O encenador Luís Araújo afirmou esta terça-feira que “A tragédia de Júlio César”, em cena no Teatro Nacional São João (TNSJ) de 11 a 20 de outubro, “mais do que política, é uma peça sobre a vida em comum”.

É, por isso, uma peça sobre “a nossa incapacidade de lidar com os outros, com a ambição dos outros face à nossa própria ambição, e isso não é exclusivo da classe política, mas sim transversal à sociedade”, disse Luís Araújo, no final do ensaio de imprensa no teatro nacional do Porto.

E continuou: “Houve aqui um esforço de transpor isso para o bastidor do teatro, porque me apetecia fazer esse paralelo entre a política e a arte, porque não é assim tão diferente”.

Feita a partir da obra de William Shakespeare, numa coprodução do Ao Cabo Teatro com o São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, e o TNSJ, “A tragédia de Júlio César” tem interpretação de Ana Brandão, Ana Margarida Mendes, Ana Pinheiro, Carolina Rocha, Diana Sá, Gonçalo Fonseca, Jorge Mota, Luís Araújo, Maria Inês Peixoto, Miguel Damião, Nuno Preto, Pedro Almendra e Rafaela Sá.

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O ator a quem cabe representar Júlio César, Jorge Mota, concordou com a análise feita pelo encenador, frisando que a “situação não é tão diferente do que acontece hoje”.

Este é um texto político, que trata de políticos. O que vemos em ‘A Tragédia de Júlio César’ é um jogo de poder em que mesmo aqueles que dizem que são democratas e não querem o totalitarismo, o poder absoluto, (…) acabam por ceder a isto”, acrescentou.

Questionado sobre o recurso ao vídeo para exibir momentos da peça, Luís Araújo recorreu ao passado para expor essa decisão.

Li a peça pela primeira vez na altura em que rebentou o escândalo do [José] Sócrates e das escutas, e foi inevitável que isso vertesse para a minha leitura da peça, sobre o que somos em privado e em público. E quando surgiu a oportunidade de a fazer tinha muito claro que queria mostrar o bastidor. Não me fazia sentido que muitas destas cenas da peça estivessem em palco”, explicou Luís Araújo.

Outra particularidade da obra, que “potencia uma autorreflexão de forma a interrogar os mecanismos da História e do Presente”, como se lê na sua apresentação, é uma parte dela decorrer em palco com os atores quase sem a presença de luz, situação descrita pelo encenador como um apelo à imaginação de cada um.

“Apeteceu-me que não se visse o rosto dos atores para que nas silhuetas pudesse ser posto o rosto que nos apetecesse”, justificou. Na récita de 18 de outubro, segundo a organização, está agendada uma conversa pós-espetáculo, moderada por Jorge Louraço Figueira, enquanto a última sessão terá tradução em Língua Gestual Portuguesa.