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Mathieu, o grito que fez eco entre o silêncio ensurdecedor de Alvalade (a crónica do Sporting-Portimonense)

Este artigo tem mais de 4 anos

Uma manifestação, uma tarja, minutos e minutos de silêncio ensurdecedor. Mathieu acabou por ser o grito que ecoou em Alvalade na vitória do Sporting frente ao Portimonense, que valeu o terceiro lugar.

O central francês marcou o terceiro golo da temporada
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O central francês marcou o terceiro golo da temporada

AFP via Getty Images

O central francês marcou o terceiro golo da temporada

AFP via Getty Images

“Vamos ter mandatos de quê, um ano? Independentemente do presidente, isto destrói o clube. Temos de ver se faz sentido que 0,5% dos sócios possam promover a destituição dos órgãos sociais. Porque essas ações levam a resultados incertos, mas a agitação é certa. O Sporting, se entra neste ciclo ingovernável, dificilmente se endireita. Não tenho dúvidas de que um dos problemas do Sporting é esta instabilidade, que só tende a piorar”. Foi assim que, em entrevista ao jornal Record, Frederico Varandas comentou as recorrentes críticas à Direção do clube, o pedido de uma Assembleia-Geral de destituição por parte de um grupo de sócios e a manifestação convocada pela Juventude Leonina para a tarde deste domingo.

Era neste contexto, entre nomes como Carlos Vieira e Luís Filipe Menezes a surgirem enquanto possíveis candidatos em cenários de eleições, entre um candidato crónico como João Benedito a defender a existência de uma Assembleia-Geral, entre as quatro claques a juntarem forças para protestarem junto ao estádio, que o Sporting recebia este domingo o Portimonense. Pelo meio, Silas lembrou que a única “expectativa” da atual equipa técnica é ficar até ao final da temporada e que nessa altura, “aí sim”, será necessário tomar decisões sobre uma eventual manutenção ou uma eventual saída. A palavra mais usada para definir o que se tem passado no Sporting nos últimos anos, repetida por Frederico Varandas esta semana, voltava a aplicar-se: é a instabilidade que governa no universo leonino.

Ficha de jogo

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Sporting-Portimonense, 2-1

20.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Hugo Miguel (AF Lisboa)

Sporting: Maximiano, Ristovski, Coates, Neto (Jovane, 45′), Mathieu (Doumbia, 77′), Acuña, Battaglia, Wendel, Rafael Camacho (Gonzalo Plata, 60′), Vietto, Sporar

Suplentes não utilizados: Diogo Sousa, Eduardo, Jesé, Borja

Treinador: Silas

Portimonense: Gonda, Anzai, Possignolo, Jadson, Henrique Custódio, Pedro Sá (Beto, 78′), Lucas Fernandes (Fernando, 64′), Bruno Costa, Dener, Aylton Boa Morte, Jackson Martínez (Ricardo Vaz Tê, 83′)

Suplentes não utilizados: Ricardo Ferreira, Hackman, Anderson Oliveira, Willyan

Treinador: Bruno Lopes

Golos: Jackson Martínez (26′), Mathieu (31′), Jadson (ag, 72′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pedro Sá (30′), a Vietto (68′)

Sobre aquilo que se passa dentro de campo, o Sporting enfrentava o Portimonense, penúltimo classificado, já com Mathieu, que regressava depois de cumprir castigo e de se ver limitado por uma tendinite no joelho. Vietto também voltava ao onze, depois de ter estado lesionado e de já ter sido utilizado contra o Sp. Braga, e os dois jogadores assumiam a titularidade em detrimento de Borja e Eduardo. Os leões entravam no relvado com a noção de que uma vitória significava a subida e o regresso ao terceiro lugar, já que o Sp. Braga empatou com o Gil Vicente, algo que podia servir enquanto bálsamo ideal para amainar a poeira de uma semana conturbada.

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Silas voltava a apostar num esquema de três centrais com os dois laterais a jogarem muito adiantados, praticamente enquanto médios, a ocuparem todo o corredor: Coates, Neto e Mathieu eram os três homens mais recuados, Ristovski tombava na direita, Acuña jogava na esquerda. Num jogo já inegavelmente marcado por tudo aquilo que se tinha passado durante a tarde no exterior de Alvalade, surgiu na zona afeta às claques uma tarja onde se lia “nossos ídolos, nossos adeptos”. E à tarja, nada se acrescentava: a larga maioria dos elementos das claques leoninas não estavam dentro do estádio e vivia-se em Alvalade um silêncio atípico e ensurdecedor, que permitia ouvir as comunicações entre os jogadores, todos os toques na bola e os gritos dos dois treinadores.

O Portimonense aparecia em Alvalade com a possibilidade de sair da zona de despromoção, ultrapassando o P. Ferreira, e já com Rolão Preto na equipa técnica, o elemento contratado para compensar a ausência do nível IV do curso de treinador por parte de Bruno Lopes (que voltava ao estádio leonino, depois de ter sido campeão nacional em 2002, como adjunto de Bölöni). O Sporting ficou perto de abrir o marcador logo nos primeiros instantes, com um cabeceamento de Battaglia que Gonda afastou (3′), mas a verdade é que os minutos iniciais foram o espelho daquilo que se passava nas bancadas. O silêncio absoluto, interrompido apenas para assobios dirigidos a Frederico Varandas ou até para os cânticos dos escassos adeptos algarvios, que se faziam ouvir face à ausência de apoio do lado leonino, afetava também os jogadores do Sporting, que pareciam algo alheados do jogo e com pouca ou nenhuma intensidade, a desistirem dos lances e a aplicar uma pressão algo suave.

