Foi “um simples recontar da história”. É assim que Lucy Mangan, crítica de televisão do jornal The Guardian, descreve o documentário “O Desaparecimento de Madeleine McCann”, que estreou esta sexta-feira na Netflix. A crítica considera-o “tão moralmente e criativamente falhado” que, acredita, os espetadores teriam uma “melhor perceção” sobre o caso da criança desaparecida no Algarve em 2007 se se “sentassem sozinhos numa sala escura por 10 minutos para tentar [sentir] a angústia dos pais”

“Foi puramente uma repetição de tudo o que, para quem estava vivo na altura ou tem idade para perceber os apelos periódicos — em aniversários do desaparecimento, datas de nascimento e outras datas dolorosas — dos McCann, já se sabia”, escreve Lucy Mangan, que atribuiu uma estrela (de zero a cinco) ao documentário, garantindo:

Não foi o desinteresse de um caso esquecido, não foi a reanálise de um erro da justiça suspeito. Não revelou novos factos, nenhuma nova visão. Nem sequer tinha um ponto de vista”, escreveu no The Guardian.

A crítica — na análise intitulada: “Um falhanço moral” — lamenta que o primeiro episódio da série seja ocupado com “o desaparecimento, o pânico, o horror inicial e a demora da resposta da polícia”. No fundo, escreve, resume-se à descrição de “todos os becos sem saída, todas as partes de uma história que ainda não tem fim recapitulados de forma inútil”. Mais: Lucy Mangan critica o facto de os episódios serem preenchidos “por comentários estranhos”, como “a história do Algarve como um destino de férias, os relatos de jornalistas e de como eles correram para o local e, em seguida, os seus relatos de como esperaram e não receberam qualquer notícia”.

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[Veja o trailer do documentário “O Desaparecimento de Madeleine McCann”]

O facto de não ter sido havido uma “ronda de entrevistas publicitárias antes da estreia” era, para Lucy Mangan, um presságio: “Nunca é um sinal de grande confiança no produto”. Isso e o facto de a estreia ter sido adiada várias vezes. “Valeu a pena a espera? Confundiu os rumores e os céticos? Não e não”, escreveu.

Esta opinião não é única e é partilhada, aliás, por outros críticos britânicos. David James Smith, por exemplo, defende, na sua crítica para o The Sunday Times, que “ainda não sabemos o que o que aconteceu a Madeleine” e o documentário — que procura provar a teoria de que a criança desaparecida no Algarve há quase 12 anos está viva depois de ter sido raptada por um grupo ligado ao tráfico de pessoas — também “não parece pôr-nos mais perto de uma resposta”.

Já Ed Power, na crítica que escreve para o The Telegraph, considera que o documentário é “manipulador” e “não nos diz nada de novo”. O crítico conclui e lamenta que “O Desaparecimento de Madeleine McCann” tenha vindo “simplesmente confirmar que o género de casos de crime reais se tornou um prisioneiro das tendências mais crassas”.