Um “atraso no acesso dos técnicos da DGS [Direção-Geral da Saúde] aos dados que permitem a construção do boletim diário” impediu a publicação do boletim habitual com o balanço diário da Covid-19. Em conferência de imprensa, a ministra da Saúde, Marta Temido, explicou que já foi possível ter acesso durante a manhã aos dados, mas que “a geração do boletim à hora habitual ficou irremediavelmente comprometida”. Será publicado ainda esta tarde.

Num comunicado da DGS emitido pouco depois da conferência de imprensa, a entidade confirmou que “esta madrugada ocorreu uma alteração técnica nas configurações de acesso, não comunicada previamente, num sistema crítico da Microsoft”: “Esta intervenção afetou sistemas em vários países europeus e teve como consequência o atraso do acesso dos técnicos da DGS aos dados que permitem a construção do boletim”.

“Conseguimos recuperar os acessos, mas a geração do boletim na hora habitual ficou comprometida, em virtude da instabilidade gerada por esta intervenção”, explica a DGS.

30% dos infetados identificados em Lisboa e Vale do Tejo são assintomáticos

De acordo com Marta Temido, os concelhos mais preocupantes neste momento são Lisboa, Loures, Amadora, Odivelas e Sintra.

“Neste momento, podemos partilhar que, até dia 05 de junho, tínhamos uma incidência cumulativa de 555 casos em Lisboa, 545 em Loures, 504 na Amadora, de 402 casos em Odivelas e 391 casos em Sintra. Estes são casos novos que foram reportados nos últimos 14 dias e serão casos que se mantêm ativos”, diz a ministra da saúde.

Questionada sobre se haveria medidas mais restritivas impostas na região de Lisboa e Vale do Tejo, a ministra da Saúde indica que “neste momento, isso não está em cima da mesa”:

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“Aquilo que se sugere é que estes surtos não estão relacionados com o desconfinamento. Estão relacionados com atividades que sempre se realizaram, com pessoas que sempre estiveram a trabalhar e, portanto, com circunstâncias específicas desta região. Pode haver um atraso na incidência em Lisboa e Vale do Tejo e uma maior testagem deliberadamente”.

Marta Temido indica que as autoridades alargaram o número de testes nesta região para identificar focos na doença e controlá-los. Isso implica que também se vai identificar mais assintomáticos, alerta a ministra: “A percentagem de assintomáticos é de 30% e uma percentagem de 40% na faixa etária entre os 20 e os 49 anos. São faixas etárias, concentradas em determinadas áreas de atividade, que sugerem uma saúde pública específica e de precisão”.

Foram feitos mais de 14 mil testes de rastreio nos focos específicos em Lisboa e Vale do Tejo — testes que ainda este sábado decorrem por não terem sido testados na sexta-feira. “É provável que os números de Lisboa e Vale do Tejo vejam ainda um crescimento” antes de voltarem a diminuir, avisa a ministra.

E apela:

“É importante que cada um de nós garante as regras de distanciamento físico, etiqueta respiratória, desinfeção das mãos e das superfícies. Durante este período muitas vezes se prestaram homenagem aos profissionais de saúde, ao SNS e aos trabalhadores essenciais. Pois bem, a melhor forma de os homenagear é cada um de nós ter sempre presente que a atividade de cada um condiciona estes serviços”.

Graça Freitas também fez um apelo aos jovens: “Não se esqueçam que estamos perante uma epidemia, que esta é uma doença contagiosa – e o nosso apelo é para a população jovem, que felizmente sofre pouco as consequências da doença mas contribui para que a doença se propague a outros, que atinja pessoas mais velhas, mais vulneráveis e manter cadeias de transmissão ativas no país, que é o que ninguém quer”.

A diretora-geral da saúde notou que “muitas pessoas vão tentar, e bem, divertir-se e ter acesso não só à praia mas todas as circunstâncias que rodeiam a época balnear”, até porque “têm direito ao seu descanso”. Mas devem seguir alguns conselhos: “Não partilhar garrafas, não partilhar copos, não partilhar objetos e manter distanciamento físico com pessoas que não são do nosso agregado familiar, além das máscaras, a higienização das superfícies, etc”.

Suspensão de cirurgias “acontecerá enquanto se mantiver a situação epidemiológica”

Depois de se saber que o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte iria suspender a atividade não urgente, Marta Temido, na conferência de imprensa, diz que esta suspensão “acontecerá enquanto se mantiver a situação epidemiológica que justifica algum estado de alerta”.

A ministra recorda que aconteceu o mesmo na região norte do país “ainda antes de ser anunciada a suspensão da atividade assistencial para todo o país”.

“Temos a expectativa de que também aqui em Lisboa e Vale do Tejo nas próximas semanas seja possível regressar àquilo que é o patamar de resposta com que estamos no resto do país e retomar a recalendarização da atividade que está suspensa”, diz a ministra.

Marta Temido acrescenta ainda  que “todos compreenderão certamente que face a um contexto em que ainda estamos a constatar um aumento discreto daquilo que é a procura de cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares, temos de garantir a prontidão para o caso de termos uma situação imprevista. E temos de garantir que as equipas de saúde estão disponíveis para apoiar este esforço maciço de supressão da doença nesta área”.

Empresas em Bombarral têm apresentado casos de Covid-19

Graça Freitas confirmou em conferência de imprensa que a Direção-Geral da Saúde “tem informação de que algumas empresas no Bombarral, sobretudo aquelas que têm funcionários temporários, têm apresentado casos”: “Mas no seu conjunto não configuram um número extraordinariamente elevados. É um pequeno número de casos em várias empresas”.

Apesar de reconhecer a existência destes focos, a ministra Marta Temido informou que as autoridades de saúde não revelarão o número de casos verificados em cada uma das empresas com surtos: “Não nos parece que isso traga alguma vantagem para o trabalho que temos de realizar e, pelo contrário, pode corresponder a uma visão enviseada do que é a realidade”.

A conferência de imprensa terminou com uma pergunta sobre terapias alternativas. Questionada sobre se há estudos a decorrer sobre este tema no tratamento da Covid-19 e que recomendação dá a DGS a quem as procura, Graça Freitas respondeu:

“A recomendação da DGS em relação a terapias é exatamente a mesma da Infarmed e da Agência Europeia do Medicamento. Recomendamos terapêuticas submetidas a ensaios clínicos, que tenham relatos bem documentados de custo-benefício e que têm indicações específicos. Essa é a nossa posição”.