“Quando viu a Jayme Closs, soube que ela era a rapariga que iria levar”. Jake Thomas Patterson era conhecido em Wisconsin, nos Estados Unidos, como um rapaz calado e bom estudante, que foi para a Marinha mas aguentou apenas um mês por lá. O seu destino ficaria escrito depois, num dos dois dias em que foi trabalhar para uma fábrica de queijos na cidade e viu Jayme Closs, de 13 anos, entrar num autocarro escolar. Segundo as autoridades, nunca a tinha visto antes, mas, desde esse momento, Jake meteu na cabeça que a tinha de a levar e ter consigo. E só parou até o conseguir. Para isso assassinou os os pais da adolescente e raptou-a, mantendo-a cativa durante 88 dias. Mas houve um pormenor que alterou a história: Jayme conseguiu escapar e Jake foi preso.

“Ele garante que não sabia quem ela era, nem sequer sabia quantas pessoas viviam em sua casa”, lê-se nos documentos da acusação a Jake, de 21 anos, que está preso desde a passada quinta-feira e vai a julgamento no dia 6 de fevereiro, depois desta segunda-feira ter sido realizada uma audição preliminar. “Quando viu Jayme Closs, soube que esta era a rapariga que iria levar”, acrescenta o documento, citado também pelo El País.

Toda a história, desde o momento em que Jake entrou na casa da família Closs até levar a rapariga para uma casa isolada, revela os pormenores com que tudo foi feito. Até conseguir raptar Jayme, Jake Patterson visitou a casa da família três vezes. Na primeira, viu vários carros estacionados à entrada e decidiu desistir. Na segunda reparou que estavam demasiadas pessoas dentro de casa para poder fazer alguma coisa. À terceira tentativa, na noite de 15 de outubro de 2018, Patterson voltou à mesma rua com o seu Ford Taurus e a arma que pertencia ao seu pai.

O processo foi metódico: antes de sair de casa, o jovem limpou com cuidado a arma e os cartuchos, tocando neles apenas com luvas para não deixar qualquer hipótese de identificação. Fez a barba, rapou o cabelo e tomou banho antes de sair. Levava botas de bico de aço, calças de ganga, casaco preto e luvas da mesma cor e uma máscara que comprou no Walmart.

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Durante a viagem, Jake ia trocando as matrículas do seu carro, para que ninguém o conseguisse localizar ou seguir o seu percurso pelas câmaras de vigilância das estradas. Desligou a luz da cabine do carro para que ninguém pudesse vê-lo quando abrisse a porta, bem como a do porta-bagagens, detalham os documentos da acusação.

Jake disse estar determinado em matar qualquer pessoa que estivesse em casa de Jayme para não deixar testemunhas. Segundo o relato da adolescente, todos estavam a dormir quando o seu cão começou a ladrar com o movimento de alguém a chegar a casa. Ela viu que havia um carro estacionado à porta e foi acordar os pais. Foi o pai quem veio ver o que se passava, com uma lanterna para o guiar no meio do escuro. Jake viu James Closs chegar à entrada e gritou para que baixasse a lanterna. Mas ele continuou. O jovem aproximou-se da janela enquanto o pai da jovem pedia para lhe mostrar o distintivo, pensando tratar-se de um agente da polícia. Jake pegou na arma, apontou à cara de James e apertou o gatilho.

Depois de matar James Closs, arrombou a porta da entrada e inspecionou a casa toda para saber se existia mais alguém lá dentro. A acusação diz ainda que foi na casa de banho que a mãe e a sua única filha estavam escondidas, depois de terem ouvido os disparos. Jake abriu a cortina da banheira e encontrou as duas abraçadas. Tirou um rolo de fita cola e pediu a Denise Closs que tapasse a boca de Jayme. Vendo que a mãe era incapaz de fazer o que ele mandava, foi o próprio raptor que decidiu colar a boca à rapariga, bem como amarrar os seus pulsos e tornozelos. Já com a jovem ao seu lado, apontou a arma que tinha à cabeça da mulher e disparou.

O quarto onde Jayme esteve em cativeiro durante 88 dias

Quando conseguiu levar Jayme, Jake colocou-a no porta-bagagens do carro, tirou a máscara e, durante cerca de duas horas, conduziu até à cabana que pertencia à sua família, perto de Gordon, uma povoação rodeada por floresta e com cerca de 630 habitantes. Foi nesta casa que a jovem terá sido mantida durante três meses.

Apesar de ainda não se saber ao certo o que aconteceu a Jayme durante estes 88 dias, as autoridades revelaram que, quando tinha de ficar sozinha na cabana ou havia visitas na casa (e isto acontecia durante várias horas seguidas), ela era obrigada a esconder-se debaixo da cama que foi colocada numa esquina do quarto. O lado que ficava livre, revelam os documentos da acusação, tinha caixas e baldes pesados para que não não houvesse hipótese de fuga. Para não se ouvir nada, Patterson deixava o rádio ligado sempre que saía de casa. Jayme ficava muitas vezes sem comer, beber ou ir à casa de banho. Se fugisse, “coisas más podiam acontecer”, avisava.

A notícia do desaparecimento foi dada em novembro e durante várias semanas as autoridades procuraram alguma pista sobre o rasto da adolescente. Segundo o New York Times, os pais da rapariga de 13 anos viviam há décadas na pequena cidade de Barron e trabalhavam numa loja da cadeia Jennie-O, vendedora de produtos à base de carne de peru. Eram conhecidos pela comunidade e participavam com frequência nas atividades religiosas da paróquia local, na St. Peter’s Catholic Church.

Na passada quinta-feira, Jake esteve fora durante seis horas e quando voltou a jovem não estava debaixo da cama, tal como ele estava à espera de a encontrar. Jayme conseguiu empurrar os objetos que tapavam o lado livre da cama, calçou uns sapatos que encontrou e fugiu para casa de uns vizinhos, onde depois deu a descrição do veículo que o seu raptor utilizava à polícia. Pelo caminho, teve a ajuda de uma mulher que estava a passear o cão quando a viu fugir a correr.

Uma mulher que estava a passear o cão ajudou Jayme Closs quando ela fugiu da cabana do sequestrador

O sequestrador foi detido 11 minutos depois, quando andava à procura da adolescente. Segundo a acusação, a polícia apenas o mandou parar, pediu o seu nome e perguntou se sabia porque estava a ser mandado parar. “Fui eu que o fiz”, confessou de imediato.

Jake Thomas Patterson está agora acusado de sequestro, assalto e homicídio em primeiro grau. O juiz estabeleceu uma fiança de cinco milhões de dólares para assegurar que Jake não vai sair da prisão até que o julgamento tenha início. De acordo com os procuradores, o jovem confessou os crimes e deu os detalhes sobre o que aconteceu. Mas não revelou os motivos para os crimes.

Quanto a Jayme, passou a noite de quinta-feira no hospital e no dia seguinte esteve com a sua tia, o avô e mais familiares, que garantem que a adolescente nunca teve qualquer contacto com o raptor antes do crime e que não conhecem Jake Patterson.