Henrique Amaro, nome histórico da rádio portuguesa, tinha duas certezas. Primeira: “Não é habitual vermos música ao vivo na televisão portuguesa, nunca foi”. Segunda: “Fazia falta um programa agradável, que procurasse um diálogo entre bandas.” E assim nasceu a nova proposta da RTP1. “Elétrico”, com autoria e curadoria de Henrique Amaro e realização de André Tentúgal, é um programa semanal de música portuguesa, ao vivo, gravado no Teatro Capitólio, em Lisboa. Não há data precisa de arranque, mas a estreia está anunciada para abril.

Foi esta uma das novidades da RTP1 divulgadas à imprensa na terça-feira à tarde, precisamente no Capitólio. Além de “Elétrico”, em parceria com a estação pública de rádio Antena 3, onde Henrique Amaro divulga música portuguesa há mais de duas décadas, há dois programas radiofónicos de Fernando Alvim que vão saltar para o pequeno ecrã: o talk show “Prova Oral” (com estreia na terça, dia 12) e o top semanal “A3.30” (que se estreou no dia 3).

Ao Observador, o diretor da Antena 3, Nuno Reis, explicou que a RTP1 “quer agarrar outros públicos e audiências que muitas vezes lhe escapam, sobretudo  na área da música portuguesa” e a Antena 3 “é um dos veículos para lá chegar”. “Temos feito um trabalho de aproximação à imagem desde há três ou quatro anos, com algumas experiências na RTP2, nomeadamente o programa ‘No Ar’. As novidades que agora apresentamos permitem-nos continuar a expandir esse raio de ação”, acrescentou.

“Não é um duelo, é um diálogo”

“Elétrico” terá uma primeira série de 12 episódios, cada qual com 60 minutos de duração. As bandas convidadas já foram escolhidas, tarefa partilhada por Henrique Amaro, Nuno Reis e Luís Oliveira (editor de música da Antena 3 e apresentador do programa da manhã, ao lado de Ana Markl e Inês Lopes Gonçalves). A nomes bem conhecidos – Márcia, Sara Tavares, David Fonseca, B Fachada, Sam the Kid, The Parkinsons ou Dead Combo – juntam-se bandas ou intérpretes em ascensão – Conan Osiris, Isaura, Dino D’Santiago, Joana Espadinha, Stereossauro, Selma Uamusse ou Luís Severo.

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Um programa focado na lusofonia, mais do que na música portuguesa? “Não propriamente, é apenas a música do Portugal contemporâneo”, respondeu Henrique Amaro.

“Não vamos buscar ninguém diretamente ao Rio de Janeiro ou a Maputo. São pessoas que nasceram lá, eu por acaso também nasci em Maputo, mas que convivem e fazem música em Portugal. A maneira como hoje se pensa um festival ou um programa de música tem de ter em conta o país em que vivemos”, explicou o radialista. “O país hoje tem esta lusofonia imediata, que se cruza connosco na rua e não precisa de apanhar um avião.”

As gravações começam em breve e serão feitas em três momentos de quatro dias, ou seja, ao longo de 12 noites. Em cada programa, atuam duas bandas e cada qual interpretará cinco temas. Os ouvintes da Antena 3, os espectadores da RTP e os seguidores dos artistas nas redes sociais serão convidados a juntarem-se no Capitólio nos dias das gravações.

“Elétrico” é uma ideia de Henrique Amaro, radialista e divulgador de música portuguesa

Em “Elétrico” não haverá um apresentador clássico, que interpela as bandas entre cada atuação. Henrique Amaro grava um trecho de abertura e outro de encerramento e pelo meio serão apresentadas “histórias” pré-gravadas, a cargo da também radialista Vanessa Augusto, com curiosidades sobre as bandas.

“Quisemos fugir à lógica de que um programa de música ao vivo possa ser apenas câmaras, uma mesa de som e uma sala. A ideia foi esquecer o palco. As bandas vão atuar de frente uma para a outra, na plateia do Capitólio, sem cadeiras, e o público vai ocupar o espaço físico e movimentar-se da forma que quiser”, detalhou o autor. “Later… With Jools Holland”, programa histórico da BBC com música ao vivo, foi uma das inspirações e o mesmo se diga do conhecido “Taratata”, da televisão pública francesa, duas referências para Henrique Amaro.

[Iggy Pop em 2016 no “Later… With Jools Holland”]

“Não é um programa que procure ruturas, procura o complemento entre os artistas, mesmo que quem está frente a frente não tenha uma afinidade direta. Não há uma competição entre as duas bandas que se apresentam em cada programa, não é um duelo, é um diálogo. Cada qual mostrará o seu trabalho e alguns de certeza que vão fazer colaborações ao vivo”, adiantou Henrique Amaro.

“Um registo mais biográfico”

Quanto a Fernando Alvim, fará agora a adaptação televisiva de dois programas que já protagoniza na rádio e ambos os formatos se mantêm. A tabela dos 30 temas mais votados pelos ouvintes da Antena 3, o “A3.30”, estreou-se no último domingo à tarde, na RTP1. São óbvias as diferenças. Em lugar de duas horas, tem apenas 60 minutos, e passa meia dúzia de videoclipes, em vez da lista inteira de canções votadas. Os textos humorísticos e as curiosidades musicais permanecem.

Já o “Prova Oral”, famoso programa diário da 3 em que se debatem temas atuais com informalidade, fará a estreia televisiva já na próxima terça-feira à noite, e nesse horário se manterá ao longo de 52 episódios, em ritmo semanal. Terá duas coapresentadoras, Xana Alves e Catarina Moura, que já hoje estão aos microfones. “É o formato radiofónico que já existe há 15 anos, mas agora aliado à imagem”, resumiu Fernando Alvim ao Observador.

“Não posso revelar muito, posso dizer que continuará a ser um talk show, mas não em direto. Vamos gravar live on tape e o que se perde por não ser em direto ganha-se com a existência de imagem. Ao contrário do programa de rádio, em que muitas vezes temos um tema central, o programa de televisão estará mais centrado em dois convidados semanais. Talvez seja um registo mais biográfico”, explicou Fernando Alvim.

Fernando Alvim apresenta “Prova Oral” desde há 15 anos

Continuará a interação com a audiência, que intervém com perguntas e comentários, enviadas por Whatsapp, por exemplo. “Não teremos espectadores em estúdio, mas eles entram por via digital. Não é bem como o José Eduardo Moniz faz agora na TVI, até porque dará menos bronca”, ironizou o apresentador, segundo o qual era antiga a ideia de transitar para a TV. “Agora, sim, estamos maduros o suficiente para dar este passo”, sublinhou.

Sobre se a migração dos programas da rádio para a TV pode canibalizar audiências e afastar ouvintes da 3, Nuno Reis respondeu que “não há choque”. “Acho que as coisas se complementam e no caso da RTP1 vai ser possível apanhar uma fatia de público que pode estar um pouco afastada”, disse, referindo-se a um público considerado jovem.