A história

O quarto restaurante do grupo Non Basta abriu as portas no final de outubro de 2020 para trazer um pouco da província ao meio urbano. Instalado em plena Avenida da República, em Lisboa, a sua inauguração estava prevista acontecer em abril, mas a pandemia e consequente quarentena trocaram as voltas aos planos iniciais. “Não abrimos logo quando os restaurantes reabriram ao público, a 18 de maio, porque quisemos perceber um pouco o mercado, se as pessoas estavam ou não preparadas para visitarem novamente espaços públicos”, comenta Frederico Seixas, um dos sócios, ao Observador.

Abrir um restaurante num ano completamente atípico é, também, uma experiência atípica. A maior dificuldade tem sido a constante troca de horários, o que dificulta a fidelização de clientes. De há um mês para cá que a gestão vê-se obrigada a mudar todas as semanas as horas de funcionamento do espaço. “Começámos a trabalhar numa lógica de minimizar o risco ao trabalhar só um turno com uma equipa, de quarta-feira a domingo aos jantares. Duas semanas depois tivemos de alterar e passar a trabalhar de segunda a sexta-feira, aos almoços e jantares, uma vez que não nos era permitido estarmos abertos ao fins de semana”, comenta Seixas, garantido que o restaurante não tem, nem terá, uma lógica de entrega de comida em casa.

O novo Província não esquece a família de onde veio — o grupo tem ainda dois restaurantes Pasta Non Basta e o Memória, todos em Lisboa —, mas vai além do conceito original. A gastronomia italiana continua a servir de base embora haja uma maior liberdade na utilização de técnicas e de matérias-primas, sobretudo nacionais. “Quisemos manter a génese italiana ao mesmo tempo que estamos abertos ao mundo”, continua o sócio, descrevendo o espaço como um italiano viajado e mais flexível. “No fundo acaba por ser a nossa interpretação da província na cidade. Foi isso que serviu de inspiração”, diz. Curiosamente, para a primeira campanha publicitária foi feita uma sessão fotográfica no restaurante em que os modelos foram um porco, uma galinha e uma cabra.

O restaurante abriu as portas a 21 de outubro © DR

O espaço

O Província, ainda a cheirar a novo, ocupa os metros quadrados de uma antiga pastelaria/cafetaria chamada Varandas da República. Quando o grupo o adquiriu ainda existiam, no interior, claras referências à anterior gestão, como a luz intensa, a pedra amarela e preta e os múltiplos espelhos. Cerca de três meses de obras transformaram em absoluto o restaurante que faz usufruto das dicotomias, em particular da fusão entre o cosmopolita e o rural.

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Mármores de Estremoz, madeiras e porcelanas são referências notórias ao campo português, comenta Inês Moura, a arquiteta que idealizou o interior do Província (bem como do Memória). O chão azul transporta os clientes para as barras azuis das casas caiadas que existem no campo e as duas ilhas de pedra, que dominam o espaço, pretendem representar “a viagem que uma pessoa faz à província, onde sabe que vai comer bem”. Candeeiros de cerâmica e azulejos pintados à mãos, abajures feitos de tecido e pratos escolhidos a dedo, que remetem para a loiça nas casas das avós, complementam o cenário.

Candeeiros de cerâmica pintados à mão fazem parte da decoração © DR

O jogo de volumetrias é ponto assente, com o bar — todo ele trabalhado em mármore rosa de Estremoz — a ganhar uma posição de destaque, e os assentos de diferentes tamanhos a contribuírem para a sensação de deslocação. Aliás, a passagem entre a sala principal e a zona da casa de banho e da cozinha é um “choque total”, continua a arquiteta de interiores. O corredor espelhado que unes as áreas distintas reflete a passagem entre o campo e a cidade, com esta última a ser representada pelo aço predominante na cozinha de ar industrial.

A comida

O grupo Non Basta faz viagens regulares a Itália para perceber o “real deal”, assegura Frederico Seixas. No Província mantêm-se as pizzas e as massas frescas, feitas diariamente no restaurante, e ainda os queijos e os enchidos típicos. No entanto, o mote é fugir à gastronomia tradicional italiana, pelo que as matérias-primas trabalhadas são, por enquanto, essencialmente portuguesas: são exemplo o atum e a lula dos Açores, as ostras de Setúbal, os abanicos de Estremoz ou até os legumes provenientes da horta biológica do grupo.

Se no arranque da refeição é possível escolher o cesto de focaccias (6 euros) a acompanhar o coração de burrata (7 euros), ou ainda entradas como a barriga de atum, bottarga e gremolata (18 euros) ou o carpaccio de vitela, trufa e molho piemontese (14  euros), nos pratos principais há opções como ravioli verde, aipo, mascarpone e cogumelos (14 euros), gnocchi e rabo de boi assado no forno a lenha (16 euros) ou ainda tagliolini, trufa e gema de ovo confitada (18 euros).

Tagliolini, trufa, ovo e gema confitada (©DR)

Chega a sobremesa, as opções dividem-se, por exemplo, entre profiterole com creme de praliné de avelã, gelado de baunilha e chocolate quente (6 euros), bolo de chocolate, caramelo salgado e mascarpone batido com baunilha (7 euros), tarte de noz com caramelo de mel (6 euros) ou tiramisù (6 euros).

Na carta do Província estão ainda cerca de 40 referências de vinhos portugueses, italianos e até franceses ou austríacos, entre tintos, brancos, rosés e espumantes, incluindo opções biológicas. Destaque para o cocktail do mês cuja receita vai variando consoante um sabor sazonal (para dezembro foi escolhida a pera). Não é à toa que Francisco Seixas fala também no Província como um local provável onde beber um copo ao final do dia — ao balcão do bar também não faltam aperitivos, digestivos e licores italianos e nacionais.

O que interessa saber

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Nome: Província
Abriu em: 21 de outubro de 2020
Onde fica: Avenida da República, 48B, Lisboa
O que é: o quarto restaurante do grupo Non Basta
Quem manda: o grupo Non Basta
Quanto custa: o preço médio por refeição é 30 euros (com bebidas)
Uma dica: cocktail do mês, em dezembro o sabor é pera
Contacto: 210 999 604
Horário: quarta a domingo, das 19h às 23h
Links importantes: Instagram e Facebook

“Cuidado, está quente” é uma rubrica do Observador onde se dão a conhecer novos (e renovados) restaurantes.