Um… Dois… Três… Quatro… Cinco… Seis… Sete… Oito… Nove… Perdeu a atenção? Ainda está a ler? Segundo contou Bruno Patino, diretor da editora da Arte France e da Escola de Jornalismo do Instituto de Estudos Políticos de Paris, ao El País, nove segundos é o tempo máximo da nossa capacidade de atenção. Há uma “praga” na sociedade moderna que está a ser propagada pelos gigantes da Internet com links, imagens, gostos, retweets e outras técnicas para se cativar a atenção, defende.

“O modelo de negócios das plataformas é baseado em publicidade e sua eficácia depende do tempo que o utilizadores gasta nelas. As redes se tornaram predadoras do nosso tempo”, revela no seu novo estudo sobre a atenção que se consegue dispensar: “A civilização da memória dos peixes” (a versão portuguesa chama-se: “A Civilização do Peixe-Vermelho“). Porquê este título? Porque um peixe tem também uma memória limitada. Sim, como a Dory do filme “À Procura de Nemo” e “À Procura de Dory”.

Porém, nem tudo está perdido. De acordo com Patino, “a resistência ainda é possível, embora a auto-regulação e a auto-disciplina não sejam mais suficientes. Será necessário criar momentos e lugares livres de conexão”, afirma. Vai ser necessário criar leis e vão surgir novos hábitos: “No futuro, não será mais aceite consultar o telemóvel numa reunião profissional, numa refeição em família ou no cinema. Estar conectado o tempo todo vai ser tão absurdo como fumar num avião”, diz.

Após a invenção da imprensa, foram necessários entre 50 e 60 anos para que a noção de responsabilidade editorial surgisse e que panfletos difamatórios deixassem de ser publicados, o precedente das notícias falsas. Foram necessários 25 anos para regular a rádio e a televisão cerca de 15″, explica.

Patino, de 55 anos, cresceu sem televisão, assume. Hoje em dia, é responsável por um dos maiores arquivos de media franceses. Além disso, em 2015, foi responsável pela transição digital do Le Monde, um dos mais emblemáticos jornais de França. Ao ver os efeitos desta mudança, diz ao jornal espanhol que a perda de atenção que estamos a viver é “patológica”.

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Milhões de pessoas, inclusive eu, já não conseguem desconectar-se, deixar de lado a tela de 24 horas. Ficamos dependentes e até viciados”

As consequências são nefastas para a sociedade, assume. Tudo isto causa “uma polarização do debate social e um espaço público totalmente dominado por emoções”, refere. “Somos solidariamente responsáveis ​​pelo que está a acontecer connosco porque entramos voluntariamente neste aquário. Mas a responsabilidade do Facebook e dos outros gigantes é ainda maior”, aponta.

*Artigo atualizado a 20 de julho, às 17h53, com o nome do livro em português.