A Yahoo retirou do Flickr, um popular site de fotografia onde milhões de utilizadores colocaram imagens ao longo dos anos, milhões de fotografias para as reunir numa base de dados que usa algoritmos de reconhecimento facial, para aprimorar sistemas de segurança. Ao todo, de acordo com uma investigação do New York Times, terão sido incluídas na base de dados MegaFace quatro milhões de fotografias, pertencentes a 672 mil utilizadores. Entre as imagens utilizadas há rostos de crianças. E o maior problema é que os utilizadores não foram informados de que os seus rostos iriam ser usados para testar software de segurança e vigilância.

Tudo começou em 2014, de acordo com o Times, quando a Yahoo anunciou “a maior coleção pública multimédia” de sempre, que incluía imagens retiradas do Flickr, à altura pertencente à Yahoo. Nos dois anos seguintes, a Universidade de Washington utilizou essa base de dados para levar a cabo o “Desafio MegaFace”: um estudo para desenvolver tecnologia de reconhecimento facial para “fins educacionais” que contou, no entanto, com a participação de empresas como a Amazon, a Mitsubishi e a Philips. “Queríamos dar mais poder à comunidade de investigação dando-lhes uma base de dados robusta”, justifica-se David Ayman Shamma, diretor de pesquisa da Yahoo à altura.

A Yahoo relembra que as fotografias incluídas na base de dados tinham todas sido identificadas como tendo licença de distribuição comercial ou licença Creative Commons (licença para distribuição gratuita) e que não foram fornecidas as imagens diretamente, mas sim os links das imagens — assim, se estas entretanto fossem apagadas ou retiradas do domínio público através de alterações nas definições de privacidade, deixariam de estar disponíveis. No entanto, o jornal garante ter encontrado uma falha no sistema que permite que se aceda a fotografias, mesmo quando estão definidas como estando em modo privado.

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O New York Times conta ainda que contactou algumas das pessoas cujos rostos foram incluídos no MegaFace sem o seu conhecimento e que se mostraram desconfortáveis com a situação: “É arrepiante que vocês me tenham encontrado”, reconheceu Wendy Piersall, cujo rosto estava incluído no sistema, bem como fotografias dos seus três filhos.

Não sou uma pessoa de processar por tudo e por nada, mas encorajo quem queira fazê-lo a avançar com isto”, diz esta editora, residente no estado norte-americano do Illinois.

As empresas que utilizaram a base de dados podem agora ser mesmo processadas por violação de leis de privacidade, de acordo com especialistas consultados pelo diário. Pelo menos no Illinois, onde vive Piersall, há uma lei bastante restritiva para o uso de imagens de rostos de cidadãos. Segundo o jornal, há fortes possibilidades de utilizadores do Flickr daquele estado — cujos rostos foram incluídos no sistema sem autorização — vencerem em tribunal caso partam para a via judicial.