Uma equipa internacional, que envolveu investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), mostrou que a inteligência artificial pode ser usada para identificar individualmente aves e assim “ultrapassar uma das maiores limitações” no estudo destes animais.

Em comunicado, o CIBIO-InBIO da Universidade do Porto afirma esta segunda-feira que os investigadores envolvidos no estudo, publicado na revista Methods in Ecology and Evolution, utilizaram a inteligência artificial para “criar o primeiro método capaz de identificar individualmente as aves”.

“Este estudo demonstra, pela primeira vez, que pode ser utilizada a Inteligência Artificial para treinar sistemas de aprendizagem de máquina de forma a reconhecer individualmente as aves”, assegura o centro, acrescentando que a monitorização das populações animais ao longo da sua vida tem vindo a revelar-se “um grande desafio”.

Na maioria das espécies torna-se necessário a utilização de identificadores visuais, como são exemplo as anilhas com diferentes cores e códigos, colocadas nas patas das aves. Apesar destes métodos estarem bem consolidados, muitas das vezes a recolha e a análise de dados são muito demoradas, suscetíveis a erros e podem induzir algum stress nos animais”, indica o CIBIO-InBIO.

Segundo o centro, o estudo implicou a recolha e catalogação de “milhares de imagens” de três espécies de aves estudadas em ecologia comportamental (Tecelão-sociável, Chapim-real, Tentilhão-zebra) que, posteriormente, foram usadas para treinar e testar os modelos de inteligência artificial.

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Os modelos desenvolvidos permitiram o “reconhecimento de novas imagens com uma precisão superior a 90% nas espécies selvagens e superior a 87% nos tentilhões-zebras, mantidos em cativeiro”, refere o CIBIO-InBIO, acrescentando que o estudo apresenta um “apresenta um procedimento completo para a utilização da inteligência artificial na identificação” das aves.

Ainda que este seja um método inovador, os autores afirmam existir limitações, desconhecendo-se se o desempenho dos modelos ao longo do tempo e os mesmos só são capazes de reconhecer aves a partir de novas imagens, desde que as aves já tenham sido identificadas previamente.

Contudo, estas “limitações podem ser ultrapassadas” se for utilizado um conjunto de dados suficientemente grande obtido durante um longo período, tarefa que já está a ser desenvolvida pela equipa de investigação.

Citado no comunicado, André Ferreira, investigador do CIBIO-InBIO, do CEFE-CNRS em Montpellier (França) e autor principal do estudo, afirma que estes métodos de identificação automática e não invasiva “representa um grande avanço neste campo de investigação”.

“Em última análise, há muito espaço para encontrar novas aplicações para este sistema e responder a perguntas que pareciam inalcançáveis no passado”, considera o investigador.