“It: Capítulo 2”

Quase 30 anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, os membros do Clube dos Falhados têm que voltar a Derry para um último e decisivo combate com a criatura maligna e assassina que se apresenta com o aspeto de um palhaço chamado Pennywise. De novo realizado por Andy Muschietti, “It: Capítulo 2” sofre pelo facto de parte das personagens principais, agora adultas, serem interpretadas por actores pouco conhecidos e nem todos competentes, e por insistir em injetar um humor nervoso e deslocado em momentos-chave da ação. Se a primeira parte vivia bastante do elemento humano, através da caracterização dos vários miúdos, da sua interação e da forma como superavam problemas pessoais e insuficiências e medos individuais para enfrentarem o monstro, e não apenas dos momentos de terror, já sucede o contrário em “It: Capítulo 2”. As sequências de horror, com ou sem Pennywise, são em maior quantidade, mais elaboradas e mais invasivas, acabando por dominar o filme, que ao fim de quase três horas acaba por se repetir. Stephen King e Peter Bogdanovich têm duas pequenas participações.

“Ameaça em Alto Mar”

Uma curiosidade vinda de França e realizada por Antonin Aubry, o argumentista da banda desenhada “Quay d’Orsay” e antigo funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês. Este “thriller” de ação militar que recorda os enredos de Tom Clancy, passa-se no ambiente dos submarinos nucleares franceses, tem como protagonista um especialista da Marinha em guerra acústica cuja missão é distinguir entre os ruídos feitos por navios de guerra e submarinos, e outros (animais marinhos ou barcos de recreio), e põe em cena um aparente ataque nuclear russo a solo europeu, seguido de um duelo às cegas entre submersíveis. A tensão e o “suspense” quase em tempo real compensam algumas incongruências do argumento, mas eram escusadas as tripulações etnicamente corretas, um detalhe forçado e que prejudica a verosimilhança de “Ameaça em Alto Mar”.

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“A Ganha-Pão”

Saída dos estúdios de animação irlandeses que já nos deram filmes tão bons e originais como “The Secret of Kells” e “A Canção do Mar”, “A Ganha-Pão”, de Nora Twomey, passa-se na Cabul sob domínio talibã, no início deste século. Quando o pai, um antigo professor e mutilado de guerra, é preso de forma arbitrária, a pequena Parvana, de 11 anos, disfarça-se de rapaz e vai prover pela mãe, pela irmã mais velha e pelo irmão pequenino, correndo o risco de ser presa e até mesmo executada pelos brutais talibãs. “A Ganha-Pão” é uma história de coragem e de sacrifício perante um poder fanático e violento, e a realizadora enriquece visualmente o filme com a narrativa fantástica e alegórica paralela à intriga principal que Parvana conta ao irmãozinho, inspirada na estética da arte daquela região. Angelina Jolie é uma das produtoras.

“Dor e Glória”

Salvador Mallo é um célebre realizador à beira de fazer 70 anos, “alter ego” de Pedro Almodóvar interpretado por Antonio Banderas neste filme semi-autobiográfico, em que o autor de “Tudo Sobre a Minha Mãe” se inspira muito na sua intimidade e no seu trabalho. Crivado de maleitas do corpo e de achaques da alma, Salvador vive confortavelmente mas sozinho e semi-recluso no seu belíssimo apartamento de Madrid (muitos dos quadros, livros e outros objetos são do próprio Almodóvar), tem uma empregada dedicada e uma fiel assistente que zelam por ele, mas julga ter deixado para trás os seus dias de glória. Não consegue nem pensar em escrever um argumento ou enfrentar a rodagem de um filme. Penélope Cruz interpreta a mãe de Salvador nas sequências de “flashback” para a infância. “Dor e Glória” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.