Os leões procuravam atacar principalmente pelo corredor esquerdo, onde Acuña tinha uma propensão mais natural para atacar do que Ristovski demonstrava do lado contrário, e onde Vietto aparecia a formar uma dupla com o compatriota que prometia ser desequilibradora. A equipa, porém, estava permanentemente partida: era Vietto quem pedia aos colegas de equipa para avançarem e o Sporting tinha o setor intermédio e o mais adiantado constantemente separados, num abismo que impedia o conjunto de chegar com perigo ao último terço adversário. Sporar, a referência ofensiva leonina, era obrigado muitas vezes a recuar no terreno para procurar ir buscar jogo e acabava por deixar a equipa desprovida de um elemento destacado na área na hora de procurar o último passe.

Do outro lado, o Portimonense jogava naturalmente a cair no erro do Sporting: o primeiro remate apareceu só a passagem dos primeiros 20 minutos, por intermédio de Pedro Sá, e saiu ao lado da baliza de Maximiano (21′). Ainda assim, a equipa de Silas estava longe de controlar o jogo e acabou por sofrer um golo no seguimento de um erro na transição defensiva. A defesa leonina permitiu o avançar de Bruno Costa com bola, Wendel falhou o corte e Anzai resgatou a posse, assistindo depois Jackson Martínez, que rematou em força mas colocado para abrir o marcador (26′). Os algarvios colocavam-se em vantagem em Alvalade e poderiam ter marcado o segundo logo depois, por intermédio de Aylton Boa Morte, que viu Max roubar-lhe o golo (28′). O lance do ala era precisamente o espelho das dificuldades que os leões estavam a ter no lado esquerdo — Acuña subia, enfrentava o obstáculo Anzai, perdia muitas vezes a bola e não recuava a tempo de apoiar Mathieu, que se via sozinho com as incursões do japonês por zonas interiores e a velocidade de Boa Morte.

Ainda assim, a vantagem algarvia em Alvalade acabou por durar pouco mais de cinco minutos. Vietto surgiu praticamente isolado em direção à grande área do Portimonense e Pedro Sá carregou o argentino em falta: na conversão do livre direto, de pé esquerdo, Mathieu colocou a bola num local indefensável para Gonda e empatou o jogo (31′). O central francês acabou por coroar uma exibição que já estava a ser esforçada e elevado nível de exigência com um golo e o Sporting foi para o intervalo empatado com o Portimonense, depois de uma primeira parte onde teve mais bola mas menos remates e não conseguiu capitalizar esse ascendente em oportunidades, ocasiões ou construção criativa.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Sporting-Portimonense:]

No recomeço do jogo, Silas tirou Luís Neto e lançou Jovane Cabral: o Sporting passou a atuar com uma linha defensiva de quatro, com Acuña e Ristovski a recuarem definitivamente para as posições de laterais, e Vietto ocupava agora a zona nas costas de Sporar, com Jovane e Camacho a caírem nas alas. A alteração de sistema tático equilibrou a equipa, que passou a perder menos bolas na fase de construção, empurrou o Portimonense ao próprio meio-campo e ganhou em Sporar uma verdadeira referência na grande área, já que Vietto cumpria nas costas do avançado as funções que o esloveno passou a primeira parte a cobrir.

Battaglia voltou a rematar, Vietto ficou perto do golo com um livre direto mas o Sporting, apesar de estar totalmente por cima do jogo e de estar a conseguir esgotar as investidas algarvias, não conseguia criar oportunidades frequentes e tinha dificuldades na hora do último passe, faltando critério e discernimento. Silas procurou compensar essa fraqueza com a entrada de Gonzalo Plata para o lugar de um apagado Rafael Camacho, com Jovane a passar do corredor direito para o esquerdo para abrir a ala preferida ao equatoriano, e o Sporting acabou por conseguir criar a melhor ocasião pouco depois, com Gonda a evitar o golo de Vietto quando o argentino seguia isolado (66′).

O golo da vitória leonina acabou por aparecer já para lá dos 70 minutos. Acuña estava na ala direita temporariamente depois de ter batido um pontapé de canto e cruzou largo, a atravessar toda a grande área do Portimonense — Jovane, mais do que oportuno, apareceu ao segundo poste a assistir Sporar de cabeça, mas Jadson adiantou-se ao avançado e acabou por introduzir a bola na própria baliza (72′). Até ao fim, Bruno Lopes ainda lançou Beto e estreou Ricardo Vaz Tê, Gonzalo Plata viu Gonda roubar-lhe o golo depois de um remate acrobático e Mathieu saiu com dificuldades físicas, sendo substituído por Doumbia.

Num jogo de grande exigência e com muitas dificuldades, o Sporting acabou por conseguir vencer o Portimonense em casa e regressar ao terceiro lugar da Liga, relegando o Sp. Braga novamente para a quarta posição. Em dia de manifestação em Alvalade, de tarjas bem explícitas, de silêncio sepulcral nos primeiros minutos de jogo, Battaglia destacou-se pela combatividade, Vietto pela qualidade individual e Plata pelo impacto quase imediato que causou na equipa assim que entrou: mas foi Mathieu, com o regresso ao onze, com o golo do empate, com a assunção inequívoca da figura de líder que ficou esvaziada depois da saída de Bruno Fernandes, que acabou por fazer realmente a diferença. O central francês, com um remate indefensável ao passar da primeira meia-hora, foi o único grito audível entre o silêncio ensurdecedor de Alvalade.

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