Muito aconteceu no mundo da Fórmula 1 desde o passado domingo, quando Romain Grosjean saiu praticamente ileso de um acidente arrepiante durante o Grande Prémio do Bahrain em que chegou a pensar-se o pior. De lá para cá, o piloto francês esteve no hospital devido às queimaduras nas mãos mas sempre longe de perigos maiores, Lewis Hamilton testou positivo à Covid-19 e ficou desde logo de fora da corrida seguinte e Mick Schumacher, filho de Michael Schumacher, foi confirmado na Haas e vai estrear-se na Fórmula 1 na próxima temporada.

Pelo meio, ainda existiu a possibilidade de Grosjean competir em Abu Dhabi, na última prova do Mundial 2020, para se despedir da Haas e da Fórmula 1 — mas o francês regressou a casa para se concentrar na recuperação, deixando o volante entregue a Pietro Fittipaldi nas duas derradeiras corridas deste ano. Além disso, a Mercedes anunciou que seria George Russell, que fez toda a temporada na Williams e que faz parte da academia de pilotos do gigante alemão, a substituir Hamilton no Grande Prémio de Sakhir. E para terminar o rol de acontecimentos da última semana de automobilismo, Mick Schumacher sagrou-se este domingo campeão do mundo de Fórmula 2 e despediu-se da melhor maneira da categoria inferior.

O “milagre” de Grosjean antes da vitória de Hamilton: francês despista-se, carro parte ao meio e piloto consegue fugir entre as chamas

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Mas no Bahrain, no mesmo circuito onde Grosjean se despistou com violência mas agora com a renomeação Grande Prémio de Sakhir, todos os holofotes estavam mesmo virados para George Russell. O jovem piloto de 22 anos, que faz parte da geração de Leclerc, Albon e Norris, passou um ano inteiro a procurar um único ponto para a Williams, algo que acabou por não conseguir, e parecia agora ser recompensado pelo talento que demonstrou ao longo de toda a época. Ia conduzir o carro do campeão do mundo, ia conduzir o carro mais rápido da grelha e ia ter a enorme oportunidade de, bem longe de conseguir um ponto, chegar mesmo a uma vitória num Grande Prémio.

“Não foi assim que imaginei a minha primeira oportunidade num carro da Mercedes, claro que são circunstâncias muito estranhas. Este ano tem sido louco em todos os prismas, não apenas para mim — há problemas muito maiores no mundo inteiro –, mas numa perspetiva mais pessoal, em termos de carreira, tem sido para cima, para baixo, para a esquerda, para a direita, para o meio e este foi apenas mais um twist na história. Ainda parece um pouco surreal e nos próximos anos vou olhar para 2020 e dizer: ‘Que ano inacreditável'”, disse o inglês, que explicou depois que a maior dificuldade tinha sido entrar no carro, já que o monolugar da Mercedes é feito à medida de Lewis Hamilton e Russell é dez centímetros mais alto do que o campeão do mundo.

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“Tive de me espremer muito para entrar no carro. Os meus pés tamanho 45 complicaram tudo por isso vou ter usar um tamanho mais pequeno. É algo desconfortável mas tenho a certeza de que vou conseguir aguentar a dor para ter esta oportunidade (…) Não estou a colocar pressão adicional em mim mesmo. Vou para lá e vou aproveitar, não há objetivos, não há expectativas por parte da Mercedes, porque não podem julgar alguém por uma única corrida”, garantiu George Russell.

O piloto britânico foi o mais rápido da grelha durante grande parte da qualificação mas acabou por garantir o segundo lugar da grelha, atrás de Valtteri Bottas e à frente de Max Verstappen. Charles Leclerc foi mesmo a surpresa do apuramento, alcançando a quarta posição do grid, seguido por Sergio Pérez, Daniil Kvyat e Daniel Ricciardo. No arranque, Russell saiu melhor do que Bottas e agarrou a liderança do pelotão; no ataque ao segundo lugar, Verstappen, Pérez e Leclerc envolveram-se num acidente que deixou desde logo os pilotos da Red Bull e da Ferrari fora da corrida e que atirou o da Racing Point para a cauda da corrida.

Sergio Pérez empreendeu uma autêntica corrida de escalada, a subir pelo pelotão a cada volta, e pouco depois da hora de corrida já estava no pódio, após passar por Stroll e Ocon. Tudo mudou, porém, já depois das 60 voltas e com uma dupla paragem desastrosa por parte da Mercedes: Russell trocou médios por duros mas os pneus colocados não eram os do seu carro e teve de voltar à box para corrigir o erro; os mecânicos demoraram uma eternidade a tentar montar médios no carro de Bottas, não conseguiram e o finlandês saiu novamente com duros. No regresso à pista, Russel caiu para quinto, Bottas para quarto e Pérez assumiu o comando da corrida, seguido por Ocon e Stroll.

A Mercedes colocou claramente todas as esperanças no piloto britânico, que ultrapassou Bottas com demasiada facilidade e conseguiu chegar ao segundo lugar, partindo para a perseguição a Pérez. O dia, contudo e apesar e todas as indicações, não era de George Russell. O jovem piloto sofreu um furo, teve de parar novamente e regressou já na cauda do pelotão, oferecendo praticamente numa bandeja a vitória a Sergio Pérez. O mexicano de 30 anos alcançou a primeira vitória da carreira na Fórmula 1, tornou-se o piloto da história que mais tempo competiu na prova rainha do automobilismo até ganhar e estragou o dia de Russell para conquistar o seu. Assim, na penúltima prova do Mundial 2020, ganhou um piloto que ainda não tem lugar em nenhum equipa na próxima temporada e que pode perfeitamente despedir-se da Fórmula 1 no próximo domingo, na derradeira etapa, em Abu Dhabi.

Atrás de Sergio Pérez, Ocon foi segundo (garantindo a melhor classificação da Renault) e Stroll fechou o pódio, confirmando o duplo pódio da Racing Point ao terminar à frente de Carlos Sainz e Daniel Ricciardo. Mais atrás, George Russell acabou em nono, logo a seguir a Bottas, e conquistou três pontos, dois pela classificação e um pela volta mais rápida. O piloto britânico angariou os primeiros pontos da carreira, que perseguiu durante todo o ano mas que não deixam de ter um sabor amargo no dia em que poderia ter subido ao lugar mais elevado do pódio.