Portugal recebeu este domingo, na missa presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano, os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que Lisboa acolhe em 2023, e que devem depois percorrer as dioceses portuguesas e países de língua portuguesa.

A entrega dos símbolos, a Cruz Peregrina, com 3,8 metros de altura, e a réplica do ícone de Nossa Senhora ‘Salus Populi Romani’, que retrata a Virgem Maria com o Menino nos braços, deveria ter acontecido em abril, mas devido à pandemia de Covid-19 foi adiada.

O ato constitui “o pontapé de saída para a organização de Lisboa”, como explicou recentemente à agência Lusa o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, Américo Aguiar. Os símbolos estavam até agora na posse do Panamá, cuja capital foi palco da última JMJ, em janeiro de 2019. A JMJ é o maior evento organizado pela Igreja Católica.

Segundo Américo Aguiar, a preparação da JMJ em Lisboa “continua com muitas condicionantes, com muitos adiamentos, mas é para fazer caminho, porque o verão de 2023 está aí à espreita”.

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Depois de chegarem a Portugal, aqueles símbolos ficarão na Sé de Lisboa, mas há também um pedido para receber os símbolos de Santiago de Compostela (Espanha), que em 1989 acolheu a JMJ, e que celebra o Ano Jacobeo em 2021.

Na celebração de hoje vai estar uma dezena de jovens, em vez da centena que estava prevista antes da pandemia, disse também à Lusa o secretário executivo da JMJ Lisboa 2023, Duarte Ricciardi. O momento de hoje, considerou, é uma “espécie de passagem de pasta dos jovens do Panamá para os jovens de Lisboa”.

De acordo com uma nota de imprensa da organização, a comitiva portuguesa é presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente. O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que tutela a área da juventude, também vai comparecer em Roma.

O anúncio da escolha de Lisboa para receber a JMJ foi feito em 27 de janeiro de 2019, na Cidade do Panamá. Nesse dia, na sua conta no Twitter, o Papa escreveu: “A vocês, queridos jovens, um muito obrigado por #Panama2019. Continuem a caminhar, continuem a viver a fé e a compartilhá-la. Até Lisboa em 2022”.

Inicialmente prevista para agosto de 2022, a pandemia de Covid-19 determinou o adiamento da JMJ um ano. Portugal será o segundo país lusófono, depois do Brasil, a acolher uma Jornada Mundial da Juventude, criada em 1985 pelo Papa João Paulo II (1920-2005).

Papa desafia jovens a rejeitarem consumismo e a terem “grandes sonhos”

Na homilia da missa da solenidade de Cristo Rei, a que presidiu na Basílica de São Pedro e na qual participou a delegação portuguesa que recebeu, no final da cerimónia, os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o chefe da igreja católica convidou os jovens a assumirem “escolhas vigorosas, decisivas e eternas”.

“Hoje, escolher é não se deixar domesticar pela homogeneização nem anestesiar pelos mecanismos do consumo, que desativam a originalidade, é saber renunciar às aparências e à exibição. Escolher a vida é lutar contra a mentalidade do usa e deita fora, do tudo e imediatamente, para orientar a existência rumo à meta do Céu, rumo aos sonhos de Deus”, afirmou.

Francisco destacou a importância dos “grandes sonhos” na vida dos jovens, para que estes alarguem os seus “horizontes” e não fiquem “estacionados nas margens da vida”. “Não fomos feitos para sonhar aos feriados ou ao fim de semana, mas para realizar os sonhos de Deus neste mundo. Ele tornou-nos capazes de sonhar, para abraçar a beleza da vida”, frisou.

O Papa alertou que “escolhas banais levam a uma vida banal”, realçando que “a beleza das opções depende do amor”. “Se escolhemos roubar, tornamo-nos ladrões; se escolhemos pensar em nós mesmos, tornamo-nos egoístas; se escolhemos odiar, tornamo-nos furiosos; se escolhemos passar horas no telemóvel, tornamo-nos dependentes. Mas, se escolhermos Deus, vamo-nos tornando dia a dia mais amáveis; e, se optarmos por amar, tornamo-nos felizes”, afirmou.

A homilia recordou o exemplo de São Martinho, cuja festa litúrgica se celebra em 11 de novembro, um jovem romano de 18 anos, que, ainda não batizado, “cortou o seu manto e deu metade ao pobre, suportando o riso de escárnio de alguns à sua volta”. “São Martinho era um jovem que teve aquele sonho porque o vivera, embora sem o saber, como os justos do Evangelho de hoje”, acrescentou.

Francisco admitiu que, na vida dos mais novos, há “obstáculos” no momento de decidir, “o medo, a insegurança, os porquês sem resposta”. “A vida já está cheia de escolhas que fazemos para nós mesmos: ter um diploma, amigos, uma casa; satisfazer os próprios passatempos e interesses. De facto, corremos o risco de passar anos a pensar em nós mesmos, sem começar a amar”, advertiu.

No final da homilia, o Papa deixou um “conselho” para que os jovens possam “escolher bem”. “A opção diária situa-se aqui: escolher entre o que me apetece fazer e o que me faz bem. Desta busca interior, podem nascer escolhas banais ou escolhas vitais. Olhemos para Jesus, peçamos-Lhe a coragem de escolher o que nos faz bem, de caminhar atrás d’Ele pela via do amor e encontrar a alegria”, declarou.