A pouco mais de um mês de lançar o seu 14º álbum de estúdio, “Madame X”, Madonna é a capa da edição de junho da Vogue britânica, com a publicação a recordar o trajeto da cantora de 60 anos, cuja carreira “continua a parecer uma batalha”. Apesar de Madonna já ter vestido quase todas as peles, da cabala ao punk, da imagem de dominatrix à compostura de uma country lady, de Marilyn Monroe a Eva Péron, parecem não faltar desafios, seja no trabalho ou mesmo dentro de portas, e a avaliar pelos destaques que fazem a antevisão da entrevista completa, não faltam soundbites.

“As pessoas sempre me tentaram silenciar por uma razão ou por outra. Ou porque não sou suficientemente bonita, ou porque não canto bem, porque não tenho talento, não sou casada, e agora porque não sou suficientemente nova”, aponta Madonna na entrevista, concedida na casa em Londres. “Agora o meu cavalo de batalha é o envelhecimento. Estou a ser punida por ter 60 anos”

Fotografada por Mert Alas & Marcus Piggot, a produção com Madonna, que surge na primeira página numa banheira, chega às bancas a 10 de maio. Acabada de lançar os primeiros singles do seu mais recente trabalho, percorre ainda temas como a já muito comentada (má) relação com Lady Gaga, e como a sua proteção a novos talentos se tem prestado sobretudo a dispensáveis mexericos, quando na realidade a sua motivação principal é abrir caminho para jovens estrelas. “As pessoas ficaram muito excitadas com a ideia de sermos inimigas, mas nunca fomos inimigas”, frisa Madonna, lembrando como a sociedade adora “pôr mulheres contra mulheres”.

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De resto, a rainha da pop acrescenta que ao longo da sua carreira não se sentiu especialmente apoiada por outras figuras femininas, manifestando antes sua gratidão por artistas que a precederam, mulheres que contrariaram todas as probabilidades e que desafiaram as convenções, caso de Frida Kahlo — “Nenhuma das minhas referências está viva” — admite, defendendo que “ninguém faz o que eu faço. E isso é muito assustador. Consigo olhar para trás e pensar em nomes de mulheres incríveis, que lutaram pela liberdade, como Angela Davis ou Simone de Beuvoir, mas elas não tiveram filhos. Sou uma mãe solteira com seis filhos e continuo a ser criativa e ativa política e artisticamente. Continuo a ter uma voz. Não há mais ninguém na minha posição”.

Para a Vogue, Madonna, que surge morena, sem papas na língua, e com uma imagem bastante mais sóbria a que nos tem habituado, recriou uma série de imagens inspiradas em feministas que marcaram o século XX e que merecem a sua admiração.

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Também a vida familiar é passada em revista ao longo da conversa, com a cantora a admitir que sente cada vez mais a necessidade de proteger os filhos, e que não permite que o filho David, o jovem futebolista de 13 anos pelo qual se mudou para Lisboa, tenha telemóvel. “Vou tentar evitar isso o máximo que puder. Cometi esse erro com os meus filhos mais velhos”, confessa. “Foi assim que acabou a minha relação com eles”. Uma palavra também para a filha Lola, “tão talentosa” que a deixa “verde de inveja”, dançarina e atriz incrível. Mas, e mais uma vez, “ela não tem a mesma motivação que eu. Volto a sentir que as redes sociais a contaminam e que a fazem sentir que as pessoas lhe vão dar coisas porque é minha filha”.