O candidato do Chega às eleições europeias, António Tânger Correia, admitiu esta terça-feira que haverá “consequências” para aqueles que o acusaram de antissemitismo, na sequência das declarações que fez, numa entrevista ao Observador, sobre a eventualidade de os judeus terem sido avisados do ataque às Torres Gémeas em 11 de setembro de 2001.

“Não disse que foram”, respondeu António Tânger Correia, numa entrevista à CNN Portugal, insistindo na formulação “podem ter sido”.

Assinalando que sempre teve relações próximas com Israel e os seus líderes, o dirigente do Chega recorda que era “muito amigo de Shimon Peres” e que ajudou Israel em vários momentos da história. Tânger Correia lamenta que o seu livro esteja a ser lido fora do contexto: “De 250 páginas, as pessoas maldosamente vão buscar duas linhas.”

Mas o candidato do Chega garante que as acusações de antissemitismo de que foi alvo não vão ficar sem consequências. Questionado sobre o teor dessas consequências e sobre se o alvo será Sebastião Bugalho, o candidato da AD que o acusou de antissemitismo, Tânger Correia rejeitou, para já, dar detalhes.

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“Não queria nesta altura do campeonato, a 15 dias das eleições, entrar por aí”, disse. “A seguir às eleições, com certeza.”

Questionado sobre se se referia a eventuais processos judiciais, respondeu que, “eventualmente, os advogados é que vão saber se sim ou não”, mas classificou as declarações de Bugalho como um “ataque soez e baixo”.

Tânger Correia insistiu que não fez as declarações que lhe atribuem e sublinha que quando os EUA avisaram que poderia haver um ataque terrorista em Moscovo “ninguém se levantou”. O candidato do Chega voltou novamente a dizer que não é político, mas diplomata, e que estes contactos fazem parte da diplomacia.

Tânger Corrêa em entrevista: “Judeus podem ter sido avisados do 11 de Setembro”

Se AD perder eleições, “muito dificilmente” o Governo pode continuar em funções

O candidato do Chega às europeias considera que “muito dificilmente” o Governo poderá continuar em funções caso perca as eleições de 9 de junho, mas garante que o partido de Ventura não fará nada para “deitar o Governo abaixo”.

“Antecipo que vamos portar-nos bem, em termos de resultados”, disse Tânger Correia em entrevista à CNN Portugal. “O nosso presidente diz que quer ganhar as eleições.”

Tânger Correia mencionou também a existência de uma sondagem que dava ao Chega um empate técnico com o PS e a AD, mas não deu detalhes sobre esse estudo.

Contudo, considerou que será difícil para o executivo de Montenegro manter-se em funções caso não ganhe as europeias. Seria, nas palavras de Tânger Correia, “um governo minoritário com uma derrota numas eleições, com as dificuldades que tem”.

[Já saiu o primeiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui.]

Tânger Correia disse também que “existe um bloco central” entre AD e PS (que, acrescenta, o anúncio do aeroporto hoje só veio confirmar) e que não sabe se o PS vai querer “aguentar ou não” o Governo.

Ainda assim, o Chega não pretende fazer cair Montenegro. “Não faremos nada objetivamente para deitar o governo abaixo”, sustentou.

Sobre os anúncios desta terça-feira — novo aeroporto em Alcochete, nova ponte sobre o rio Tejo em Lisboa e ligação ferroviária de alta velocidade para Espanha —, Tânger Correia disse que “parece a Alice no País das Maravilhas” e pergunta “de onde vem o dinheiro”.

Cabeça-de-lista do Chega garante que não defende a Rússia. “Chamar-me putinista é grave”

Questionado sobre um texto pró-Rússia que partilhou nas redes sociais no início da guerra, Tânger Correia garante que não é putinista e queixa-se de um “aproveitamento” feito de textos que partilhou no Facebook, mas que não eram da sua autoria.

Os textos foram partilhados numa altura em que “havia muita informação e contra-informação”, disse Tânger Correia.

