O ex-Presidente boliviano Evo s regressa esta segunda-feira da Argentina, numa travessia de 1.100 quilómetros que pretende convocar milhares de pessoas em caravana durante três dias, fazendo coincidir a chegada com o aniversário da sua partida da Bolívia.

O ex-presidente boliviano e o atual presidente argentino, Alberto Fernández, estão desde a noite de domingo em La Quiaca, extremo Norte da Argentina, fronteira com a Bolívia.

Morales chegou vindo de Buenos Aires e Fernández de La Paz, onde participou na posse do candidato de Evo Morales, o seu ex-ministro da Economia, Luis Arce, eleito em 18 de novembro com 55,1% dos votos em primeira volta.

Por volta das 10h00 (13h00 em Lisboa), Evo Morales e Alberto Fernández serão protagonistas de uma cerimónia, na qual o líder boliviano fará a despedida formal do país, onde ficou por onze meses, desde 12 de dezembro, depois de passar um mês no México sob a tutela do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador.

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“Quando eu tinha muitos problemas para sair de Chimoré, em Cochabamba, Alberto Fernández telefonou diversas vezes para outros presidentes amigos. O irmão presidente argentino salvou a minha vida”, disse Evo Morales em conferência nesta fim-de-semana, antes de viajar para a fronteira.

Após a cerimónia do lado argentino, os dois protagonistas vão atravessar juntos a fronteira e, do lado boliviano, na cidade de Villazón, Evo Morales terá outro ato, desta vez o de regresso ao lar. Centenas de organizações sociais darão as boas-vindas a partir das 11h00 (14h00 em Lisboa).

Depois do evento, por volta das 16h00 de Lisboa, uma caravana com mais de mil veículos vai começar uma travessia por metade do território boliviano, atravessando três departamentos (Potosí, Oruro e Cochabamba) e dezenas de municípios.

Em pelo menos cinco cidades (Atocha, Orinoca, Uyuni, Oruro e Chaparé), Evo Morales vai parar para fazer novos atos nos quais vai reforçar a ideia de que “a democracia foi reinstalada na Bolívia”.

A chegada ao destino final, Chimoré (Cochabamba), está prevista para quarta-feira, dia 11, exatamente um ano depois de Morales sair do país.

Morales abandonou a Bolívia um dia após renunciar ao cargo de Presidente, após três semanas de protestos e greves contra uma fraude eleitoral, apontada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), auditora do processo, e depois de ter perdido o apoio dos sindicatos, da Igreja e das Forças Armadas.

Evo Morales, no entanto, disse ter sido vítima de um “golpe de Estado” apoiado pelos Estados Unidos.

Dedicar-me-ei à agricultura. Fico a sonhar em ter piscinas de criação de peixes. E, com certeza, terei outra atividade que será partilhar com os jovens a minha experiência sindical e em gestão pública. Tenho a obrigação de partilhar essa experiência de luta. E cuidarei do irmão presidente Luis Arce seja como auxiliar ou como militante”.

No dia 26 de outubro, logo após a vitória nas urnas do seu candidato, a Justiça Penal boliviana decidiu anular a ordem de detenção e o processo judicial contra Evo Morales nos casos de sedição e terrorismo. A decisão abriu as portas para Morales voltar sem ser preso.

Para o ex-Presidente, os processos por fraude eleitoral, sedição, genocídio, terrorismo, financiamento e incitação pública a delinquir e até estupro são parte de uma “guerra suja”.

Tenho cerca de 30 processos, mas nenhum por corrupção. A História me julgará. Embora não tenham permitido que um indígena continue no Governo, não estamos arrependidos, não somos vingativos”.