A Google quer “ser melhor para toda a gente”, afirmou Sundar Pinchai, presidente executivo da empresa, no início da apresentação do Google I/O, a conferência anual para programadores, no qual são anunciadas as principais novidades de software. Este ano, foi ao palco em Mountain View, na Califórnia, o Android Q, o novo o sistema operativo móvel da Google que tem um “modo escuro”, a Google Assistant, que agora vai estar guardada dentro dos smartphones em apenas 500mb, e promessas de privacidade.

Quem queria novidades do Stadia, o “Netflix dos jogos” anunciado em março e que vai deixar os jogadores jogarem videojogos de última geração através do browser, não teve notícias. Contudo, houve outras novidades. Em sete pontos, deixamos o resumo sobre a sessão de abertura do Google I/O 2019.

A Google Assistant não tem só a voz do John Legend, vai também chegar ao Waze, funcionar offline e ter chamadas de texto

Em 2018, a grande novidade do Google I/O pode ter sido o lançamento do Duplex, um serviço da Google Assistant que permite utilizar a assistente digital para fazer chamadas telefónicas pelo utilizador e marcações de reservas para restaurantes, mas este ano a Google quis ir mais longe. Esta ferramenta de reconhecimento de voz vai ter mais funcionalidades, como fazer marcações de outros serviços (alugar um carro, por exemplo) e vai estar armazenada dentro do smartphone para ser tudo mais rápido.

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A Google quer fazer chamadas por si, literalmente

Sim, leu bem. “100Gb foram comprimidos em 500Mb”, explicou Sundar Pinchai em palco. Com esta inovação, a Google conseguiu que o sistema de reconhecimento de voz possa estar guardado na maioria dos dispositivos. Assim, sempre que um utilizador fale com o smartphone, mesmo que esteja offline, o telemóvel vai responder de volta e cumprir as ordens. Como a informação não vai depender da resposta de servidores externos em tempo real, também vai ficar 10 vezes mais rápido, prometeu a empresa.

[No Twitter, a Google partilhou um vídeo a mostrar como o Google Assistant está mais rápido]

Além destas novidades, a Google anunciou que o Google Assistant vai poder ser utilizado em mais aplicações, como o Waze, e até vai ter um “modo de condução”. Este modo vai ter controlos de menu maiores e mais simples para poder falar com o smartphone enquanto está a conduzir ou utilizar outros controlos sem mexer no telemóvel.

É esta tecnologia que vai permitir à Google ter tradução de voz para texto em tempo real em chamadas no próximo Android, o Q, (apenas em algumas línguas, português do Brasil está incluído). No palco, a Google mostrou como poderá acontecer uma chamada de voz entre pessoas surdas graças a este sistema de reconhecimento de voz para texto.

A Google afirmou que estas novas funcionalidade vão chegar no final do ano. Infelizmente, o Google Assistant ainda não está disponível em português de Portugal e a uma boa parte das vantagens não funciona ainda no país, como as marcações automáticas.

Uma lente de realidade aumentada melhorada, mais notícias à distância de uma pesquisa no Google e chamadas de texto

“Ver é compreender e hoje vamos levar a câmara para o motor de pesquisa da Google”, anunciou Apama Chennapragada. Apama, que é responsável da Google pelo Lens — a aplicação de realidade aumentada que, com a câmara e ecrã do smartphone, permite sobrepor imagens digitais no mundo real –, avançou que, no final do mês, a Google vai mudar o motor de pesquisa da empresa. Brevemente, ao fazer-se uma pesquisa, a Google vai mostrar imagens 3D do que foi pesquisado e vai ser possível vê-las em realidade aumentada.

A melhor forma de compreender esta funcionalidade é com exemplos. No palco, Apama mostrou que ao pesquisar sobre um tubarão branco vai passar a ser possível ver um modelo 3D em tamanho real na divisão onde o utilizador estiver. “É uma maneira fácil de perceber mesmo a escala do tubarão”, explicou. Além disso, há funcionalidades mais práticas, como comprar peças de roupa. Se o utilizador pesquisar um modelo específico de ténis (ou sapatilhas), pode utilizar o ecrã e câmara do smartphone para ver o modelo 3D em cima de uma cama, por exemplo.

[Veja o vídeo de apresentação completo do Google I/O. Mas atenção, são quase duas horas]

O Lens vai passar a incluir também novas funcionalidades que alguns telemóveis já têm, como a tradução automática de texto que a câmara do equipamento visualiza a partir da aplicação e a leitura deste para o utilizador. Desta forma, mesmo que uma pessoa não saiba ler, pode utilizar o smartphone para ouvir o que está no texto.

Também a pensar no motor de pesquisa da Google, a empresa anunciou alterações na forma como as notícias são apresentadas. A funcionalidade de “cobertura completa” vai chegar no final do ano e vai permitir que os utilizadores tenham acesso a mais notícias sobre um tópico que procuram, com a possibilidade de fazer pesquisas específicas de tópicos de cobertura sobre um tema noticioso.

A pensar na privacidade, até o Google Maps vai ter um modo incógnito

Recentemente, a Google anunciou que vai permitir que os utilizadores possam apagar o histórico de pesquisa e localização da conta Google. Neste evento não faltaram novidades de ferramentas e funcionalidades que podem dar mais dados dos utilizadores à empresa, e, por isso, houve uma preocupação: a privacidade. “O nosso trabalho em privacidade nunca está acabado”, afirmou Pinchai.

Google vai permitir apagar dados de localização automaticamente

O melhor exemplo desta preocupação está no alargamento do modo incógnito do browser Chrome. Esta ferramenta (que pode ser acionada com os comandos ctrl-shift-n) abre um separador no qual, depois de fechado, é apagada a informação de todos os sites que o utilizador acedeu a partir do computador.

