A pandemia afastou das salas de cinema e dos espetadores, os filmes de grande orçamento e receitas milionárias. A exibição de algumas produções que tiveram orçamentos superiores a 100 milhões de euros está suspensa, com salas fechadas ou restrições horárias que afastam os espetadores.

É o caso do mais recente filme da saga James Bond, o último a ser protagonizado por Daniel Craig cujo lançamento foi já adiado duas vezes. Já a produção da Disney, Mulan, foi lançada na plataforma de streaming do grupo americano. Os filmes Top Gun e a Black Widow da Marvel foram adiados sem data para exibição à espera de um regresso à normalidade que ainda ninguém sabe quando acontecerá.

Os exemplos são avançados pela BBC que também cita a diretora da liga internacional de críticos de cinema, Finn Halligan. “Os estúdios não quiseram sacrificar os filmes que potencialmente fazem milhares de milhões em receitas durante as restrições para combater a pandemia. São bens demasiado valiosos”.

Mas suspender a exibição também tem custos. De acordo com o Hollywood Reporter, citado pela BBC, a suspensão do filme do 007 “No time do die” está a custar aos estúdios MGM mais de um milhão de euros em juros todos os meses, isto porque a produção foi financiada com fundos emprestados que não podem ser reembolsados antes do filme ser exibido e gerar receitas.

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No entanto, a crítica de cinema acredita que os heróis do cinema ainda podem salvar a experiência de ver cinema em grande ecrã.

“É como se tivéssemos a assistir a um desafio de olhares. Alguém terá de ser o primeiro a piscar o olhos”. Um dos sinais do regresso dos chamados blockbusters é a notícia de que a Mulher Maravilha 1984 será lançada no dia de Natal nos Estados Unidos, em simultâneo nos cinemas e no online. Este filme protagonizado pela atriz Gal Gadot custou 200 milhões de dólares e devia ter estreado em junho, tendo sido adiado também por duas vezes.

No ano passado, nove filmes conseguiram angariar receitas a nível global de mais de mil milhões de dólares, entre os quais o Rei Leão, o Joker, os Vingadores, Endgame e o Capitão Marvel. Já este verão, um dos poucos blockbysters (expressão inglesa para sucessos de bilheteira) a estrear foi Tenet, protagonizado por Christopher Nolan. O filme custou cerca de 200 milhões de dólares e até agora gerou uma receita de 350 milhões de dólares (quase 300 milhões de euros).

A commuter walks past a poster of Christopher Nolan's

Cartaz do filme Tenet

Dadas as circunstância não é um mau resultado, considera Finn Halligan. No entanto, para esta especialista em cinema a questão crucial não é a existência deste tipo de filme, mas sim a sobrevivência das salas de cinema. “Será que as audiências se vão sentir seguras para regressar ao grande ecrã ou vão preferir ver o filme em casa nas plataformas de streaming?”

Em Portugal, as salas de cinema já estavam a perder espetadores há vários anos. De acordo com dados recentes do Instituto do Cinema e do Audiovisual mostram que quase um milhão de espetadores deixaram de ir ao cinema em 2018 face ao ano anterior.

Esta crise é agravada pelos efeitos da pandemia e das restrições mais recentes que impedem as salas de funcionar aos fins de semana a partir das 13hoo, naquela que é um período de maior procura. O recolher obrigatório na maioria dos concelhos do país a partir das 23ho0 também condicionam os horários. Segundo uma associação que representa o setor, metade das salas de cinema em Portugal está em risco de encerrar.

Mais de metade dos cinemas em risco de fechar, diz federação que representa o setor