Não será preciso Cristo descer à Terra para Marcelo Rebelo de Sousa anunciar a recandidatura e será, certamente, antes da data que celebra o nascimento de Cristo. O atual Presidente da República vai balizando cada vez mais o momento em que diz ao país que se recandidata a um segundo mandato. Não faltará muito e o próprio sinalizou isso mesmo esta terça-feira após as comemorações do 1º de dezembro: “Está próximo. Está próximo“. No início do ano, Marcelo disse que o anúncio era “lá para novembro“, em julho disse que seria em “dezembro”, depois acrescentou que só o faria depois de marcar as eleições (o que fez a 24 de novembro) e esta terça-feira especificou que só o fará após falar ao país sobre os próximos dois estados de emergência (o que acontecerá esta sexta-feira, 4).

A janela para o anúncio vai sendo encurtada e ao que tudo indica será entre 10 de dezembro e 18 de dezembro — o que foi reforçado na noite desta terça-feira pelo o presidente da Câmara Municipal de Cascais. Carlos Carreiras decidiu partilhar uma notícia citando  no seu Facebook as seguintes palavras da peça da SIC Notícias: “O anúncio formal deve acontecer na segunda ou terceira semana de dezembro, em Cascais”. O autarca de Cascais acrescentou depois, palavras dele, o seguinte: “Terá o meu apoio”. O local do anúncio ainda não está, no entanto, fechado.

O Presidente da República explicou a sua gestão da seguinte forma: “A decisão obedece a um objetivo esperar por um momento em que ainda devo intervir como Presidente da República no quadro do estado de emergência. Só depois disso é que sinto que devo tomar a decisão e comunicá-la aos portugueses”. Entretanto, há Conselho de Ministros Extraordinário com medidas a dia 5, dia 7 é “ponte”, dia 8 é feriado e no dia 9 de dezembro, tal como o Observador escreveu aqui e recordou aqui, Marcelo ainda quer discursar como presidente perante perante todo o corpo diplomático, no Seminário Diplomático anual. Como Marcelo evitará a semana do Natal e o fim-de-semana que antecede a consoada isso significa que fará o anúncio de recandidatura entre a quinta-feira da próxima semana (10) e a sexta-feira da semana seguinte (18). O Observador sabe que Marcelo ainda nem com os seus colaboradores mais próximos fechou uma data, mas dificilmente fugirá desta janela.

Há outros sinais de que a candidatura está próxima. O jornal i (edição impressa) e a Rádio Renascença noticiaram esta terça-feira que já há uma estrutura a recolher assinaturas coordenada pelo antigo secretário-geral do PSD no tempo de Passos Coelho, José Matos Rosa. Marcelo não escondeu esta terça-feira que tem conhecimento que esse trabalho já está a ser feito em torno da sua candidatura a Belém: “Tenho recebido diversas pressões, de diversa natureza e nas últimas semanas mesmo quem envie assinaturas, quem recolha assinaturas, envie cartas, mas a decisão é minha.”

O processo é complexo, já que são necessárias 7.500 assinaturas para que uma candidatura seja validada pelo Tribunal Constitucional. O apoio da máquina dos partidos ganha aqui especial importância. Em 2015, discretamente, o partido ajudou oficiosamente Marcelo Rebelo de Sousa a recolher as assinaturas, num processo também liderado por Matos Rosa, então secretário-geral. Figuras como Tiago Sá Carneiro, então adjunto na sede nacional, ou Ângelo Pereira, atualmente presidente da distrital de Lisboa, envolveram-se na altura na recolha de assinaturas. Quando Marcelo, a 23 de dezembro entregou as 15 mil assinaturas no Tribunal Constitucional, foi até pedido aos membros do PSD (sem êxito) que tentassem não aparecer nas fotografias para que não houvesse uma leitura partidária do momento.

Desta vez, no entanto, Marcelo ainda não pediu ajuda ao partido para esta recolha. Se Matos Rosa foi envolvido em 2015, ao atual secretário-geral do PSD, José Silvano, ainda não terá sido pedoda ajuda. Para já estão envolvidos elementos que apoiaram Miguel Pinto Luz, o que poderá não cair bem junto do partido liderado por Rui Rio.

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