto de grau sete”.

Quando se fizer a história deste processo, todos verão que se houvesse legislação que permitisse investigar tudo o que foi dito a mim, à Polícia Judiciária e ao Ministério Público, o terramoto teria consequências devastadoras”, afirmou em tribunal.

Permaneceu à frente da instituição até ao ano de 2007, quando o julgamento do caso Casa Pia ainda decorria.

O velório de Catalina Pestana decorrerá a partir desta tarde, na igreja de Cruz Quebrada, em Lisboa. O funeral será este domingo, às 12h.