A distribuição de fruta e legumes nos lanches dos alunos do 1.º ciclo vai ser alargada ao pré-escolar, anunciou a responsável pelo programa da Direção-Geral da Saúde (DGS), que reconhece que a iniciativa tem ficado aquém do esperado. Em declarações à agência Lusa, a diretora do Programa Nacional para a Alimentação Saudável da DGS, Maria João Gregório, reconheceu que o programa financiado pela União Europeia de distribuição de fruta e legumes “não está a ter o sucesso desejado”.

Só no passado ano letivo, mais de 230 mil crianças ficaram de fora do programa europeu de distribuição de fruta, legumes e leite nas escolas, porque Portugal usou apenas 1,7 milhões dos 5,5 milhões atribuídos pela União Europeia (UE), segundo dados de um relatório da UE a que a Lusa teve acesso.

Duas vezes por semana, o lanche de todas as crianças do 1.º ciclo deveria incluir uma peça de fruta ou um legume, segundo o programa europeu destinado a criar bons hábitos alimentares e a combater a obesidade infantil.

No entanto, a maioria dos municípios não tem aderido ao programa, que é uma parceria entre os ministérios da Agricultura, Educação e Saúde.

Os gabinetes deste ministérios sublinharam que a operacionalização do projeto cabe ao Ministério da Agricultura que, até ao momento, não respondeu às questões da Lusa.

Maria João Gregório reconheceu que a iniciativa não “está a ter o sucesso desejado”, apesar de “estar bem desenhado” e ser “importantíssimo, já que permite a distribuição de alimentos com elevado valor nutricional”.

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Também os diretores escolares lamentam que as autarquias estejam a desperdiçar estes fundos europeus.

É um programa muito importante e ainda por cima é gratuito para as autarquias e para os cofres do Estado. É pena ver essas verbas irem para trás”, lamentou o presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, em declarações à Lusa.

Para tentar aumentar a participação das autarquias, a Direção-Geral da Saúde vai trabalhar no sentido de “aumentar a divulgação do programa e motivar as escolas e autarquias a participar mais”, acrescentou a diretora da DGS.

Maria João Gregório anunciou ainda que o programa será alargado às crianças do pré-escolar, à semelhança do que já acontece numa escola de Vila Nova de Gaia.

Na Escola Básica das Devesas, a fruta é oferecida a todas as crianças, desde que entram no pré-escolar até que terminam o 4.º ano de escolaridade. Ali, os lanches das quartas e quintas-feiras das 317 crianças incluem sempre uma peça de fruta, explicou à Lusa a professora Arminda Santos, coordenadora da escola.

“Antes os miúdos traziam muitas vezes bolos e ‘croissants’, mas agora já há muitos que trazem fruta”, sublinhou, explicando que a autarquia “apelou aos encarregados de educação para que enviassem fruta nos outros dias da semana” e o pedido tem sido levado a sério por muitos pais.

No próximo ano, a DGS vai avaliar o impacto do programa da fruta, legumes e leite, revelou à Lusa a diretora da DGS, sublinhando que o programa de distribuição do leite tem sido um sucesso.

Ao contrário do que aconteceu com a fruta e as hortícolas, a distribuição de leite abrange atualmente a grande maioria dos alunos: No ano passado receberam pacotes de leite 119.464 crianças do pré-escolar (97,2%) e 332.407 do 1.º ciclo (99%).

A União Europeia atribuiu cerca de 657 mil euros para o programa da fruta e legumes e 1045 euros para o leite. Resultado: Os restantes 3,8 milhões do programa criado para incentivar as crianças a comer melhor nunca chegaram a Portugal.

A Lusa contactou o Ministério da Agricultura para perceber porque razão só foram usados cerca de 1,7 milhões de euros assim como quais as autarquias que participavam no programa, mas não obteve resposta até ao momento.

Os últimos números disponíveis mostram que as autarquias têm vindo a desistir da iniciativa: Quando o programa foi implementado, no ano letivo de 2009/2010, aderiram 154 autarquias, mas, sete anos depois, já só havia 114 autarquias envolvidas.

Maria João Gregório lembrou que alguns municípios já tinham projetos locais de distribuição de lanches saudáveis e por isso poderão ter decidido não aderir ao programa.

Também Filinto Lima disse conhecer municípios que preferem gastar do seu próprio orçamento para distribuir fruta pelas crianças, porque consideram “os processos de acesso ao programa muito complicados e burocráticos” e porque “muitas vezes as verbas não chegam a tempo”.