Simone vive, por estes dias, no interior Art Deco do Le Bon Marché, em Paris, e coexiste com as marcas de luxo disponíveis nos armazéns fundados no século XIX. Revela-se imponente e carismática. Abraça as escadarias rolantes, sobe até ao topo do terceiro andar e invade as montras viradas para as ruas na margem esquerda do rio Sena. É branca e reluzente. É também a valquíria mais recente da portuguesa Joana Vasconcelos, que se apresentou vestida toda de branco, numa criação da sua designer de referência e amiga Alexandra Moura.

A exposição “Branco Luz” estreou esta quinta-feira, dia 16 de janeiro, em Paris e teve direito a festa com alma portuguesa. Passava pouco depois das 21h (hora local) quando Paulo Bragança entrou em cena. Os acordes da guitarra portuguesa, que soaram pelos armazéns e perfuraram conversas alheias, serviram de mote para a entrada do fadista, que começou a atuação nas escadas rolantes e depressa chegou ao palco instalado no centro do Le Bon Marché.

The Parisian Le Bon Marché Rive Gauche, world’s oldest department store, invited Joana Vasconcelos to devise an…

Posted by Joana Vasconcelos on Friday, January 11, 2019

Paulo Bragança foi parte de uma noite maior. Nas bandejas que circulavam pelos corredores apertados, cheios de gente, o receituário luso esteve em destaque: das pataniscas aos pastéis de bacalhau, passando por sobremesas desenhadas na forma de corações de Viana. Mas nada deu tanto nas vistas como a valquíria da artista, com 35 metros de comprimento, 12 de largura e 10 de altura.

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O projeto há muito que estava a ser pensado: há dois anos Joana Vasconcelos recebeu o convite para desenhar o que quisesse, desde que a peça fosse branca. Ao Observador, a artista plástica conta que visitou o Le Bon Marché pelo menos três vezes para estudar dimensões e escalas corretas, não fossem as peças tailor-made, mas também para acertar a minuciosa iluminação que dá vida à valquíria de tentáculos imensos.

A única coisa que me pediram foi que a peça fosse branca. Dentro das minhas valquírias já tinha feito uma preta, uma cor de rosa, uma dourada e queria fazer uma branca. Surgiu a oportunidade e o local certos. Foram dois anos de trabalho, a peça foi desenhada para aqui, na escala correta. São peças feitas especificamente para os sítios”, diz ao Observador.

©artandhouses_daily / Instagram

A valquíria foi construído com a ajuda de 60 pessoas, desde costureiras a engenheiros e arquitetos. A sua pele é revestida por diferentes tecidos portugueses — graças ao apoio da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal –, cujas texturas são percetíveis a olhos nu, e as veias são feitas de luzes LED, ora azuis, ora roxas. A estrutura de enormes dimensões, construída em aço e ferro, não foi difícil de transportar, uma vez que é insuflável, mas sim difícil de pendurar. A obra que leva o nome de Simones que marcaram a cultura francesa — de Simone Veil, política e ativista, a Simone de Beauvoir, escritora e filósofa — vai decorar o Le Bon Marché durante dois meses.

Le Bon Marché Rive Gauche invited Joana Vasconcelos to devise an installation for its space, after the artists Ai Weiwei, Chiharu Shiota and Leandro Erlich. BRANCO LUZ, from 17 January to 17 February.———–Le Bon Marché Rive Gauche desafiou Joana Vasconcelos a criar uma instalação para o seu espaço, depois dos artistas Ai Weiwei, Chiharu Shiota e Leandro Erlich. BRANCO LUZ, de 17 de janeiro a 17 de fevereiro.#joanavasconcelos #lebonmarche #valkyrie

Posted by Joana Vasconcelos on Wednesday, January 16, 2019

A agenda da artista plástica portuguesa — considerada pela edição europeia do Politico uma das 28 pessoas mais influentes em 2019 — anda cheia, muito cheia. Além de chegar à Fundação Serralves, no Porto, no próximo dia 14 de fevereiro, Joana Vasconcelos vai expor nos meses que se avizinham em Colónia, na Alemanha, em Edimburgo, na Escócia, em Roterdão, na Holanda, e em Madrid, em Espanha.