A consultora Fitch Solutions reviu esta quarta-feira a estimativa de crescimento económico para Angola, agravando a previsão de recessão este ano de 2,3% para 4%, e alertou que a propagação da Covid-19 pode forçar novo confinamento.

“No seguimento de um desempenho abaixo do esperado dos indicadores do primeiro trimestre, revimos em baixa a nossa perspetiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de Angola, de uma contração de 2,3% para uma queda de 4%”, lê-se no comentário à economia do país.

Na análise, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings escrevem que “o declínio da produção petrolífera vai influenciar fortemente a atividade económica, ao passo que a economia não petrolífera vai enfrentar fortes ventos contrários devido à pandemia de Covid-19”.

Os analistas, aliás, alertam que apesar do “relativamente baixo número de infeções por Covid-19, 705 até 21 de julho, a taxa de infeção tem estado a aumentar mais depressa desde junho e se esta tendência se mantiver, o governo pode ser forçado a apertar as medidas de confinamento outra vez, o que levará a uma queda do PIB ainda mais acentuada este ano”.

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Para além disto, apontam ainda, “se houve uma propagação mais acentuada do novo coronavírus para além do último trimestre deste ano, isso pode impedir a recuperação do consumo privado em 2021, potencialmente mantendo a economia em recessão, já que as exportações petrolíferas continuam a cair”.

Ainda assim, a expectativa atual apontam para uma recuperação da economia já no próximo ano, com uma expansão de 0,8%, assente “numa modesta recuperação do consumo privado, mas a queda das exportações e o escasso crescimento do investimento vai manter o PIB real abaixo dos níveis de 2020 até 2023”.

O setor petrolífero será o principal motivo da queda na atividade económica em 2020, mantendo Angola em recessão pelo quinto ano consecutivo, apontam os analistas, que antecipam uma queda de 7,8% na produção em 2020, agravando a queda de 5,7% registada no ano passado.

As exportações vão cair 1,3% em 2021, suavizando a queda de 8% este ano, mas os problemas mantêm-se: “Apesar de o consumo privado mais forte poder apoiar os lucros e, portanto, o investimento nos setores relacionados com o consumo, no geral o ambiente operacional adverso (Angola está em 26.º lugar do ranking de Risco Operacional de 48 países da África subsaariana), mantém o interesse dos investidores diminuto”.

Por outro lado, concluem os analistas, “o Governo deverá retomar a consolidação orçamental em 2021/2022 como parte do programa do Fundo Monetário Internacional, e isto deverá resultados em cortes no investimento público”.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 610 mil mortos e infetou mais de 14,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP. Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.