Um grupo de ativistas e familiares de 12 detidos em Shenzhen (China continental), em que se inclui um jovem português, manifestou-se esta quinta-feira em Hong Kong, exigindo informações sobre as detenções.

O protesto realizou-se junto à sede do Serviço de Aviação Governamental de Hong Kong (GFS, em inglês), em Lantau, e entre os presentes estavam o ativista Joshua Wong e o antigo deputado Chu Hoi-dick, que dizem ter provas de que o GFS enviou uma “aeronave de asa fixa” para rastrear o grupo em 23 de agosto, noticia esta quinta-feira a emissora local RTHK.

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Segundo a mesma fonte, os ativistas não acreditam nas declarações das autoridades de Hong Kong, que dizem não ter estado envolvidas nas detenções.

Durante a ação de protesto, agentes da polícia estiveram no local e exigiram aos manifestantes que retirassem os seus cartazes e alertaram para o risco de violação das restrições contra as concentrações de pessoas em locais públicos, acrescenta a RTHK.

Os protestos surgem depois de o GFS ter anunciado, na quarta-feira, que não divulgaria quaisquer registos de voos de 23 de agosto, considerando que esta é uma prática comum.

A chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse na terça-feira que a polícia de Hong Kong “não teve absolutamente qualquer papel” na detenção das 12 pessoas. Os 12 ativistas pró-democracia, que incluem o estudante universitário Tsz Lun Kok, com dupla nacionalidade chinesa e portuguesa, foram detidos em 23 de agosto pela guarda costeira chinesa, por suspeita de “travessia ilegal”, quando se dirigiam de barco para Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo político.

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O advogado em Hong Kong do estudante com passaporte português disse à Lusa em 04 de setembro que as autoridades chinesas recusaram o acesso ao advogado mandatado pela família no continente chinês, alegando que “a investigação do caso não está concluída, e que [o detido] não tem o direito de ver um advogado”. Segundo familiares dos detidos, desde a detenção nenhum dos ativistas pôde contactar a família nem ter acesso a advogados mandatados pelos seus familiares, tendo a China nomeado, em alguns casos, advogados oficiosos.

Com 23 anos, Wong é um dos rostos mais conhecidos da chamada “revolução dos guarda-chuvas”, em 2014, e chegou a ser detido e condenado após os protestos desse ano. Foi nomeado para o Prémio Nobel da Paz, em 2017, e esteve preso em 2018, tendo sido mais tarde libertado.

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O jovem de nacionalidade portuguesa Tsz Lun Kok tinha já sido detido em 18 de novembro em Hong Kong, e mais tarde libertado, durante o cerco da polícia à Universidade Politécnica daquele território, sendo acusado de motim, por ter participado alegadamente numa manobra para desviar as atenções das forças de segurança com o objetivo de permitir a fuga de estudantes refugiados no interior.

Promulgada em 30 de junho pelo Presidente chinês Xi Jinping, a nova lei permite punir quatro tipos de crimes contra a segurança do Estado: atividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras que ponham em risco a segurança nacional em Hong Kong.

A comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos da América e a União Europeia, além de diversas organizações não-governamentais (ONG), expressaram o receio de que a lei sirva para silenciar vozes críticas em Hong Kong, após um ano de protestos que levaram a nove mil detenções na ex-colónia britânica.