O Ministério da Educação revelou esta sexta-feira o calendário semanal de aulas à distância. Transmitidos pela RTP Memória, os conteúdos pretendem atenuar os efeitos do encerramento das escolas, medida tomada para travar a propagação do novo coronavírus em Portugal. Num esforço conjunto entre o Governo e a emissora pública de televisão, a grelha #EstudoEmCasa arranca no dia 20 de abril.

“Não gosto nada que lhe chamem telescola, é um conceito completamente diferente”, afirmou João Costa, secretário de Estado da Educação, em entrevista à Rádio Observador, esta sexta-feira. “É uma resposta pensada para os alunos que ainda não têm acesso à internet e ao cabo. Tínhamos de trabalhar para os alunos que podem aceder através da Televisão Digital Terrestre e de garantir uma grelha que permitisse aceder aos conteúdos, havendo, por exemplo, vários irmãos na mesma casa”, indicou.

Pode ouvir aqui a entrevista dada à Rádio Observador pelo Secretário de Estado da Educação, João Costa:

Conteúdos da telescola? “Desafiámos 4 escolas”, revela o secretário de Estado da Educação

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Esta solução do Governo é apenas um dos vários esforços para levar o ano letivo até ao fim. Além das aulas transmitidas na televisão, João Costa faz referência a conteúdos educativos disponibilizados em parceira com a Porto Editora, com a Leya, a Google e a Microsoft, além de canais de YouTube, ainda em desenvolvimento, também com partilha de aulas e conteúdos criados pelos próprios professores. Estes vão receber com uma semana de avanço os temas abordados na nova grelha.

Este conteúdos transmitidos pela RTP Memória não dispensam o acompanhamento pelas escolas. Ou seja, são conteúdos suplementares para aquilo que as escolas têm vindo a preparar nestas últimas semanas, que é o seu plano de ensino à distância, e que prevê também medidas de acompanhamento de alunos que estão em situação mais vulnerável”, admitiu o secretário de Estado.

João Costa reconhece que o contexto agrava as desigualdades sociais, mas garante que as soluções encontradas contribuem para mitigar diferenças. “Estamos a mover-nos de um sistema que era quase 100% presencial para um sistema 100% remoto e estamos a fazê-lo sem tempo de preparação. Se no nosso sistema educativo o contexto socioeconómico das famílias ainda é o grande preditor de sucesso, este contexto que estamos a viver só vem agravar isso”, assinalou.

A grelha divulgada pelo Ministério da Educação

Fazer a ponte entre os conteúdos das tele-aulas e as que os professores vão continuar a garantir através das escolas e fazer chegar aos alunos instrumentos de trabalho que estejam a ser usados pelo resto da turma, através dos CTT, como referiu João Costa, poderá atenuar algumas das discrepâncias acentuadas pela distância. “É evidente que estes alunos requerem uma atenção especial, é a eles que nos vamos dedicar em força nos próximos tempos”, referiu.

Na nova grelha da RTP Memória, há aulas destinadas a mais do que um ano em simultâneo. O 1.º e o 2.º anos, o 3.º e o 4.º, o 5.º e o 6.º e ainda o 7.º e o 8.º vão partilhar os mesmos conteúdos.

É como tem sido a prática curricular portuguesa durante muitos anos, com abordagens por ciclo. Um determinado conteúdo não vive estanque no seu ano e deve ser articulado com os anos seguintes. Entendemos que seria interessante organizar desta forma. Isto permite, por exemplo, no caso da disciplina de História, trabalhar no mesmo bloco comparações entre dois períodos históricos”, explicou João Costa.

Sobre a duração das aulas — 30 minutos — esclareceu que esta vai ao encontro às “recomendações em relação à atenção sempre que o ensino é feito à distância”. “Cada bloco explora autonomamente um tema, uma questão, um problema que se vai resolver durante aqueles 30 minutos. Procurámos também garantir alguma relação entre os temas dos diferentes anos, para haver uma articulação entre anos e entre ciclos de ensino”, explicou.

Embora não tenha revelado quais as quatros escolas que estão envolvidas na produção destas aulas (a pedido das próprias), o secretário de Estado indicou que as gravações já começaram. “Foram escolhidas por serem escolas que têm lideranças fortes, capacidade de organização e, sobretudo, que já tinham uma forte experiência de trabalho com instrumentos próximos de uma educação remota”, comentou, recordando ainda que este é também um formato novo para os professores, que não são “estrelas de televisão”.

É das 9 às 18. Já há horários para a tele-escola na RTP Memória

João Costa referiu que a RTP está a assumir todas as despesas de produção e realização. No caso das escolas, fala em “custos envolvidos”, relacionados com deslocações e “trabalho adicional”.

Segundo o secretário de Estado, é também tempo de pensar no ano letivo que se segue e num reforço da resposta educativa após este período de medidas excecionais. “O próximo ano letivo vai integrar medidas de recuperação e de compensação. Por outro lado, estamos a ter uma aceleração de competências digitais, de diversificação de formas de ensino e isso será certamente um alimento para decisões que venhamos a tomar no futuro”, rematou.

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