A quarentena de Ronaldinho foi diferente. O antigo jogador brasileiro, que esteve preso durante um mês num estabelecimento prisional do Paraguai, está desde abril em prisão domiciliária num hotel de Assunção, a capital do país. Tudo começou ainda em março, quando Ronaldinho e o irmão tentaram entrar no Paraguai com documentos falsos — depois da proibição de saírem do país seguiu-se a detenção, depois um mês de prisão, depois uma fiança milionária e agora a prisão domiciliária.

Pelo meio, Ronaldinho assistiu ao início de uma pandemia a partir do interior de uma prisão — e ganhou torneios de futebol, deixando a ideia de que nunca perdeu o sorriso que o caracteriza. Em entrevista ao Mundo Deportivo, mantém a versão de que não sabia que os documentos que transportava eram falsos e que a decisão de o manter preso durante um mês foi “ilegal”. Agora, em conjunto com o irmão, está hospedado no luxuoso Hotel Palmaroga, na capital paraguaia, que curiosamente é propriedade do Grupo Barcelona.

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“Já sabia desse pormenor. Eu e o Barcelona estamos unidos para sempre, definitivamente. Será sempre a minha segunda cidade. É o clube mais incrível do mundo e os adeptos vivem nas profundezas do meu coração”, disse o antigo jogador brasileiro, que completou 40 anos na prisão. Na Catalunha, Ronaldinho ganhou quase tudo: duas ligas espanholas, duas Supertaças de Espanha, uma Liga dos Campeões. E talvez também por isso tenha merecido o apoio de Puyol, ex-capitão do Barcelona, assim como de outros colegas de equipa e de seleção, como Ronaldo, que nunca o esqueceram em mensagens nas redes sociais ou declarações públicas.

“A relação que temos é muito especial e é lindo ver tudo o que passámos no Barcelona e com todos os companheiros desta aventura que é jogar futebol. Sou jogador de futebol por amor e profissão. Eles conhecem-me bem e sabem que não foi um momento fácil. As palavras deles foram importantes e deram-me apoio para sair o mais depressa possível desta tormenta. Agradeço-lhes do fundo do coração”, afirmou o brasileiro.

Sobre o dia a dia no hotel, um estabelecimento de quatro estrelas que fica mesmo no centro de Assunção, Ronaldinho tem pouco a dizer além de referir que faz ginásio e exercício físico — e de recordar de imediato o período mais complicado que passou até pagar a fiança de mais de milhão e meio de dólares. “Foram 60 longos dias. As pessoas devem imaginar o que é não poder fazer tudo aquilo a que estamos habituados. Acho que isto vai ser algo que vai ficar connosco para sempre depois de vivermos esta experiência tão complicada”, explicou o brasileiro. Sobre a próxima temporada de futebol, que Ronaldinho diz estar “totalmente comprometida”, o antigo internacional brasileiro defende que é necessário uma “adaptação à nova normalidade” e um esforço “ainda maior para manter os clubes ao mesmo nível”.

Numa entrevista curta, que serviu mais para o brasileiro reafirmar o amor pelo Barcelona do que para explicar como está e quanto tempo ainda vai estar em prisão domiciliária, é a última frase de Ronaldinho que salta à vista. Questionado sobre a pandemia de Covid-19, que acabou por lhe passar um pouco ao lado — esteve preso durante grande parte do tempo e agora está obrigatoriamente confinado num hotel –, a resposta do brasileiro parece ser mais um conselho para si próprio e para os seus problemas do que para a sociedade. “Espero que tudo volte rapidamente à normalidade e que possamos voltar às nossas casas. Oxalá tudo volte a ser como antes”, atirou Ronaldinho.