“Não tem qualquer sentido dizer que sou a favor de Putin ou da Rússia”, acrescentou, lembrando que o Chega foi o primeiro partido a “apoiar incondicionalmente a Ucrânia” e que ele próprio, com André Ventura, planeia uma futura deslocação à Ucrânia para demonstrar esse apoio.

Sobre o texto que partilhou, Tânger Correia lembra que, “na altura, não era claro que tivessem sido tomadas todas as precauções” para evitar a guerra. “Ainda hoje não se percebe bem aquele precipitar dos acontecimentos.”

“Nunca fui a favor da Rússia”, defendeu. “Considero que a Rússia, já nessa altura, estava numa perigosa deriva totalitária”, acrescentou, dizendo que entre o totalitarismo e a liberdade está do lado da liberdade.

Tânger Correia acrescenta também que não considera que o regime de Kiev é nazi, mas sustenta que havia “algumas forças neonazis” na Ucrânia, que Zelensky afastou.

“Chamar-me putinista é grave, é chato”, disse, assumindo que a sua perceção do conflito na altura em que partilhou aqueles textos não era a que tem hoje. Admite que as acusações de que é alvo sejam parte da política, como as acusações de antissemitismo.

Solução de dois estados para Israel e Palestina

O candidato do Chega às europeias foi também questionado sobre os atuais desenvolvimentos do conflito no Médio Oriente e garantiu que, embora esteja do lado dos israelitas, considera ser impossível dizer neste momento de que lado está a razão.

“É muito difícil quando o discurso de ódio toma conta das pessoas e dos campos de batalha”, sustentou. Ainda assim, defende que “a razão assiste muito mais aos israelitas do que aos militantes do Hamas”.

Para Tânger Correia, é necessário acabar com o conflito de forma imediata e, depois, “negociar a solução de dois estados”.

O candidato alerta, contudo, para as dificuldades que podem surgir de seguida, lembrando que “os palestinianos não estão unidos entre si” e que há perguntas por responder, como qual o papel que será dado à Fatah.

Tânger Correia defende reativação da indústria de defesa portuguesa

António Tânger Correia, na entrevista à CNN Portugal, é também chamado a pronunciar-se sobre a situação de defesa da União Europeia.

O candidato do Chega considera que Portugal deve “reativar” a sua indústria de defesa, para reforçar os seus meios militares, num regime que pode inclusivamente recorrer a parcerias público-privadas.

Lamentando o desinvestimento da UE em defesa e a excessiva dependência em relação aos Estados Unidos, Tânger Correia diz não acreditar “que a capacidade de defesa europeia seja, neste momento, eficaz”.

A propósito da guerra na Ucrânia, Tânger Correia não descarta, por princípio, o envio de tropas ocidentais, incluindo portuguesas, para Kiev, mas questiona-se: “Quem vamos mandar?”

O candidato do Chega salienta mesmo que Portugal já enviou uma companhia para a Roménia, para apoio de retaguarda, e que Portugal pode vir a enviar tropas para a Ucrânia, a título individual ou inseridas na NATO — sem que isso implique necessariamente retaliações de Moscovo contra Portugal.

“É preciso fechar fronteiras externas, é preciso controlar a imigração”

Na reta final da entrevista à CNN Portugal, o candidato do Chega às europeias, António Tânger Correia, falou sobre a “migração descontrolada”, cujo “resultado está à vista” em casos como os que têm surgido nos noticiários nos últimos dias.

“É preciso fechar fronteiras externas, é preciso controlar a imigração”, destacou Tânger Correia. “É preciso que as pessoas que vem para Portugal tenham garantidas condições de trabalho e vida digna. Que não vivam como animais, que não são.”

Questionado ainda sobre a possibilidade de o Chega apoiar António Costa para presidente do Conselho Europeu, Tânger Correia assumiu que a posição do partido não é favorável, mas que tem estima pessoal por Costa e prefere saber quem são todos os candidatos.