O vice-presidente da Comissão Europeia afirmou esta sexta-feira que os governos dos estados-membros são um dos principais obstáculos para virar a Política Agrícola Comum (PAC) no sentido dos objetivos do Pacto Ecológico Europeu.

Numa conversa por teleconferência com jovens ativistas europeus do movimento Greve Climática Mundial, Frans Timmermans apelou-lhes para que pressionem os governos dos seus países a aceitar objetivos mais ecológicos na negociação das políticas agrícolas, reconhecendo que “serão necessárias reformas” na PAC.

O movimento Fridays for Future pediu esta sexta-feira “um novo começo na construção da PAC” que garanta respostas do setor agrícola à crise climática, mas para Timmermans, começar de novo significaria “perder anos”.

Falem com os vossos governos, muitas vezes são eles quem resiste e serão eles que terão que concordar. Estão relutantes [em aceitar políticas agrícolas mais consentâneas com o ambiente] por que receiam que seja um fardo demasiado pesado sobre os seus agricultores”, afirmou.

TImmermans admitiu que “a PAC não está alinhada com o Pacto Ecológico Europeu” e indicou que o Parlamento Europeu encarregou a Comissão de fazer propostas para a orientar nesse sentido.

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Para o vice da Comissão Europeia, “há bastante espaço de manobra para reorientar a PAC, não é preciso uma proposta nova”. Entre o que precisa de mudar estão os pagamentos diretos, que Timmermans indicou que “costumam ir para os grandes proprietários de terra e não para os agricultores”.

“Não chegam às pessoas que queremos”, referiu. Entre os desafios principais está que os estados-membros aceitem que “40 por cento do que se gasta na CAP seja dirigido para a agricultura sustentável”, como pretende a Comissão, apontou. “Nisto, não poderemos falhar”, considerou, destacando que orientar a PAC para a sustentabilidade “não pode ser feito contra os agricultores”.

“Vai haver quem tente bloquear as reformas. Não podemos tornar isto uma luta entre quem está pelo ambiente e os agricultores, senão perdemos todos”, salientou.

Uma das provisões do Pacto Ecológico Europeu está a plantação de “três mil milhões de árvores, cujos guardiões terão que ser os agricultores”, referiu.

Com a pandemia da Covid-19, “viver uma vida saudável e fazer uma alimentação saudável” ganha uma nova prioridade nas necessidades das pessoas, argumentou, e o mundo vai precisar de alimentar “10 mil milhões de pessoas”, o que torna imperioso apostar “na agricultura de precisão, com menos pesticidas, menos fertilizantes.

Na quarta-feira, a Comissão Europeia adotou a “Estratégia da Biodiversidade”, com um financiamento de 20 mil milhões de euros por ano, e a “Estratégia do Prado ao Prato”, que contempla uma redução para metade da utilização e risco dos pesticidas.

Na carta divulgada esta sexta-feira, quando se assinala o Dia Internacional da Biodiversidade, o Fridays For Futures sublinha: “Os políticos da UE têm que reconhecer que, por um lado, uma das grandes esperanças no combate à Crise Climática e no combate ao colapso da biodiversidade assenta na agricultura e que, por outro lado, a atual PAC está perto de a destruir”.