Afinal, o Vox não vai participar nos debates que vão anteceder as eleições gerais de Espanha, de 28 de abril. A notícia surge depois de uma decisão da Junta Eleitoral Central, que interditou aquele partido de participar num debate programado pelo grupo mediático Atresmedia (dono da televisão La Sexta e da rádio Antena 3), que deveria acontecer entre o PSOE, o PP, o Unidas Podemos, o Ciudadanos e aquele partido de extrema-direita.

Na base da decisão está o facto de o debate não só prever a participação do Vox — que, para já, não tem representação nas duas câmaras do parlamento espanhol — como ainda afastar dele partidos mais pequenos que ali estão representados. Foram precisamente três destes partidos — Esquerda Republicana da Catalunha, Coligação Canária e o Partido Nacionalista Basco — que apresentaram a queixa à Junta Eleitoral Central que culminou nesta decisão.

De acordo com a avaliação da Junta Eleitoral Central, citada pelo El País, um debate entre os quatro maiores partidos de Espanha e o Vox “é contrário ao princípio da proporcionalidade, que deve ser respeitado pelas televisões privadas durante os períodos eleitorais”.

O fundador e líder do Vox, Santiago Abascal, reagiu no Twitter à notícia, insinuando que o governo de Pedro Sánchez estará por detrás desta decisão:

Há quem não saiba o que fazer para excluir o Vox ou incluir os seus sócios separatistas e golpistas no debate”.

No post partilhado por Santiago Abascal, escrito pela ex-deputada do União Progresso e Democracia Rosa Díez, era recordado que, em 2015, houve debates com o Ciudadanos e o Podemos, apesar de estes partidos não terem, à altura, representação parlamentar.

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Do outro lado do espetro político, também o líder do Podemos, Pablo Iglesias, se insurgiu contra a decisão anunciada esta terça-feira. “A junta eleitoral deveria obrigar todos os candidatos à presidência a debater na televisão pública pelo menos duas vezes. Vetar candidatos na [televisão e rádio] privada é absurdo. Há que legislar já para tornar os debates de candidatos obrigatórios”, escreveu no Twitter.

Também o presidente do Partido Popular, Pablo Casado, reagiu à notícia atirando contra Pedro Sánchez, mas insistindo noutro ponto: a recusa de Pedro Sánchez em debater exclusivamente Pablo Casado. Mas as recusas do líder socialista não ficam por aí: Pedro Sánchez começou por rejeitar um debate a quatro (PSOE, Unidas Podemos, Partido Popular e Ciudadanos) na TVE, mas aceitou um debate a cinco (juntando o Vox) nos meios do grupo Atresmedia.

“Os espanhóis merecem que os dois únicos candidatos que podem presidir ao Governo debatam cara a cara e conheçam os dois modelos que há para Espanha: o de Sánchez e os seus sócios ou o do líder da oposição que lhe tira 50 deputados”, escreveu, para depois concluir: “De quem tem medo?”

A menos de duas semanas das eleições de 28 de abril, as sondagens apontam o PSOE como favorito destacado, mas, ainda assim, aquém de conseguir uma maioria absoluta. Para lá chegar, de acordo com as sondagens, o partido de Pedro Sánchez teria de chegar a um acordo à esquerda (com o Unidas Podemos, que surge em quarto nas sondagens) e também com alguns dos partidos independentistas — fórmula que manteve, desde junho de 2018, o governo do PSOE no poder, até que os independentistas catalães lhe retiraram o apoio.

Esta semana, os independentistas catalães da ERC e do PDeCAT reafirmaram a sua disponibilidade para tornar a apoiar Pedro Sánchez — mas na condição de que admita a realização de um referendo à independência da Catalunha, algo que o socialista rejeita liminarmente.

Outra opção de Pedro Sánchez poderia ser um pacto que incluísse o Ciudadanos e/ou o Partido Popular (em terceiro e segundo lugar, respetivamente). Porém, ambos os partidos negam qualquer vínculo pós-eleitoral com o PSOE, preferindo apostar num bloco à direita, onde se encontra também o Vox, para o qual as sondagens preveem o quinto lugar. Porém, de acordo com as projeções de assentos conquistados no Congresso dos Deputados, o bloco da direita não deverá conseguir conquistar deputados suficientes para conseguir formar uma maioria — ficando sempre aquém dos 176 necessários para governar.