Não teria seguramente canções de jazz, até porque a este género musical grande parte dos nazis chamava “entartetemusick” — ou música “degenerada”, conspurcada pela sua origem afro-americana deplorável (no entender dos nazis, claro está), que fazia com que não fosse transmitida na rádio que os germânicos ouviam em suas casas. Também dificilmente teria canções explicitamente pop, portugueses como Salvador Sobral a mostrar t-shirts com a inscrição S. O. S. Refugiados ou uma cantora israelita a ensaiar um feminismo tornado autoajuda, entoando “He’s a baka-mhm-bak-mhm”, “I’m not your toy” e o som de uma ave galinácea (a israelita Netta, pois claro). Seria uma Eurovisão diferente, por certo, mas, graças à derrota dos alemães na II Guerra Mundial e ao desinteresse e pouca flexibilidade diplomática de Hitler, também não chegou a passar do papel.

A ideia inicial dos alemães, como recordou recentemente o jornal espanhol ABC e já tinha lembrado o jornal digital espanhol Público, até era outra, arquitetada pelo então ministro para os Assuntos Externos do III Reich alemão, Joachim von Ribbentrop. Vendo a Segunda Guerra Mundial em maus lençóis, ou pelo menos ainda distante da conclusão que os nazis esperavam que viesse a ter — a vitória que nunca chegou —, Ribbentrop acreditava que era altura de criar uma espécie de União Europeia (ainda) mais à medida da Alemanha do que a atual, com uma moeda comum, um banco central e uma política laboral e económica concertada mas que teria de ser viabilizada pela grande potência desse bloco dominador: a Alemanha nazi, naturalmente.

Na Confederação Europeia que os sonhos de grandeza de Joachim von Ribbentrop anteviam, estariam países como a Bulgária, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, França, Finlândia, Grécia, Hungria, Noruega, Roménia e Sérvia. A Espanha de Franco era o grande ponto de interrogação, ao passo que a Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo não contavam porque à partida estariam integrados no bloco germânico.

Quanto à Suécia, Suíça e Portugal, não havia grandes ilusões de que entrassem nesta confederação europeia. Pelo menos, enquanto a II Guerra Mundial estivesse em curso. Mas a sua inclusão não era motivo para dores de cabeça alemãs, como recorda o Público.

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A grande “união” económica e monetária ‘à III Reich’ falhou. Tinha como objetivo acalmar os aliados germânicos e garantir-lhes que não seriam os próximos a ser invadidos e combatidos e mostrar aos soviéticos que havia um bloco europeu de peso contra o comunismo. Mas não foi convincente para os países que a Alemanha queria ter como Estados membro e acabou abandonada — ou pelo menos adiada eternamente.

A Competição Cultural da Juventude da Europa

Se não era por via da união económica e monetária, então talvez fosse pela via cultural. Os alemães idealizaram então uma Competição Cultural da Juventude da Europa, que seria — como garante o Público, citando o historiador britânico Mark Mazower — uma espécie de Festival Eurovisão da Canção à alemã. Seria um concurso musical europeu — sem jazz seguramente, com pop pastilha elástica dificilmente, com música erudita mais provavelmente —, com representantes dos vários países amigos da Alemanha Nazi e um prémio final que poderia não ser entregue com confettis mas que teria um nome pomposo: Prémio Musical Weimar.

A ideia não vingou, a Eurovisão acabou por nascer com outros moldes e deu coisas únicas ao mundo: como uma espécie de monstros-esqueletos com chapéus da Finlândia na cabeça chamados Lodi, um perú em peluche irlandês, o Jel, o Falâncio e a Conchita Wurst. Na próxima terça-feira, 14 de maio, terá até um português a cantar sobre a chatice que é partir telemóveis a tentar ligar para o céu. É só sintonizar, na RTP1.

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