A região Centro-Oeste do Brasil é a segunda maior região brasileira e a segunda menos populosa. De todas, é a única que não é banhada pelo mar, mas também é a única que faz fronteira com as outras quatro regiões do país: Norte, Nordeste, Sudeste e Sul. Há uma permanente ambiguidade nesta condição de interioridade que amplia a sensação de isolamento, acentuada pelos ciclos migratórios em direção ao sul, ao mesmo tempo que é evidenciado o carácter de centralidade e de elo que esta região estreita com o restante continente brasileiro. Não por acaso é aqui, no Planalto Central, que se funda a capital Brasília.

Perceber isto é o ponto de partida para perceber os Carne Doce. Oriundos de Goiás – que dos três estados do Centro-Oeste é o que se encontra “mais perto” do mar – a banda tem na sua sonoridade e lírica toda a ambivalência de ser deste interior, que é ao mesmo tempo eixo. Uma característica que assumiram sem medo nem vergonha no seu quarto álbum de originais.

“Mais do que ser de Goiás, trata-se de ser do interior, que é um território imenso. Ser do interior é algo que me envaidece e me incomoda. Os estigmas do atraso, da distância, fazem parte da nossa cultura, mas, ao mesmo tempo, tenho muito prazer em ir e voltar e gosto da perspetiva que ser daqui me dá”, confidencia Salma Jô, vocalista da banda, em entrevista por e-mail ao Observador.

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