Diretores das escolas temem atrasos no arranque do programa Escola Digital que prevê a distribuição de computadores por alunos no próximo ano letivo, que começa dentro de um mês.

“Gostaríamos que no início de setembro fossem distribuídos pelo menos entre os alunos com mais necessidades os meios necessários para que consigam continuar ligados à escola caso seja preciso voltar ao ensino à distância”, disse à Lusa Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

O próximo ano letivo começa entre 14 e 17 de setembro mas volta a ser um ano ameaçado pela pandemia de covid-19, com as escolas a terem planos preparados para o caso de ser preciso avançar para um modelo de ensino misto ou mesmo 100% à distância, como aconteceu em março.

“Gostaríamos que caso tenhamos de regressar ao ensino à distância, os alunos não fossem novamente prejudicados, mas diria que o tempo começa já a ser escasso”, alertou por seu turno Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), em declarações à Lusa.

A evolução dos casos de contágio em março levou ao encerramento de todas as escolas e à substituição repentina das aulas presenciais pelo ensino à distância. O ensino à distância deixou milhares de alunos desligados das escolas, uma vez que não tinham equipamentos ou ligações para acompanhar as aulas.

O primeiro-ministro prometeu então que no início deste novo ano letivo estaria “assegurada a universalidade do acesso em plataforma digital, rede e equipamento para todos os alunos do ensino básico e secundário”. Só nas escolas públicas, há cerca de 1,2 milhões os estudantes inscritos.

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Em meados de julho, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, anunciou uma verba de 400 milhões de euros para o programa Escola Digital que prevê, entre outras medidas, a distribuição de equipamentos por alunos e docentes.

“Para já não temos qualquer novidade sobre a Escola Digital, mas espero que haja, entretanto. O que sabemos é que este tipo de concursos é muito complicado, porque envolve muito dinheiro”, afirmou Filinto Lima, também diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, em Vila Nova de Gaia, em declarações à Lusa.

A ideia foi corroborada por Manuel Pereira que lembrou que é preciso encontrar empresas com capacidade para disponibilizar muitos equipamentos: “São concursos muito morosos e complicados”, concluiu. A Lusa questionou o gabinete do Ministério da Educação que explicou que o processo está a correr, mas que não existem ainda novidades.

 “Gostava que os lares dos alunos, que estão identificados pela escolas, fossem dotados de computadores”, afirmou Filinto Lima.

Para este representante dos diretores, a atribuição de computadores deve ser feita à semelhança do que já acontece com a distribuição dos manuais escolares: é gratuito, mas a título de empréstimo.

A Escola Digital prevê a aquisição de computadores, conectividades e serviços para dotar as escolas públicas de meios necessários que permitam a alunos e professores aceder e utilizar recursos didáticos e educativos digitais. As medidas serão implementadas em diferentes fases, sendo que a primeira é precisamente a aquisição de computadores, segundo explicou o ministro há cerca de um mês.

Não sendo possível distribuir simultaneamente a todos, a prioridade será dada aos alunos abrangidos pela ação social, até se conseguir chegar à universalidade da medida. O programa prevê também um plano para capacitação digital dos docentes.  A ideia de aumentar a conectividade e acesso das escolas à internet e dotá-las de recursos que promovam a integração transversal das tecnologias nas diferentes áreas curriculares estava já prevista no Programa do Governo.