Recuperando o lance do segundo golo do Atl. Madrid na passada quarta-feira, há aquele livre lateral de Griezmann batido da direita em arco, um primeiro corte incompleto da defesa da Juventus que deixou a bola na área e a recarga sem hipóteses para para Szczesny de Godín. Entre a baliza e o central uruguaio estava Cristiano Ronaldo, que tentou bloquear o remate virando as costas à bola. Numa noite de desilusão para os transalpinos, tudo virou alvo de crítica e o português, talvez pela primeira vez desde que chegou a Itália, não fugiu a essa mira. Mesmo tendo sido um dos melhores dos bianconeri (analisando só a parte estatística, foi o mesmo melhor), foi aquela imagem que ficou. Essa e os cinco dedos levantados, no relvado e na zona mista.

“Eu, cinco Champions. Atleti, zero. Eu cinco, Atleti zero”: o adeus de Ronaldo a Madrid na zona mista

Ao longo de uma década e meia, desde que começou nos seniores do Sporting e passou para o Manchester United, o avançado tem vivido de desafios. Trabalha como ninguém para os êxitos coletivos, sabe que é assim que chegará aos galardões individuais. Depois de ter ganho tudo em Inglaterra, voltou a ganhar tudo em Espanha pelo Real Madrid ao longo de nove anos e partiu para Turim com essa meta de voltar a ganhar tudo em Itália pela Juventus. No entanto, e ao contrário do que encontrou nas anteriores aventuras, não tem um Chelsea em ascensão nem um Barcelona do tiki taka para dar outro brilho ao Campeonato. Ali, ganhar a Serie A não é mais do que uma obrigação, perder funciona como desastre completo; ali, ir à final da Taça não era mais do que uma obrigação, a derrota com a Atalanta motivou logo reuniões entre técnico e dirigentes. Sobra a Champions, o grande desafio da Juventus (adiado há muitos anos) e de Ronaldo – que ganhou quatro só nos últimos cinco anos.

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“Quando perdemos, todos dizem mal mas temos de calar os críticos. Para isso, contamos com bons jogadores e o Ronaldo é o maior exemplo. É o melhor do mundo e transmite-nos serenidade. Até depois da derrota em Madrid, ele fez isso”, dizia Allegri no lançamento da partida frente ao Bolonha. O mote para a ressaca europeia estava dado e passava por uma exibição convincente que permitisse fazer acreditar na reviravolta daqui a duas semanas e meia, na segunda mão da eliminatória com o Atleti – e com essa vantagem de manter pelo menos a vantagem de 13 pontos na Serie A antes da deslocação a Nápoles. Mas havia mais, como a presença de mais de dez mil adeptos nas bancadas ou a homenagem a Donna Marella (daí os fumos negros esta tarde), viúva de Gianni Agnelli e figura muito querida no clube e na sociedade transalpina que morreu aos 91 anos. No final, o resultado acabou por ser uma das poucas notícias a retirar, tamanha foi a desinspiração da Vecchia Signora

Antes do início do encontro, Sinisa Mihajlovic, técnico que assinou pelo Sporting, viu o seu contrato rescindido dez dias depois pela nova SAD leonina e agarrou no início do ano o comando do Bolonha, tinha prometido uma equipa destemida a jogar contra a campeã. “Medo? Só da minha mulher”, brincou o antigo jogador sérvio, conhecido pela capacidade de remate de fora da área (ou os golos de livre, descritos tantas vezes como penáltis de longe com barreira para o esquerdino). E foi dessa forma que o conjunto visitado foi criando perigo junto da baliza de Mattia Perin: já depois de um primeiro aviso a abrir, Nicola Sansone rematou ao lado à entrada da área (10′), Simone Edera também ficou assim perto do golo (24′) e Santander, num trabalho individual a ganhar espaço começando o lance de costas para a baliza, voltou a atirar com muito perigo (29′). O último, avançado paraguaio de 27 anos, foi sempre um adversário complicado para Bonucci e Chiellini mas sem o sucesso desejado.

Com a saída de bola a partir da sua área bloqueada, a Juventus fez uma das piores primeiras partes no Campeonato na presente temporada, com apenas dois remates (contra oito do Bolonha) e uma única oportunidade saída do génio individual de Federico Bernardeschi, a “inventar” uma jogada da direita para o meio antes do remate em arco com o pé esquerdo a passar muito perto do poste da baliza de Skorupski (32′). Allegri lançou uma nova fórmula, com João Cancelo numa posição mais adiantada à direita que permitia desenhar um 4x4x2 mais puro ou transformar a equipa num 3x4x3 com Bernardeschi mais ao centro, mas teve um resultado nulo que secou também as duas grandes referências ofensivas, Mandzukic e Ronaldo, o último a ter apenas uma oportunidade para virar a baliza contrária… e apenas no penúltimo minuto de descontos do jogo.

Tudo começou a mudar aos 58′, quando Allegri lançou Dybala. Foi do argentino que surgiu o primeiro safanão do jogo pelo corredor central que desequilibrou a transição defensiva do Bolonha, foi do argentino que apareceu finalmente o golo quando a Juventus não tinha ainda criado mais nenhuma oportunidade, aproveitando um corte incompleto após cruzamento de Matuidi (66′). O Bolonha, que criara antes mais uma boa situação na sequência de um canto, sentiu em demasia esse golpe, teve um período mais complicado mas ainda foi a tempo de acertar no poste no primeiro minuto de descontos por Sansone, num lance que teve início num lançamento lateral que a defesa bianconeri não conseguiu afastar de forma conveniente da zona de perigo.