O Ministério Público e a Autoridade Tributária têm em mãos cinco mega investigações por suspeitas de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais no mundo do futebol. Segundo a edição impressa da revista Sábado, as autoridades estão a passar a pente fino as contratações de jogadores por vários clubes portugueses e suspeitam que existam milhões de euros que passaram à margem do Fisco através de documentos fictícios — com empresários, equipas técnicas, clubes e os próprios jogadores a receberem dinheiro que não foi declarado. Só no FC Porto, as autoridades suspeitam que estejam em causa 20 milhões de euros.

Para a investigação contribuíram alguns dos documentos do hacker Rui Pinto, que vai enfrentar julgamento por ter entrado nos sistemas informáticos da Doyen Sports, do Sporting e da sociedade de advogados PLMJ, por exemplo, divulgando várias transferências suspeitas que estão a ser escrutinadas pelas autoridades.

O processo em que o FC Porto e o seu presidente Pinto da Costa estão a ser investigados resulta da junção de oito investigações diferentes que começaram ainda em 2017. Em causa estão negócios associados à contratação de 15 jogadores: Jackson Martinez, Iker Casillas, Radamel Falcão, James Rodriguez, Imbula, Mangala e o português Danilo Pereira. Poderão estar em causa 20 milhões e euros .

Martinez chegou ao FC do Porto em 2012/13 e custou ao clube 8 milhões, acabou por ser vendido ao Atlético de Madrid por 35 milhões de euros em 2015. No ano seguinte acabaria por ser vendido para a China por 42 milhões. Em 2018 foi integrado no Portimonense, de volta a Portugal. O processo aberto em relação a este jogador, diz a Sábado, acabou por agregar os outros sete inquéritos em que se investigam suspeitas semelhantes. Também o espanhol Casillas, que assinou pelo Porto em 2015, é suspeito de ter obtido uma vantagem patrimonial de 858 mil euros. Um dos empresários que intermediou o negócio, Santos Márquez, foi acusado pelos sócios de não repartir os 445 mil euros que recebeu por intermediar o negócio. Acabou condenado em 2019 por um tribunal espanhol de Palma Maiorca pelos crimes de fraude e apropriação indevida, obrigado a pagar 200 mil euros aos seus sócios.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Também a SAD do Benfica, que foi recentemente despronunciada no caso do e-Toupeira,  é visada numa das investigação nas mãos da Autoridades Tributária. Em causa, mais uma vez, estão também empresas de intermediação na contratação de jogadores como por exemplo André Carrillo, Pizzi, Jiménez, Júlio Cesar, Ola John e Jonas. Também neste caso, ainda segundo a Sábado, o presidente Luís Vieira é alvo da investigação.

Outra das investigações em curso que se foca nos negócios do futebol tem como alvo o SC Braga, com os investigadores já com informação sobre as transferências com origem no Marítimo, de Dyego Sousa, agora no Benfica, Fransérgio e Raúl Silva. Em 2018, o o Braga também contratou o central Pablo Santos. Outro contrato que está a ser analisado é o de Éder, que hoje joga na Rússia, e que o Braga foi buscar à Académica de Coimbra.

FC do Porto já reagiu

Ainda antes de a revista Sábado sair para as bancas, mas já com a informação da capa que dava conta de que o presidente Pinto da Costa e o Futebol Clube do Porto estavam a ser investigados por fraude e lavagem de dinheiro, o FC Porto reagiu logo num comunicado divulgado no seu site. “Nunca a FC Porto SAD e/ou o presidente do seu Conselho de Administração foram interpelados, ouvidos ou interrogados em qualquer tipo de inquérito ou diligência judicial similar sobre qualquer uma destas matérias”, começou por dizer.

“Se estes inquéritos existirem, o que só se admite por mera hipótese de raciocínio, estariam em segredo de justiça e numa fase embrionária, pelo que se estranha esta fuga de informação cirúrgica em vésperas de um FC Porto-Benfica decisivo para o campeonato. A FC Porto SAD e o presidente do seu Conselho de Administração manifestam, como sempre, a sua disponibilidade para fornecerem todos os elementos contabilísticos e pessoais que forem solicitados, como já o fizeram, em devido tempo, à Unidade de Grandes Contribuintes da Autoridade Tributária. A FC Porto SAD e o presidente do seu Conselho de Administração não deixarão de exigir em sede própria responsabilidades aos artífices desta patranha”, lê-se no comunicado assinado pelo próprio Pinto da Costa.