A sede da EDP e o Terminal de Cruzeiros de Lisboa, projetado pelos ateliês dos arquitetos Aires Mateus e Carrilho da Graça, respetivamente, são os vencedores do Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura relativo ao ano de 2017. O anúncio foi feito durante a tarde desta quinta-feira na Câmara Municipal de Lisboa, que promoveu a iniciativa em colaboração com a Trienal de Arquitetura. Este é o quarto Valmor atribuído a Carrilho a Graça e o terceiro atribuído a Aires Mateus.

Procurando corresponder à empresa que representa, o edifício da sede da EDP, na Avenida 24 de Julho, “projeta uma aparência elétrica e enérgica, que se transforma com a luz do dia e o local de onde é observado”. “É desenhado por uma única linha, que lhe atribui volume e expressão, sem perder leveza e permeabilidade”. As “lâminas de ensombramento — perfis metálicos revestidos a placas de cimento branco reforçado com fibra de vidro — respondem à necessidade de sustentabilidade energética do edifício e garantem a flexibilidade programática interior e o suporte dos vários pisos”, refere a descrição disponibilizada pela Trienal de Arquitetura.

Em declarações à Agência Lusa, o arquiteto Manuel Aires Mateus, que classificou o Valmor como uma “distinção importante”  explicou que a sede da EDP foi concebida para “dialogar com a cidade”. Trata-se de um “edifício que quer criar a primeira praça sombreada da cidade”, constituindo também “um espaço de arejamento da rua D. Luís”. “É uma tradição que vem desde o Bairro Alto, que foi claramente desenvolvida na cidade iluminista, com a Baixa, em que tudo são enfiamentos perpendiculares ao rio, exatamente para privilegiar essa relação entre a cidade e o rio. Agarrámos nesse princípio que a cidade sempre consagrou e transformámo-lo, numa escala com outra dimensão.”

O novo Terminal de Cruzeiros de Lisboa, na Avenida Dom Afonso Henriques, foi “construído sobre o plano desafogado do aterro ribeirinho”. “Levantada do chão, a edificação transforma-se num miradouro entre o Tejo e Alfama. Cega do lado do rio, de onde se lê como um discreto embasamento pétreo da cidade, e vincando-se, do lado terra, apenas o suficiente para revelar os pontos de acesso”. O edifício encontra-se enquadrado por “uma alameda arborizada antecipa uma evolução além do seu uso como gare marítima”.

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A criação de uma zona arborizada foi uma das principais preocupações de João Luís Carrilho da Graça, que quis criar “espaço público acessível”. “Desde o princípio pensei que o terminal poderia ter um programa funcional impecável — já teve um prémio pela sua funcionalidade –, mas, sendo parte da cidade, quis sempre pensá-lo do ponto de vista da cidade e das pessoas que cá vivem e visitam”, contou o arquiteto à Agência Lusa. No que diz respeito ao edifício propriamente dito, Carrilho da Graça propôs um “diálogo” entre frente ribeirinha, “que é como se fosse uma espécie de anfiteatro no edifício, côncavo, e o grande anfiteatro que é Alfama a olhar para o rio”.

O arquiteto quis criar uma obra que tivesse “uma certa densidade, como se fosse, além de construído, esculpido”. Com esse objetivo em mente, pensou em criar fachadas em betão, mas os engenheiros comunicaram-lhe que o sistema de fundações, pré-existente ao concurso, estava no limite da capacidade de suporte. Desta contrariedade, nasceu o betão com cortiça, desenvolvido com o apoio da SECIL, da Amorim, e do laboratório de engenharia de Coimbra ITECons, que tem “menos 40% de densidade e é um betão estrutural com grande capacidade de resistência”.

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Aires Mateus recebeu o primeiro Prémio Valmor em 2002, pelo edifício da reitoria da Universidade Nova de Lisboa, em co-autoria, e em 2013, igualmente uma co-autoria, pela cobertura da ETAR de Alcântara. Carrilho da Graça foi distinguido em 1998, pelo Pavilhão do Conhecimento, e dez anos depois, em 2008, pela Escola Superior de Música. Em 2010, foi premiado pelo projeto de alteração de um edifício de habitação na Calçada do Combro.

As quatro menções honrosas do Prémio Valmor 2017 foram atribuídas ao Palacete de Santa Catarina (arquiteto Teresa Nunes da Ponte), ao Lisbon Stone Block (arquiteto Souza Oliveira), a uma casa em Alfama (Matos Gameiro Arquitetos) e ao projeto do Largo de Santos e vias adjacentes (92 Arquitectos, João Almeida e Luís Torgal, e arquiteto paisagístico Victor Beiramar Diniz).

As maquetas dos seis projetos premiados estarão em exposição a partir desta sexta-feira até ao final do mês no CIUL — Centro de Informação Urbana de Lisboa, no Picoas Plaza, piso 1. Poderão ser visitadas de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h. A entrada é livre. Ainda no âmbito da atribuição do Prémio Valmor, decorrerá um programa especial composto por duas conferências, no dia 22 de abril, e quatro visitas com os autores dos dois edifícios vencedores, também com entrada gratuita. As visitas têm lotação máxima de 25 pessoas e é necessário marcar previamente (a partir de dia 16) através da plataforma eventbrite.pt.

Instituído em 1903, o Prémio Valmor é um dos mais importantes galardões de arquitetura atribuídos em Portugal. Surgiu na sequência das indicações deixadas em testamento pelo segundo e último visconde de Valmor, Fausto Queiroz Guedes, diplomata, político, membro do Partido Progressista, par do reino, governador civil de Lisboa e grande apreciador de belas artes, como explica o site da Câmara Municipal de Lisboa.

No seu testamento, o visconde de Valmor, que morreu em França em 1878, doou uma quantia de dinheiro à cidade de Lisboa para que fosse criado um fundo que deveria ser usado para atribuir um prémio ao autor e proprietário da casa ou prédio edificado mais bonito. As regras foram mais tarde alteradas de modo a incluir todos os tipos de edifícios — novos, remodelados, reabilitados ou projetos de intervenção no espaço público, de natureza pública ou privada –, fundido o antigo Valmor com Prémio Municipal de Arquitetura, que tinha sido criado em 1943. O galardão é atribuído anualmente, mas houve “um atraso entre 2013 e 2016”, que está agora “a ser recuperado”, referiu à Lusa fonte oficial da autarquia.

O Prémio Valmor relativo ao ano de 2016 foi atribuído à alteração do Cine-Teatro Capitólio, no Parque Mayer, da autoria do arquiteto Alberto Souza Oliveira. As menções honrosas foram para a alteração do Centro Comercial Caleidoscópio, no Campo Grande (arquiteto Pedro Lagrifa Carvalhais de Oliveira) e para a construção do MAAT — Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, na Avenida Brasília, em Belém (arquiteta Amanda Jane Levete).