Agora, a Google vai estender esta ferramenta para mais serviços, como o Google Maps. Com este modo ativado, o utilizador pode fazer pesquisas de locais e utilizar a aplicação e a informação que pesquisou, diz a empresa, não vai ficar ligado à conta. A empresa vai ter também esta funcionalidade só para o motor de pesquisa.

No novo Android (damos mais informação mais sobre isto de seguida), vai passar a existir também uma nova secção apenas dedicada à “privacidade”, na qual o utilizador vai poder mudar definições.

Vem aí um novo Android com mais gestos, um modo escuro e mais funcionalidades para controlar as crianças

O novo Android era o segredo mal guardado do I/O. À semelhança de outros anos, a Google anunciou as próximas novidades do sistema operativo móvel dominante no mercado. O Android Q, ou 10, já pode ser testado na maioria dos dispositivos e traz várias novidades. Não são alterações tão grandes como as que aconteceram com o último P, mas há bastantes melhorias.

Uma das principais novidades é um “tema escuro” ou “modo escuro”, que escurece todas as janelas do Android de branco para preto. Esta funcionalidade, além de cansar menos a visão quando se utiliza o smartphone no escuro, também permite ter um menor consumo de bateria. Para poder ativar este modo, que alguns sistemas baseados em Android já oferecem, vai ser preciso carregar apenas nas definições do topo do ecrã.

Os Google Pixel 3A e 3A XL no topo da prateleira, os smartphones mais acessíveis da Google (Photo by Justin Sullivan/Getty Images)

Outra das diferenças neste novo Android está nos gestos de navegação, que foram melhorados em relação ao Android P. À semelhança dos iOS para os iPhone X, os gestos foram revistos e a Google adicionou uma barra no fundo do ecrã para ajudar a controlar o telefone (antes, não havia a barra). Outra das principais novidades diz respeito ao gesto de retroceder. Agora, basta um deslize no canto do ecrã (como a Huawei no EMUI 9, baseado em Android, já faz).

Na cruzada começada em 2018 para criar um Android que combata o vício nos smartphones, a Google alargou também as funcionalidades de controlo parental nos telemóveis no filhos. Agora, é possível definir temporizadores de utilização no próprio sistema. O modo não incomodar foi também revisto e há um “focus mode” que silencia apenas as aplicações que o utilizador predefinir.

Por fim, a Google focou as novidades do novo Android na segurança. Este novo sistema operativo móvel vai ter atualizações diretas para componentes cruciais do sistema, evitando estar dependente de os utilizadores ou marcas atualizarem o software ou não.

O Google Home agora é Nest e quer “casas úteis” em vez de “casas inteligentes”

O Google Home, a aplicação da Google para gerir equipamentos inteligentes conectáveis para casas inteligentes, tem um novo nome: Google Nest. Nest significa “ninho”, em português, e é o nome da empresa de produtos “smart” para casas que a Google adquiriu em 2014. Agora, dá nome à app base da Google para controlar todos estes dispositivos.

[O vídeo de apresentação do Google Nest]

Sejam lâmpadas inteligentes ou o novo Google Max, o novo mini ecrã inteligente de 10 polegadas que utiliza o Google Assistant para falar com o utilizador, a base de controlo da interconectividade entre aparelhos “smart” vai ser o Google Nest. Para a empresa norte-americana, o objetivo vai ser criar uma “casa útil [para o utilizador]” (helpful house, em inglês) e não apenas “uma inteligente” (smart home, em inglês). A empresa prometeu que os objetivos do sistema passam por este Nest poder ser utilizados por todos os membro do lar e por respeitar a privacidade, mas não foram revelados detalhes.

Os novos smartphone Pixel querem ser melhores do que o iPhone X e a um terço do preço

O Pixel 3A e 3A XL foram também a palco neste Google I/O. Os novos modelos de smartphones da Google são mais baratos do que os antecessores, com um preço inicial de 399 dólares (cerca de 360 euros) e têm uma câmara superior ao iPhone X da Apple. Perderam rapidez no processador e funcionalidades como carregamento sem fios, mas é uma forma de a Google tentar alcançar uma maior quota de mercado com smartphones com sistema Android sem alterações dos fabricantes.

Os equipamentos, que não vão estar à venda em Portugal, chegam ao mercado já esta quarta-feira. Apesar de não serem os topo de gama da Google, são equipamentos que vão estar disponíveis para mais clientes nos Estados Unidos, porque a empresa acabou com o regime de exclusividade que detinha com apenas uma das operadoras.

Onde está o Stadia, o “Netflix dos jogos”? Próxima hipótese para novidades pode ser a E3

Houve notícias sobre o avanço da inteligência artificial, novos produtos mas uma das principais novidades deste ano da Google nem foi mencionada, o Stadia. O “Netflix dos videojogos” chega no final de 2019 e promete deixar qualquer utilizador com uma ligação estável à Internet jogar em stream videojogos de última geração, como numa PS4 ou Xbox One.

Google lança “Netflix dos jogos”. Stadia quer ser a revolução dos jogos sem consola

No final de março, a Google cativou todos os que querem poupar dinheiro numa consola de última geração usando apenas um portátil, qualquer um, com ligação à Internet, mas deixou dúvidas no ar. O que acontece quando há latência? Quanto é que vai custar? Vai ter jogos exclusivos? Como é que funciona o sistema final? Sendo uma conferência para programadores, havia expectativa de mais novidades. Não foram avançadas. Agora, com a Microsoft a prometer anunciar uma alternativa ao Stadia na E3, o maior evento de videojogos que se realiza em junho, em Los Angeles, e a Sony a poder anunciar a PS5, a Google pode estar a guardar as novidades todas para essa altura.