Joguei “Animal Crossing: New Horizons” durante uma semana e sei que, mesmo que agora deixasse de jogar durante uns dias ou semanas, vou voltar a pegar nele, no futuro, para ver o que aconteceu no jogo durante a minha ausência. Principalmente na época que estamos a viver, de quarentena e distanciamento social, o jogo teve outro significado nesta semana: “escapismo” (significa “atitude de fuga ao quotidiano ou a uma realidade específica”, diz o Priberam). Sempre que peguei neste jogo, foi como se uma parte de mim conseguisse fechar os olhos e ouvidos a tudo isto que estamos a viver. Foi bom. E também foi bom que o jogo me obrigasse a voltar à realidade com a certeza de que amanhã estaria lá com mais novidades.

Neste jogo, não há tiros ou corridas deslumbrantes. A situação mais perigosa que vivi foi a de encontrar uma tarântula que, de assustadora, não tinha nada. Picou-me, infelizmente e voltei a acordar em frente à minha tenda. A premissa é simples: temos uma cidade e uma casa. Colhemos frutas, apanhamos insetos, pescamos peixes e cortamos árvores para ter madeira, entre outras tarefas que ajudam a comprar coisas para a nossa casa e para a cidade que fica numa ilha deserta e que vamos ajudando a povoar com simpáticas criaturas. Ajudamos a abrir um museu, uma loja, a construir pontes para ir para mais pontos da segunda ilha. Na prática, é isto. Sim, simples.

À semelhança dos antecessores, esta nova versão do “Animal Crossing” tem uma peculiaridade em relação ao outros jogos. Se são 22h00 no mundo real, também são no jogo. Há batotas para dar a volta a isso, mas por serem batotas nem as usei (e não vale muito a pena). Quis ver o que o jogo força o jogador a fazer e foi recompensador. Olhar para a minha ilha e ver que, no primeiro dia, tinha tendas e poucos habitantes para, uma semana depois, já ter casas e mais habitantes dá uma sensação que, mesmo sendo só virtualmente, estamos a construir alguma coisa.

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Há oportunidades perdidas por causa disso. É bastante difícil jogar à tarde, com trabalho e jogar não é uma prioridade, infelizmente. Por isso, foi à noite que visitei mais a minha ilha, mas isso fez-me apreciar mais os momentos em que quis ver o que estava a acontecer em determinada hora do dia. Quando se está há tanto tempo fechado em casa, isto quase que sabe a uma saída para outro sítio, outra realidade.

Que não haja ilusões, este jogo incentiva ao consumo, porque, sem consumirmos não conseguíamos ir decorando e construindo a nossa ilha. Para comprar coisas, utilizam-se moedas que ganham valor ao vendermos materiais que recolhemos na ilha, ou então utilizamse milhas — sim, como nos aviões –, que ganhamos ao cumprir determinados objetivos. Para não ficarmos demasiado presos, dá para visitar a ilha de outros amigos (não cheguei a fazê-lo, assumo), ou ilhas que o jogo gera para conseguirmos ter mais materiais e convidarmos novos habitantes para a nossa cidade.

[Na fotogaleria deixamos imagens da nossa semana com Animal Crossing]

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O responsável desta viagem, o Nook, também nos dá missões que passam por recolhermos mais objetos para ajudarmos na construção. Muito do tempo no jogo é passado nesta recolha. Supostamente, criamos uma espécie de hipoteca para pagarmos as melhorias à nossa casa, mas o Nook, apesar de ser um cão-guaxinim de negócios que ensinaria lições a muitos empreendedores, não exige intensivamente o pagamento, como os bancos. Ao longo da história vamos conhecendo outras personagens e ficando amigos delas (todas baseadas em animais). Podem dizer que são amigos de um urso ao jogar este videjogo.

Ao contrário de outros jogos, aqui não dá para passar ao próximo nível jogando-se mais tempo de seguida. É preciso paciência. Houve momentos em que, simplesmente, parei de jogar porque já não havia mais nada para fazer e tinha de esperar para o próximo dia para ou a loja acabar de ser construída ou ver se as minhas árvores estavam novamente a dar peras. Mesmo o conceito de nível seguinte não existe bem neste jogo. Há a recompensa de se ir desbloqueando novas coisas e construindo a cidade.

O jogo não é livre de defeitos. O sistema de construção de ferramentas parece ser propositadamente lento e podia ser mais simples. Além disso, por veses é irritante que não possamos passar os diálogos à frente, principalmente os repetitivos (como dar fósseis ao mocho que gere o museu). Sei que é preciso paciência antes de jogar o jogo, mas também não é preciso tanta. Junta-se a isto o facto de não podermos ter mais do que uma ilha por jogo. Ou seja, se partilharmos uma consola, jogam os dois na mesma ilha e há, claramente, coisas nas quais o jogo podia ser melhor.

Foi assim a minha semana nesta ilha deserta em “Animal Crossing: New Horizons”. A vantagem de a jogar para a Nintendo Switch é que também permite jogar em modo portátil — praticamente o único modo que utilizei — e não estar sempre preso ao sofá. É um jogo que, pela possibilidade de construção de um espaço nosso, não deixa de lembrar outros videojogos como “Minecraft”. Contudo, tendo um toque tão simples, em que tudo tem um aspeto bonito, permite escapar, nem que seja por 10 minutos, para este espaço virtual.

Veredicto final: a simplicidade é uma coisa boa

“Animal Crossing” não é um jogo perfeito, mas mudá-lo também implicaria mudar o que quer ser: uma experiência simples de escape que diverte e recompensa à sua maneira. Construir uma ilha, ir recolhendo objetos e ter de esperar pelo dia seguinte para podermos jogar mais cativante do que se pode esperar. Este não é, de todo, um jogo para toda a gente. Para quem quer uma experiência que dê para ficar a jogar horas a fio a construir já referimos o Minecraft. Contudo, para quem quer uma experiência de jogo calma e diferente, e goste do toque da imagem Nintendo que relembra muitas infâncias, este é um jogo a jogar.