Menos de um mês depois de se ter sagrado campeão europeu em Lisboa, recuperando um título europeu que lhe fugia há sete anos, o Bayern recomeçou a nova temporada e logo com uma goleada pesada frente ao Schalke 04 por 8-0 no início da Bundesliga. O tempo para descansar não foi muito, as rotinas acabaram por ser as mesmas, os resultados continuaram a aparecer. E ainda houve a conquista da Supertaça Europeia frente ao Sevilha e também o triunfo na Supertaça da Alemanha diante do B. Dortmund, elevando para cinco o número de troféus conseguidos num pequeno lapso de três meses e meio. No entanto, a derrota frente ao Hoffenheim e as dificuldades no triunfo com o Hertha em casa mostraram algo que se torna muitas as vezes o grande desafio para as equipas que ganham tudo: manter o foco para continuar a ganhar. E essa era a janela de oportunidade para o Atl. Madrid.

Bayern, provavelmente o melhor clube do mundo. Provavelmente não, de certeza. E tem muito a ensinar aos outros

Thiago foi a grande saída para o Liverpool, Perisic e Coutinho terminaram os seus empréstimos, Leroy Sané e Douglas Costa foram as grandes apostas entre outras chegadas como a de Nübel, Nianzou ou Choupo-Moting. O plantel ficou mais novo, ganhou outras opções ofensivas mas de resto manteve-se fiel à base que se sagrou campeã europeia com Hansi Flick, onde constam Manuel Neuer, Kimmich ou Robert Lewandowski, todos distinguidos com prémios individuais da Champions de 2019/20. Chegará para repetir a última temporada? “Queremos sempre ter o maior sucesso possível mas será muito difícil repetir o que fizemos na época passada. Principalmente na Liga dos Campeões, onde estão equipas muito fortes. Temos de pensar jogo a jogo. O Atl. Madrid é uma equipa que reflete em campo o trabalho do treinador Diego Simeone e faz isso com paixão”, admitiu o técnico.

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Era neste contexto que o Atl. Madrid, regressado às vitórias após dois nulos na Liga, com Diego Costa lesionado e Luis Suárez a assumir um papel de maior relevância na frente, chegava a Munique. Mais do que ser líder do grupo em caso de triunfo, os espanhóis tinham uma oportunidade de recuperar o protagonismo nos palcos europeus que se foi mitigando nos últimos anos, mesmo tendo pela frente “o melhor de todos, pela força, hierarquia, história e presente”. “O Bayern continua a gerar admiração por ser uma equipa que pressiona como pressiona, com [Thomas] Müller, com [Robert] Lewandowski, com qualquer outro jogador que lhe ponham ao lado, continuam a jogar nessa linha onde se sentem confortáveis e são fortes”, salientou Diego Simeone, que voltou a falar em João Félix (um tema sempre incontornável nas conferências) e naquilo que pode oferecer à equipa.

É mais um jogo e não apenas uma partida para mostrar isso. O João Félix tem vindo a fazer isso neste campeonato, tem evoluído no sentido de compromisso defensivo com a equipa. Mas também não acho que este jogo seja para ele mostrar que sabe ajudar a defender… Ele trabalha e faz isso naturalmente. Não tenho dúvidas de que ele irá fazer isso”, referiu o técnico, que já antes elogiara o avançado.

Koeman não quis, Simeone agradeceu: Suárez marca o golo 150 na Liga, Félix fecha a brilhar e Atl. Madrid volta aos triunfos

Era no português que a imprensa espanhola depositava as fichas das esperanças colchoneras, recordando os jogos em Anfield com o Liverpool e em Alvalade com o RB Leipzig para dizer que já se mostrara em termos individuais na Champions mas que procurava ainda “aquele” encontro que fizesse a diferença, como aconteceu no último lance em Vigo quando fez uma colher para Llorente, recebeu de calcanhar, puxou para o pé esquerdo numa diagonal, acertou na trave e Carrasco encostou para a recarga que fechou as contas com o Celta. E Félix até marcou um golo a abrir a segunda parte, anulado pelo VAR devido ao adiantamento de Suárez. De resto, pouco ou nada fez que merecesse um especial destaque, à semelhança da própria equipa. Foi um dos menos maus. A derrota tornou-se inevitável, a goleada chegou por acréscimo (4-0). E o Simeoneball, aquela ideia de rigor tático, entrega, compromisso e garra que ganhou um Campeonato e foi a duas finais europeias entre outros títulos, faliu. É curta, já não chega. Muito menos quando se tem um plantel com tanta qualidade do meio-campo para a frente.

Com Tolisso a ser a surpresa no onze de Flick, reforçando o corredor central ao lado de Kimmich e Goretzka tendo em conta também a ausência de Gnabry por estar infetado com Covid-19, o jogo começou com as características esperadas mas com os espanhóis a ficarem a meio da história: dentro de uma postura de maior contenção que já se antevia, o Atl. Madrid ainda neutralizou no quarto de hora inicial o jogo com bola dos bávaros mas manteve as dificuldades extremas em sair em transições e colocar em perigo a defesa contrária. Aliás, não fosse Luis Suárez a tentar por duas vezes a baliza e Neuer tinha sido um mero adepto numa fase onde o futebol continua sem adeptos, perante várias oportunidades criadas pelos bávaros sempre que aceleravam um pouco mais o jogo.

Coman, o herói da última final da Champions, inaugurou o marcador com um remate cruzado descaído no lado esquerdo da área após grande passe de Kimmich para as costas da defesa contrária (28′). Goretzka, o músculo do meio-campo que de certa forma ganhou um espaço que pertencia a Thiago até sair para o Liverpool, aumentou a vantagem ainda antes do intervalo depois de mais uma grande combinação ofensiva dos germânicos com mais uma assistência de Coman (41′). E antes já tinha existido uma bola nos ferros de Süle e uma defesa apertada de Oblak a uma tentativa na área de Tolisso. O domínio do Bayern era total, o Atl. Madrid tinha tudo para mudar.

Vontade não faltava, inspiração é que não abundava. Aliás, há uma bola aos 54′ que explica muito do que faltava ao conjunto de Simeone, quando João Félix estava aberto na esquerda no limite do seu meio-campo, poderia ter sido lançado em profundidade mas ao invés ficou a abanar a cabeça ao ver mais um chutão para a frente. O português ainda teve nos pés o melhor lance dos visitantes logo a abrir, aproveitando uma segunda bola para rematar forte e deixar Neuer mal na figura, mas o golo foi anulado pela posição irregular de Suárez (47′). E bastou essa entrada um pouco mais vertical voltar ao mesmo para o Bayern recuperar o controlo e chegar mesmo à goleada com dois golos fantásticos de Tolisso, num remate de fora da área ao ângulo (66′), e de Coman, a fintar vários adversários antes do remate cruzado na área sem hipóteses para o desamparado Oblak (72′).