Azeredo Lopes? Sim. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa? Não. O major Vasco Brazão, inspetor-chefe da Polícia Judiciária Militar, e uma das figuras centrais do caso de Tancos, não tem dúvidas de que o antigo ministro da Defesa estava a par da operação ilegal para recuperar o arsenal furtado dos paióis 14 e 15, à revelia da PJ e do DCIAP. No entanto, diz não ter indícios de que o primeiro-ministro ou outros membros do Governo soubessem dela. Sobre o Presidente da República, diz nunca ter sido informado que Marcelo soubesse de algo pelo coronel Luís Vieira, o diretor-geral da PJM e que, segundo Brazão, foi o homem que conduziu toda a operação. As declarações do militar foram feitas ao semanário Expresso (conteúdo pago) e são as primeiras que faz  à imprensa.

Por outro lado, garantiu que o “papagaio-mor do reino que sabia de tudo”, segundo o que disse numa conversa telefónica com uma das suas irmãs, apanhada pelas escutas da Polícia Judiciária, não era Marcelo Rebelo de Sousa.

“O que nos era dito pelo coronel Luís Vieira é que estava a trabalhar o assunto ao mais alto nível. O então ministro da Defesa seguramente sabia o que se estava a passar, do que tive conhecimento direto aquando da apresentação do memorando que foi entregue pelo coronel Luís Vieira e por mim ao major-general Martins Pereira, o chefe de gabinete de Azeredo Lopes, numa audiência em que foi estabelecido contacto telefónico com o ministro. A circunstância de o memorando por mim apresentado ser exatamente igual àquele que Martins Pereira entregou no processo é prova material irrefutável de que sempre falei verdade”, disse o militar ao Expresso, acrescentando não ter indícios de que Costa ou outros ministros estivessem a par da operação.

Uma semana depois de ser conhecida a acusação do Ministério Público, Vasco Brazão garante ainda que “a operação foi dirigida pelo diretor-geral da PJM, o coronel Luís Vieira, com o conhecimento e acompanhamento do diretor da unidade de investigação criminal da PJM, o coronel Manuel Estalagem”.

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Sobre o Presidente da República diz não ter informações de que Marcelo soubesse do que se passava. “Sempre vi, nas suas declarações públicas, o Presidente da República muito empenhado em que se descobrisse toda a verdade sobre este caso, o que me leva a acreditar que fala verdade quando afirma que desconhecia os termos da operação da PJM.”

Ainda sobre Marcelo recusa que o Presidente seja o papagaio-mor. “Falava de um comentador televisivo, utilizando uma alcunha que uso habitualmente quando a ele me refiro. Essa conversa com a minha irmã é completamente inócua para o processo. Eu quis tranquilizá-la. Posso não ter sido feliz nos termos utilizados, mas a verdade é que a minha família estava sob uma grande pressão, porque decorria a comissão parlamentar de inquérito e eu estava em prisão domiciliária. É abusivo o caso que se quis fazer acerca de uma conversa que nem é relevante para o objeto do processo.”

Vasco Brazão, um dos 23 acusados no caso Tancos, e que esteve dez meses em prisão domiciliária, garante ter agido “de boa fé”, tal como os restantes militares e recusa ser uma pessoa manipuladora e egocêntrica como foi retratado. “Lamento que o Ministério Público me queira denegrir, quando estou certo de que ninguém colaborou com a investigação com mais lealdade do que eu.”